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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Veleidades reformistas do rei Abdallah II da Jordânia


Abdallah II da Jordânia


Haveria uma exceção monarquista na “primavera árabe”? Assim como Mohammed 6º no Marrocos, o rei Abdallah II da Jordânia tem enfrentado pressão popular, dominada pelos islamitas. Tanto no reino xarifiano quanto no hachemita, as exigências do povo são parecidas: profundas reformas políticas, fim de um sistema de governo tomado pela corrupção, limitação de poderes do soberano. No Marrocos, Mohammed 6º se adiantou ao organizar eleições livres, que levaram os islamitas ao poder.

Na Jordânia, Abdallah II tem recorrido a subterfúgios. O reino ainda aparece como um bolsão de estabilidade dentro de um Oriente Médio aonde os autocratas vão caindo um após o outro, mas a questão é saber se ele conseguirá se manter no poder contentando-se com meias medidas. Ele certamente possui uma relativa proteção contra as borrascas políticas: se os marroquinos reconhecem seu soberano como o comandante dos fiéis, os jordanianos veem em Abdallah II o 43º descendente do profeta Maomé.

Isso significa que a população não está pedindo – em teoria - , pelo fim da monarquia. Talvez ainda menos no reino hachemita, onde o rei continua sendo o garantidor da simbiose entre os de origem transjordaniana (as tribos) e jordanianos de origem palestina, que representam uma maioria dos 6,4 milhões de habitantes.

Essa fragilidade é, paradoxalmente, um elemento de estabilidade, com a qual conta Abdallah II. Se os movimentos islâmicos não questionam a base da monarquia, é sobretudo porque os exemplos egípcio e sírio servem como um bicho-papão: um movimento de protestos que virasse uma revolução provocaria um caos na Jordânia, que poderia degringolar para uma guerra civil. Mas o rei deve levar em conta as reivindicações islamitas que se exprimem em uma menor escala desde meados de 2010.

Foi essa preocupação que o levou a operar uma reaproximação com o Hamas e o líder de seu braço político, Khaled Meshaal, recebido pelo soberano no dia 29 de janeiro. Embora esse encontro oficial tenha sido o primeiro desde que os dirigentes do Movimento da Resistência Islâmica foram expulsos da Jordânia, em 1999, os laços entre o Diwan (“o gabinete do rei”) e o Hamas nunca foram rompidos.

Ambos estão ansiosos para iniciar um processo virtuoso, ou seja, gradual, que não coloque Abdallah II em uma posição difícil com Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, os americanos e Israel. O escritório político do Hamas acabou de deixar Damasco, onde a convivência com o presidente Bashar al-Assad se tornou impossível, e ele quer se reposicionar no Cairo e em Amã. Os Estados Unidos, que iniciaram no Egito contatos com a Irmandade Muçulmana (de onde saiu o Hamas) e os salafistas, não parecem estar preocupados com essa aproximação com um movimento “terrorista”.

Washington vê Abdallah II como uma fortaleza contra um avanço do islamismo radical, e a Jordânia deve estar reforçada em seu papel de Estado-tampão entre Israel de um lado, e a Síria, o Iraque, a Arábia Saudita e o Egito, do outro. O apoio americano não vai diminuir, portanto: a ajuda econômica e militar chega a US$ 660 milhões (R$ 1,13 bilhão) em 2012.

Washington, cuja diplomacia para o Oriente Médio se encontra em suspenso por causa da campanha presidencial, estima ainda mais seu protegido pelo fato de este assumir o papel ingrato de mediador nas negociações entre Israel e Palestina. O rei pode assim enfatizar a seus súditos nascidos na margem ocidental do Jordão que ele tem trabalhado pela causa palestina, o que contribui para acalmar o afã reivindicador da Frente de Ação Islamita (FAI).

Toda sexta-feira costumam ocorrer manifestações em Amã e em diversas cidades do reino. Abdallah II mantêm presas algumas personalidades para mostrar que ele combate, de maneira temerosa, a corrupção, além de libertar alguns salafistas, controlar a liberdade de expressão e trocar de primeiro-ministro (três em um ano). Quanto ao resto, o rei e seu Diwan governam segundo a tradição, mantendo a fidelidade das tribos através de remunerações.

“Os americanos” garante um alto diplomata ocidental em Amã, “são compreensivos; eles sabem que os transjordanianos são fundamentalmente conservadores, e que os ‘palestinos’ querem, sobretudo continuar a ganhar dinheiro”. Estaria Abdallah II protegido de uma reviravolta de Washington? O exemplo do ex-presidente egípcio Hosni Mubarak faz pensar o contrário: os Estados Unidos abandonarão Abdallah II no dia em que a pressão islamita se tornar irresistível.

Mas o ambiente geoestratégico da Jordânia tem se degradado. No Leste, a saída das tropas americanas do Iraque irá aumentar muito a influência xiita, e portanto iraniana, na região; ao Norte, o reino hachemita logo seria desestabilizado por um afluxo de refugiados escapando de uma guerra civil na Síria; a Oeste, a chegada ao poder da Irmandade Muçulmana e dos salafistas egípcios contribuirá para encorajar seus irmãos jordanianos. Resta Israel, que decidiu se prevenir de infiltrações islamitas ao construir uma barreira de segurança sobre 200 quilômetros de fronteira jordaniana.

O Oriente Médio tem mudado rápido, muito mais rápido que as veleidades reformistas de Abdallah II. O descendente de Maomé deveria se inspirar no pragmatismo do comandante dos fiéis. Enquanto ainda há tempo.

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