Hitler com seu cão |
Um debate surgiu na minúscula cidade austríaca de Braunau sobre o que fazer com o prédio onde Adolf Hitler nasceu. O prefeito disse que deseja que ele se torne um prédio residencial, mas muitos prefeririam que se transformasse em um memorial. A propriedade está vazia há mais de um ano.
O prédio, por ora, está vazio. Mais recentemente, ele foi usado como uma oficina operada por uma organização de caridade para deficientes físicos. Mas o grupo se mudou há um ano e desde então pouco aconteceu no Nº 15 da Salzburger Vorstadt.
Nesta semana, entretanto, o endereço se viu no centro de um debate acalorado sobre seu futuro. Afinal, a estrutura fica localizada na minúscula cidade de Braunau am Inn, na fronteira da Áustria com a Alemanha. E é o local onde Adolf Hitler nasceu em 20 de abril de 1889.
O debate teve início na semana passada, quando o prefeito de Braunau, Johannes Waidbacher, insinuou em uma entrevista para o jornal austríaco "Der Standard" que era favorável a usar a propriedade apenas como prédio residencial. "Certamente seria mais fácil transformar o local em apartamentos", ele disse.
Waidbacher não parou aí. Dizendo estar "aberto a muitas ideias", ele acrescentou: "também é preciso se perguntar sobre se um memorial adicional do Holocausto faz sentido quando já existem muitos na área. De qualquer forma nós já estamos estigmatizados. Hitler passou os três primeiros anos de sua vida aqui em nossa cidade. E certamente não foi a fase mais formativa de sua vida. Assim, nós em Braunau não estamos preparados para assumir a responsabilidade pelo estouro da Segunda Guerra Mundial".
Os comentários de Waidbacher, sem causar surpresa, não foram universalmente bem recebidos. Políticos locais exigiram que o local fosse transformado em algum tipo de memorial e a reação no exterior também deixou claro que simplesmente ignorar a história do prédio não cairia bem.
"Um assunto difícil"
De fato, a reação foi tamanha que Waidbacher recuou de sua preferência de transformar o edifício em um prédio de apartamentos. Ele disse nesta semana ao jornal alemão "Frankfurther Allgemeine Zeitung" que "é preciso que haja uma proposta que todos os envolvidos possam aceitar", reconhecendo ser "um assunto difícil".
Por anos, foi um assunto fácil de ignorar. O prédio, de propriedade privada, é alugado pelo Ministério do Interior da Áustria e sublocado para a cidade de Braunau. Diante do assassinato sistemático de deficientes físicos por Hitler durante o Terceiro Reich, muitos sentiam ser adequado dedicar o local de seu nascimento para ajudar pessoas com deficiências físicas. Parecia não haver necessidade de discussão sobre a transformação da estrutura de três andares em um museu.
Mas agora que a entidade de ajuda se mudou, muitos estão se voltando para uma proposta feita anos atrás pelo historiador local Andreas Maislinger, que ajudou a fundar a Sociedade para História Contemporânea de Braunau em 1993. Em 2000, ele apresentou um plano para fundar o que chamou de "Casa da Responsabilidade" no local. Ele prevê uma exposição histórica em combinação com uma entidade de serviços sociais e projetos para promoção do entendimento intercultural.
"O prefeito diz apoiar a ideia, mas ele está um tanto hesitante", diz Maislinger. "É normal que as pessoas em Braunau não queiram pensar o tempo todo em Hitler. Se você olhar para Berlim, as pessoas não ficam pensando o tempo todo no fato de Hitler ter tomado suas decisões lá. É uma cidade grande. Mas em cidades menores, como Dachau, por exemplo, é mais difícil. E Braunau é ainda menor que isso. É possível entender, mas ainda assim, há muitas pessoas que concordam com o conceito."
"Algo precisa acontecer"
E o prédio, parte de um conjunto de estruturas mais antigas que são protegidas desde o início do século 20, não vai a lugar nenhum, apesar das propostas periódicas de simplesmente demoli-lo e encerrar o assunto.
Na época do nascimento de Hitler, ele era uma pensão, e seu pai, Alois, e sua mãe, Klara, não permaneceram ali por muito tempo, se mudando para Passau em 1892. Mas após a anexação da Áustria pela Alemanha, o Partido Nazista passou a ter interesse no prédio. Em 1938, o secretário particular de Hitler, Martin Bormann, o comprou na esperança de algum dia transformá-lo em um monumento semelhante aos locais de nascimento de Stálin e Mussolini. Depois da guerra, os Estados Unidos queriam transformá-lo em uma exposição dos horrores do Holocausto.
Mas em 1952, o prédio foi comprado de volta pela família que o vendeu em 1938 -e isso continua sendo o principal obstáculo para qualquer plano para seu futuro. A família não demonstra nenhum interesse em vender a propriedade. De fato, como reconhece Maislinger, o atual debate provocado pelo prefeito permanecerá acadêmico até que o prédio mude de mãos.
Mas Maislinger está otimista de que isso algum dia ocorrerá. "Algo precisa acontecer ao imóvel. Ele simplesmente não pode permanecer ali vazio pelos próximos 10 anos", ele diz. "Ser dono de um imóvel também envolve responsabilidade. E se há alguma conexão histórica, independente de que tipo ela seja, essa responsabilidade é ainda maior."
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