Jean-Claude Juncker, premiê de Luxemburgo |
Luxemburgo, com uma população de mais de 524 mil habitantes, é membro fundador da Organização das Nações Unidas (ONU). Jean Asselborn, seu ministro das Relações Exteriores, está lutando para garantir ao país um assento temporário no Conselho de Segurança da ONU. "Quando fazemos política externa", ele argumenta, "Não o fazemos com nenhuma intenção oculta". Mas será que o grão-ducado é grande o suficiente para abocanhar essa função? Luxemburgo? O guarda de segurança norte-americano franze sua testa, como se ouvisse o nome dessa pequena nação europeia pela primeira vez. "Todos para fora", ele diz ao motorista do sedan prata. Perguntado se esse comando se aplicava também ao ministro, o guarda responde: "Que ministro?"
Os motorista aponta para um homem de bigode e cabelo bem-arrumado. "Todos", repete o guarda. Jean Asselborn, ministro das Relações Exteriores e vice-primeiro-ministro do Grão-Ducado de Luxemburgo, levanta-se do banco do passageiro e comenta: "Eles são todos um pouco malucos aqui".
É segunda-feira da semana passada, um dia antes do início da abertura da 67ª Assembleia-Geral anual das Nações Unidas, em Nova York: Ahmadinejad, o presidente iraniano, está na cidade – e o presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, e primeiro-ministro israelense, Netanyahu, também declararam sua intenção de comparecer ao evento. Ruas inteiras estão fechadas e a entrada em muitos hotéis requer uma revista de corpo inteiro – esta é a cidade de Nova York sob circunstâncias extraordinárias.
Um cão farejador de bombas chega saltitando espalhafatosamente, os guardas não conseguem abrir o capô do carro e já são quase 20h. "Senhor, eles estão nos aguardando", Asselborn diz a um dos guardas, mas o homem nem sequer olhar para ele.
O fato de esses homens não tratarem Asselborn como o ministro de estado que ele é parece incomodá-lo menos do que a possibilidade de chegar atrasado para seu jantar, durante o qual ele pretende fazer campanha em nome de seu país diante de aproximadamente 25 de seus colegas de toda a Europa e do Oriente Médio. Esta é a fase final da candidatura de Luxemburgo para obter um dos assentos não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que deverão ser distribuídos para mais um mandato de dois anos no final deste mês.
Um pouco mais tarde, Asselborn está em pé no terraço de uma cobertura com vista para o East River, com a sede da ONU atrás de si e um copo de água na mão – o jantar em questão será realizado no International Peace Institute (Instituto Internacional da Paz). O diplomata norueguês Terje Rod-Larsen, presidente desse grupo de troca de ideias sem fins lucrativos, organizou as negociações secretas entre Israel e a Palestina na década de 1990, que levaram aos Acordos de Oslo. "Jean é uma pessoa especial", diz Rod-Larsen sobre o ministro de Luxemburgo. "Todo mundo gosta dele".
Essa declaração pode soar um pouco exagerada. O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, passa direto por Asselborn ao entrar na sala, enquanto o ministro das Relações Exteriores da Suécia, Carl Bildt, cumprimenta o luxemburguês com as seguintes palavras: "Ah, o grande império do Luxemburgo!".
Asselborn é o ministro das Relações Exteriores que está há mais tempo no cargo na União Europeia, mas muitos ainda parecem não levar muito a sério esse político de 63 anos de idade. Isso se deve, em parte, ao fato de Asselborn raramente fazer pronunciamentos importantes. Ele também é ofuscado por seu primeiro-ministro.
No momento, porém, o primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, está ocupado demais lidando com a crise do euro para ter tempo de lidar com as questões de política externa. A abertura que isso cria para Asselborn não é grande, mas ele faz bom uso dessa oportunidade. E o ministro das Relações Exteriores de Luxemburgo não é um homem inclinado a utilizar expressões diplomáticas convencionais. Nesta noite em especial, enquanto a maioria dos participantes do jantar falam sobre a Síria e sobre os protestos dos fundamentalistas islâmicos, Asselborn alerta para que o conflito palestino não seja esquecido. Os colegas europeus abanam suas cabeças ao ouvir os comentários de Asselborn, mas sua maneira direta lhe rendeu amigos no restante do mundo.
Quando criança, Asselborn queria ser leiteiro. Seu pai trabalhava em uma siderúrgica. Depois de concluir o ensino secundário, Asselborn trabalhava em turnos durante o dia e fez o curso de qualificação para entrar na universidades à noite. Posteriormente, ele estudou direito. Depois de 22 anos como prefeito de Steinfort (população de 4.500 habitantes), ele se tornou ministro das Relações Exteriores de Luxemburgo em 2004. A entrada para o Conselho de Segurança da ONU seria o coroamento de sua carreira política – e esse é um objetivo no qual o socialdemocrata vem trabalhando durante os últimos oito anos. As candidaturas para esse tipo de posição são, muitas vezes, definidas bem antes – a ONU, por exemplo, já recebeu o pedido da Síria para o ano de 2038.
"Nós não carregamos o peso de um legado colonialista”
Obter um assento no Conselho de Segurança da ONU depende do número de acordos bilaterais bem-sucedidos firmados pelo país solicitante, o que exige, muitas vezes, prometer apoio à candidatura de outros países e, às vezes, prometer mais auxílio financeiro para o desenvolvimento desses outros países. A abordagem de Asselborn tem se concentrado em linhas específicas de argumentação. "Nós somos um membro fundador da Organização das Nações Unidas e, apesar disso, nunca ocupamos um assento no Conselho de Segurança", diz ele. "E não carregamos o peso de um legado colonialista. Quando fazemos política externa, não temos nenhuma intenção oculta".
Asselborn voou ao redor do mundo, participou de conferências na África e aceitou convites incomuns. Certa vez lhe serviram um olho de ovelha. "Eu só pensei: feche os olhos e engula”, disse ele sobre essa experiência. Depois disso, Asselborn, que, geralmente não toma bebidas alcoólicas fortes, pediu uma vodca.
Em 18 de outubro, Asselborn saberá se todo o seu esforço valeu a pena. Ele precisa dos votos de pelo menos 129 dos 193 países-membros da ONU a fim de ganhar um assento no Conselho de Segurança – pelo qual Luxemburgo concorre contra a Finlândia e a Austrália.
Ficou tarde e o ministro das Relações Exteriores está em pé no terraço, com o arranha-céu onde se localiza a sede das Nações Unidas projetando-se diante do céu noturno por trás dele. Mesmo que Asselborn não consiga alcançar seu objetivo, ele diz que, pelo menos, foi capaz de aumentar o nível de conhecimento sobre seu país.
Em seguida, ele aponta para baixo, em direção à praça em frente ao prédio da ONU, local onde se encontra uma famosa escultura de bronze que mostra uma arma enorme com seu cano amarrado em um nó. A arma amarrada se tornou um símbolo da ONU, mas poucas pessoas sabem de um fato pouco conhecido: a escultura foi um presente daquele pequeno país conhecido como Luxemburgo.
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