Roberto Lopes se vale de cartas e documentos para condensar histórias do período em sua nova obra
Capa do livro "Diplomatas e Espiões" |
O jornalista Roberto Lopes, 59, faz um recorte bem específico desse quadro em "Diplomatas e Espiões" (Discovery). Especializado em assuntos de defesa, o autor publicou em 2008 "Missão no Reich, Glória e Covardia dos Diplomatas Latino-americanos na Alemanha de Hitler".
Nesse seu novo livro, Lopes recupera cartas, mensagens e documentos tentando condensar algumas histórias do período. Como a do diplomata Fernando Nilo de Alvarenga, 2º secretário da embaixada do Brasil em Berlim, que quis aproximar o governo Hitler de Francisco Campos, ministro da Justiça e dos Negócios Interiores de Vargas.
Alvarenga também ajudou na aproximação de Lutero Vargas com a alemã Ingeborg Tem Haeff. O primogênito do presidente brasileiro complementava os estudos em medicina na Alemanha quando conheceu a futura mulher numa festa às margens do lago Wansee, nos arredores de Berlim.
Ingeborg morava com a mãe, uma viúva empresária. A família queria distância dos nazistas. Mas o fato de o filho de Vargas namorar uma alemã às vésperas da guerra gerou preocupação no governo.
Até que Vargas ordenou a volta imediata de Lutero, que se casou com Ingeborg no Palácio da Guanabara em 1940.
O "cupido" Alvarenga também voltou ao Brasil para trabalhar no Palácio do Catete. Manteve contatos com Albrecht Engels, alemão que aportou no Brasil nos anos 1920 para trabalhar na Siemens.
Entre 1939 e 1942, Engels chefiou uma equipe de informantes a serviço da Alemanha no Brasil que chegou a ter 50 pessoas.
Funcionários norte-americanos, em colaboração com brasileiros, apontaram Alvarenga como espião. A embaixada dos EUA queria cooptar o brasileiro ou exigia sua prisão. Mas Alvarenga acabou promovido. Lopes crê que Lutero Vargas agiu nesse caso.
Paralelamente, conta o jornalista, Washington colocou o milionário Nelson Rockefeller para atrair o jovem casal Vargas. Quando o casamento já naufragara, Ingeborg recebeu uma bolsa da Fundação Rockefeller para estudar arte contemporânea na Escola Juilliard.
A guerra se desenrolava e os EUA monitoravam a repercussão das vitórias alemãs nos quartéis brasileiros. Lopes conta passagens curiosas. Como a que mostra a preocupação do FBI com as alegadas inclinações nazistas de dona Santinha, mulher de Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerra de Getúlio, que já declarara guerra ao Eixo.
Na transcrição de telegramas, aparece o caso de Silvio Romero Filho, cônsul brasileiro aposentado.
Segundo mensagem de alemães no Brasil, ele tinha aceitado colaborar com o Reich, contra uma "remuneração pequena" e "instalação telegráfica". A contraespionagem norte-americana detectou a mensagem, que afirmava ao final: "A fim de indicar a confirmação deste telegrama, toque no próximo programa alemão em ondas curtas, às 23h45, a Marcha da Cavalaria Finlandesa".
Relatos assim dão vivacidade ao livro, mas o conjunto talvez tenha preocupação excessiva em transcrever fragmentos de correspondências e documentos. Isso acaba travando a leitura em certos trechos. A obra tenta compactar um número enorme de informações, o que não é tarefa fácil.
As idas e vindas do texto no tempo não ajudam a tornar o conteúdo mais didático. Focando em minúcias, o autor deixa sem ênfase o contexto mais geral.
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