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sexta-feira, 7 de março de 2014

'Filhos' do culto soviético, jovens ucranianos de Kharkiv se mantêm passivos diante da crise

Valeria Doloman sonha com a Europa, com justiça e democracia. Ela acha "genial" que "a Ucrânia esteja se rebelando" e assumindo as rédeas de seu destino. Valeria é uma jovem burguesa, filha de artistas que nunca se resignaram. Valeria não contou a seus pais, mas ela esteve nas manifestações de Kharkiv no dia 22 de fevereiro.
Ao seu lado, na lanchonete da faculdade, sua amiga Natasha Martinowa não teve essa temeridade. Ela não sabe muito bem o que pensar dessa manifestação popular "vinda do Oeste". As pessoas mortas, os "nacionalistas" e os agitadores a assustam. "Não é um bom jeito de fazer as coisas. As pessoas destruíram Kiev. Além disso, tenho meus estudos", explica essa bela loira de maçãs do rosto pronunciadas. "Disseram que os estudantes que fossem protestar seriam expulsos."

Valeria tem 18 anos, Natasha tem 17. Ambas estão no primeiro ano de letras na Universidade de Kharkiv, no leste da Ucrânia. Nessa cidade, protestar não é um direito, mas sim um risco. A primeira, falante, já viajou muito. A segunda, discreta, imagina para si um futuro na Sibéria, em Tiumen, onde mora seu pai. Valeria e Natasha estão irritadas com a corrupção e a falta de liberdade em Kharkiv. Mas uma quer agir, a outra não.

Nessa cidade russófona, os jovens não são tão vingativos quanto em Kiev. Aqui, os menores de 20 anos estão divididos entre um passado soviético que ninguém quer apagar e um futuro que eles sofrem para imaginar. A Europa, afastada, é ao mesmo tempo idealizada e demonizada. Todo tipo de coisa é dita sobre essa Europa supostamente decadente onde a família não teria mais valores.

"Temos muitas perguntas e poucas respostas", resume Andij Pavlov, estudante de design e arquitetura. "Nos anos 1990, pensávamos que a Europa era um conto de fadas. Agora sabemos que também existem problemas lá. A Ucrânia precisa encontrar seu próprio caminho", diz Vasilisa Shchogoleva, aluna do último ano de arquitetura, e solidária "em pensamento" com os insurgentes da Praça da Independência [Maidan].

Desiludidos, os jovens de Kharkiv não se apropriaram desse movimento. "Não é a revolução deles", resume Hordjs Clemmensen, uma jovem estudante de antropologia dinamarquesa que veio observar a juventude de Kharkiv entre outubro e fevereiro. "Surpreendentemente, eles estão tranquilos frente a acontecimentos como a ocupação da Crimeia pela Rússia", ela diz.

A maior parte dos jovens tem uma visão confusa. Diante do fluxo de informações contraditórias --pró-russos ou pró-Maidan-- , eles não sabem no que acreditar. "Muitos pensaram que os manifestantes da Maidan eram pessoas incultas, desempregados, pessoas fracas e manipuladas por oligarcas ou políticos", conta a acadêmica. "Aqueles que queriam mudar as coisas estão desencorajados diante do tamanho da tarefa", ela diz.

"Kharkiv é uma cidade peculiar", resume Filon Mykola, professor de línguas, ele mesmo engajado no movimento pró-Maidan. "Aqui, ao contrário do Oeste, a identidade nacional não é bem definida. Os jovens são passivos. Eles amam seu país, mas não estão dispostos a morrer por ele", diz, desolado.

Para explicar essa apatia, o professor menciona de maneira didática quatro pontos: a família que educou seus filhos respeitando o passado; o sistema de informações de Kharkiv, extremamente fechado, que só passa uma imagem enviesada do mundo; a escola, onde a "ideologia" e a pedagogia não evoluíram muito desde a época soviética, segundo ele. E, por fim, o "medo".

Em meados de novembro de 2013, antes que começassem os protestos populares, o professor conta ter afirmado diante de seus alunos que o governo de Yanukovitch era "criminoso". Silêncio na sala. "Eles ficaram chocados!", ele lembra.

Seus estudantes concordavam com suas ideias, mas a maioria não se atrevia a falar a respeito. Em Kharkiv, o prefeito Guennadi Kernes, membro do Partido das Regiões, anti-Maidan, é um homem temido que continua a intimidar. "Você não pode dar um passo para frente ou para trás sem ser punido", diz Vasilisa Shchogoleva.

Na lanchonete da universidade, nenhum cartaz ou pichação, ainda que discreta, permite imaginar aquilo que os jovens de Kharkiv poderiam reivindicar. Parece que lhes falta espontaneidade: eles pensam no futuro deles e, quando a Europa os faz sonhar, é por suas vantagens concretas, como acesso a um sistema de saúde ou o crescimento. Direitos humanos vêm depois. Quanto ao combate à corrupção, já foram tentadas muitas coisas. "Será preciso esperar uma geração ainda para permitir que os jovens se afirmem e tenham a ousadia de desafiar as autoridades", prevê Mykola.

4 comentários:

  1. Ei Michel Medeiros esse texto é seu ou vc o traduziu de algum lugar?

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  2. " ... o sistema de informações de Kharkiv, extremamente fechado, que só passa uma imagem enviesada do mundo; ... "

    Sr. Filon Mykola. O senhor conhece a Mídia no BRASIL? Pois é igualzinha a essa que mencionaste, quer ver?
    1) Não fizeram estardalhaço sobre o julgamento do Mensalão Tucano;
    2) Omitiram que o crescimento econômico do BRASIL (3º Mundial=2,3%) pode atrapalhar o Aecim;
    3)O que parte do STF fez no Mensalão do PT, foi pior que os julgamentos da Alemanha Nazista;
    4)Esconderam que a RÚSSIA abateu 2 mísseis dos EUA que bombardeiariam Damasco;
    5)Escondem que o ocorre na Ucrânia faz parte da estratégia dos EUA (Zbigniew Kazimierz Brzezinski) que este senhor traçou a anos atrás;
    6)Escondem que os EUA arrasaram econômica TODOS os países da antiga esfera da Rússia que bandeou para o Ocidente Maravilha; 7) .. ; 8) ...; 9) ... . Então sr.Filon Mykola procure a verdade dos fatos e não saia por dizendo bravatas para seus aluninhos. Pode acreditar, aqui no BRASIL para se saber a verdade dos fatos, você NUNCA procure sabe mídia normal, como o GAFE. Ali eles obedecem aos mesmos senhores que estão destruindo sua Ucrânia. Só jogo de cena.
    Meu caro Michel meus parabéns pelo seu blog, sem igual! ESCLARECEDOR

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  3. Le Monde não estou criticando sou grato pela tradução, mas esse artigo parece que foi escritor pelas mesmas pessoas que estão por trás da Euromaidan.

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