Na ordem: Dilma Rousseff, Hu Jintao e Manmohan Singh |
A ascensão dos países do Sul, cujo crescimento médio chega a 5,2% desde 1990, faz com que eles correspondam a 52% da produção industrial e 36% do comércio mundial. Ela permitiu a emergência de uma nova classe média de 1 bilhão de pessoas e a redução de 28% da diferença de riqueza por habitante em relação ao Norte desde 1990.
Ao mesmo tempo, as desigualdades internas se aprofundaram. A China, que em trinta anos se tornou a segunda maior potência econômica, é o país com maior desigualdade social do mundo, junto com a Rússia. No mundo desenvolvido, a desregulamentação e as diminuições de impostos favoreceram um deslocamento do valor agregado para o capital, que beneficiou os mais favorecidos.
Nos Estados Unidos, a renda do 1% mais rico aumentou 300% desde 1980, contra 40% da renda média, e a diferença entre a remuneração de diretores de empresa e de funcionários de base aumentou dez vezes. Paralelamente, reforçaram-se as desigualdades de status e de competências, com o recuo da integração e a degradação de desempenhos dos sistemas educativos. Disso resultou um bloqueio da mobilidade social.
O crescimento das desigualdades, aceitável em período de forte crescimento e de pleno emprego, se tornou insuportável com a crise e com a instalação de um desemprego em massa, que atinge quase 15% da população ativa nos Estados Unidos e na Europa se houver inclusão do trabalhadores desencorajados.
Do lado dos países emergentes, a reestruturação dos modelos econômicos para o mercado interno implica o desenvolvimento do consumo.
Do lado dos países desenvolvidos, a austeridade e a recuperação da competitividade requerem a justiça social, que constitui também o melhor antídoto para a mudança das classes médias, aniquiladas pela deflação, na direção do populismo.
O combate às desigualdades se afirma, portanto, como uma das chaves para se sair da crise. A China colocou no centro de seu 12º Plano Quinquenal a aterrissagem suave de seu hipercrescimento em torno de 7%, uma vez que o desinflar das bolhas especulativas anda de mãos dadas com um desenvolvimento mais harmonioso da sociedade e dos territórios.
Os movimentos sociais a favor de um aumento dos salários e de uma melhoria nas condições de trabalho se multiplicam nos países emergentes. Nos Estados Unidos, a consolidação da retomada permanece subordinada ao restabelecimento das finanças públicas, que passa por um aumento de impostos (25% do PIB contra 35% na Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômicos). Por fim, a crise do euro, que continua a criar uma ameaça de depressão mundial, impõe um contra-ataque ao crescimento a crédito nos Estados superendividados, mas também à divergência explosiva entre a Europa do Norte e a do Sul.
Sobrevivência do capitalismo
A sobrevivência do capitalismo universal dependerá de sua capacidade de responder aos riscos sistêmicos e às desigualdades que ele gera. No plano mundial, isso passa pela resistência à lógica do desenvolvimento separado e ao protecionismo, que romperiam o crescimento mundial e o desenvolvimento do Sul, sobretudo da América Latina e da África (5,2% e 6% de crescimento anual desde 2000).
O acesso de 7 bilhões de pessoas aos recursos do planeta, sobretudo aos bens comuns que são a água, o ar, mas também às redes de informação, deverá ser garantido.
O setor financeiro deverá ser regulado – mas não reprimido – para que ele volte a servir ao financiamento da atividade econômica, sobretudo do investimento e da inovação, ao mesmo tempo em que evita a volta das bolhas financeiras e controlando a espiral infernal das dívidas privadas e públicas.
O restabelecimento do equilíbrio do desenvolvimento dos países emergentes na direção da demanda interna foi iniciado. Nas democracias desenvolvidas, a redução da dívida pública – que não é nada além de um imposto sobre os pobres e as gerações futuras – implica o corte prioritário dos gastos e um aumento das deduções.
Mas a austeridade não deve erradicar o crescimento, a não ser que coloque em risco o mecanismo da recessão, da pauperização e do desemprego, hoje em andamento na Grécia. A perenidade da zona do euro, e do financiamento dos Estados que a compõem, depende não somente do controle dos orçamentos como também do restabelecimento da atividade e da competitividade da Europa do Sul.
A luta contra as desigualdades é indissociável do crescimento, ele mesmo associado à modernização dos modelos econômicos, bem como à ativação das políticas sociais para romper a reprodução da pobreza e favorecer a mobilidade, em primeiro lugar pelo acesso ao conhecimento. Assim como a Suécia, que mostra um crescimento de 4% e um quase pleno emprego, investe 4,2% do PIB em pesquisas, consegue um excedente orçamentário de 1,8% do PIB depois de ter reduzido a dívida pública de 83% para 32% do PIB em quinze anos.
Quanto mais elevado for o nível de vida e de segurança das nações, das empresas e dos cidadãos, mais ele exige a permanente reinvenção deles. A redução das desigualdades depende da capacidade de reformar para instaurar uma nova norma de produção com base na inovação, um pacto social que associe flexibilidade e segurança, contratos políticos que unam solidariedade e responsabilidade.
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