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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Le Monde: Al-Qaeda amplia seu território e une suas forças no Iraque e na Síria


No mundo das finanças, isso seria chamado de OPA (Oferta Pública de Aquisição), ou melhor, uma fusão-aquisição. O líder do Estado Islâmico no Iraque, o braço iraquiano da Al-Qaeda, anunciou na terça-feira (9), em uma mensagem de áudio, a fusão de seu partido com a Jabhat al-Nusra (Frente de Apoio), principal organização jihadista armada na Síria. O novo grupo se chamará Al-Qaeda no Iraque e no Levante. Esse anúncio chega dois dias após o apelo lançado por Ayman al-Zawahiri, o sucessor de Osama Bin Laden à frente da "matriz" da Al-Qaeda, para a instauração de um Estado Islâmico na Síria após a queda do regime de Bashar al-Assad, entregue há mais de dois anos a uma insurreição de maioria sunita.

Em seu discurso, Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do braço iraquiano, confirmou a versão segundo a qual a Frente Al-Nusra teria sido fundada por renegados vindos do Iraque, onde eles haviam combatido a ocupação americana de 2003 a 2011, sobretudo com a bênção do regime sírio que encorajava, na época, a passagem de jihadistas para o Iraque. Mas agora o tiro saiu pela culatra para a Síria.

Em pouco mais de um ano, a Frente Al-Nusra, que ficou conhecida por atentados suicidas, se tornou a principal força armada dentro da rebelião contra o regime Assad. No entanto, o movimento, que abriga centenas de estrangeiros vindos de todo o mundo árabe e muçulmano, é de ampla dominância síria. Ele controla porções inteiras do território, inclusive vários bairros de Aleppo, a segunda maior cidade do país, palco de combates acirrados desde julho de 2012. O comunicado em áudio confirma também que Abu Mohammed al-Julani, cujas origens permanecem obscuras, é o líder da Al-Nusra.

Má notícia para a rebelião síria
Ainda que os dois movimentos agora formem somente um, os observadores perceberam diferenças reais em sua abordagem tática. Ao contrário do Estado Islâmico no Iraque, a Frente Al-Nusra toma o cuidado de não alvejar sistematicamente os civis. Ela tem evitado, por enquanto, impor uma ordem islâmica rígida demais nas zonas que passaram para seu controle e chega a fechar acordos pontuais com a rebelião curda, como em Ras al-Ain, e mais recentemente em Aleppo. Ninguém sabe se essas diferenças são fruto de uma reflexão sobre os excessos passados da Al-Qaeda no Iraque ou se elas se devem à prioridade concedida por enquanto ao combate ao regime sírio.

O anúncio dessa fusão é uma má notícia para a rebelião síria. A Frente Al-Nusra de fato foi classificada como terrorista pelo departamento de Estado americano. E Paris anunciou na terça-feira que quer conversar com seus parceiros europeus e o Conselho de Segurança da ONU sobre uma possível classificação do movimento como "organização terrorista". A perspectiva de ver os países ocidentais entregando armas aos rebeldes sírios se afasta um pouco mais. Os Estados Unidos nunca estiveram dispostos a isso. E a França, que já tinha dificuldades em convencer seus parceiros europeus a retirar o embargo, também hesita.

O regime de Damasco, que acabou de lançar uma contraofensiva mortífera, principalmente em Aleppo, e que na segunda-feira recusou o envio de uma missão de investigação da ONU sobre o uso de armas químicas, só pode comemorar. Em compensação, esse desdobramento fragiliza um pouco mais o Iraque, onde as tensões religiosas e políticas entre xiitas e sunitas já ameaçam a unidade do país. As províncias sunitas, irritadas com a hegemonia xiita encarnada pelo primeiro-ministro Nuri al-Maliki, entraram em rebelião em dezembro de 2012.

Fronteira porosa
Paralelamente, em janeiro o Irã acentuou sua pressão sobre o governo iraquiano para que ele ajude o regime de Bashar al-Assad, dominado pela minoria alauíta, um braço dissidente do xiismo. Recentemente os Estados Unidos intimaram o governo de Maliki a não deixar mais que passem os aviões iranianos carregados de armas com destino à Síria. Por fim, os atentados cometidos pelo Estado Islâmico no Iraque, a maior parte contra bairros e locais de culto xiitas, estão nitidamente ressurgindo: no dia 18 de março a organização também alvejou o Ministério da Justiça, símbolo da opressão dos sunitas, durante um ataque coordenado como não se via em Bagdá desde 2010, fazendo 30 mortos.

Mais grave ainda: no dia 4 de março, 42 soldados sírios foram mortos em uma emboscada tensa entre Rabta e a fronteira síria, em uma região recuada do deserto de Anbar. Esses militares, afugentados pelos rebeldes sírios para perto do posto fronteiriço de Abu Kamal, se refugiaram no Iraque. As autoridades os acolheram lá, transportando-os para Bagdá antes de levá-los de volta à Síria por um desvio. Cerca de trinta homens da Al-Qaeda, bem informados, atacaram o comboio com lança-foguetes e armas automáticas, depois de detê-los com explosivos.

Esse episódio é prova de que os serviços de segurança iraquianos foram infiltrados por simpatizantes do Estado Islâmico no Iraque. Uma fonte de preocupação a mais, uma vez que a fronteira sírio-iraquiana é muito porosa: homens e armas a atravessam nos dois sentidos, ajudados por solidariedades tribais muito antigas.

A província de Anbar, que entrou em rebelião contra Bagdá e agora está sendo incitada pela revolução síria, poderia rapidamente voltar a ser o território preferencial da Al-Qaeda, como aconteceu entre 2004 e 2008. Mas, dessa vez, não há mais exército americano para responder a ele.

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