Alemanha questiona entrada da Croácia na UE

O ingresso da Croácia na União Europeia está previsto para o ano que vem, mas depois que um recente relatório de progresso expôs áreas com problemas, vários importantes conservadores alemães colocaram o cronograma em dúvida. A UE, eles argumentam, não precisa de outra Romênia.

A novela política da Romênia é dolorosa de ser assistida. Um primeiro-ministro e presidente que mal se falam, déficits democráticos sérios o bastante para merecerem um alerta de Bruxelas e uma moeda em queda livre, à medida que os investidores evitam o país como a peste. A situação tem sido um embaraço para a União Europeia.

Os problemas da Romênia também estão se transformando em um obstáculo para outros países. A Croácia está ávida em ingressar na UE e isso está marcado para ocorrer em 1º de julho de 2013. Mas com a UE apontando várias áreas em que a Croácia precisa apresentar progresso antes de seu ingresso, parece crescer o ceticismo na Alemanha sobre se o país estará pronto.

“Os exemplos da Romênia e da Bulgária mostram que a expectativa de que os problemas serão resolvidos mais facilmente depois da conclusão da adesão à UE não funciona na prática”, disse Norbert Lammert, presidente do Parlamento alemão e membro da União Democrata Cristã (CDU) da chanceler Angela Merkel, para a “Spiegel”. “Nós não podemos cometer o mesmo erro duas vezes.”

Lammert não tem sido tímido em expressar suas preocupações com a Croácia desde a divulgação do mais recente relatório de monitoramento da UE em 10 de outubro. Mas ele foi acompanhado recentemente por outros políticos alemães. Em relação à Croácia, disse Ruprecht Polenz, que preside o Comitê de Relações Exteriores do Parlamento alemão, o ingresso do país não pode ser baseado na esperança de futuras melhorias.

‘Um exemplo político’
As vozes do outro lado do espectro político também têm sido críticas. “Nós temos que estabelecer um exemplo com a Croácia”, disse Michael Roth, um membro social-democrata do Parlamento Europeu. Zagreb deve promover as melhorias rapidamente “ou o Bundestag não deverá ratificar o tratado de adesão”, à “Spiegel”.

O relatório de progresso de 10 de outubro foi, de modo geral, positivo a respeito dos passos dados pelos croatas em preparação para a entrada na UE. Mas Bruxelas também apontou 10 áreas onde ainda precisam ocorrer melhorias, incluindo a aceleração da privatização e melhorias no Judiciário. Também reflete uma crescente preocupação em Bruxelas, Berlim e outros lugares de que o governo croata do primeiro-ministro Zoran Milanovic está fazendo corpo mole nas reformas necessárias para ingresso na UE.

Até mesmo Doris Pack, uma alemã que faz parte do Parlamento Europeu e da CDU, alertou Zagreb. Há muito tempo apoiadora da adesão croata, ela disse ao jornal croata “Jutarnji List” neste mês que o relatório de expansão da UE “é uma mensagem clara que não deve surpreender o governo croata. Vocês precisam se esforçar mais para atender as condições. Não percam tempo”.

Ainda assim, apesar da pressão aplicada em Zagreb pelos políticos alemães, parece improvável que a adesão croata não ocorrerá. O país fez avanços imensos nos últimos anos e a maioria espera que a ratificação da adesão ocorra como planejado no ano que vem.

‘Nenhum motivo para pânico’
Mas ainda resta mais um relatório de progresso a ser realizado, que será divulgado no ano que vem. E até mesmo os políticos croatas parecem estar ficando nervosos. Miroslav Kovacic, um membro da equipe de negociação do país, disse recentemente ao “Financial Times” que as críticas de Berlim “são um sinal sério para o governo croata”. Ele disse que frequentemente cabe à Alemanha alertar Zagreb quando melhorias precisam ser feitas.

“A julgar pelo processo de adesão até o momento”, ele acrescentou, “o governo está bem posicionado para fazer o que for necessário até 1º de julho do ano que vem. Mas ele precisa se concentrar mais do que fez até o momento. Resumindo, não há motivo para pânico, mas as críticas alemãs também não são uma brincadeira”.

Lammert, por sua vez, parece estar preocupado com a expansão da UE de modo geral e insinuou para a “Spiegel” que pode ser favorável a uma moratória na expansão. “Vale a pena pensar sobre se um relatório anual de progresso do estado interno da UE não faria mais sentido”, ele disse. “Isso poderia abrir alguns olhos para problemas que passaram anos sem ser resolvidos.”