Gorbatchev e Margaret Thatcher |
Nossa primeira conversa, durante um almoço no Chequers, foi inicialmente dura, quase a ponto de uma ruptura. Raisa Maksimovna, sentada do outro lado da mesa, ouviu isso e ficou muito chateada. Eu decidi aliviar a tensão.
"Eu sei que você é uma pessoa de convicção, comprometida com certos princípios e valores", eu disse à "Dama de Ferro". "Isso inspira respeito. Mas você deve ter em mente que está sentada ao lado de uma pessoa semelhante. E devo lhe dizer que não fui instruído pelo Politburo [Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética] a convencê-la a ingressar no Partido Comunista." A sra. Thatcher riu e a conversa se tornou normal.
Foram muitos os encontros depois desse, e muitas as discussões. Nós frequentemente discordávamos. Ela, por exemplo, estava altamente alarmada com as conversas que tive com Ronald Reagan em Reykjavik a respeito de um mundo sem armas nucleares, sobre um acordo para eliminação dos mísseis de médio alcance. "Nós não sobreviveremos a outra Reykjavik", ele dizia. E eu perguntava: "Você está realmente à vontade sentada sobre um barril de pólvora nuclear?"
Por que conseguimos chegar a um entendimento no final? Eu acredito que um motivo foi por termos desenvolvido gradualmente uma afinidade pessoal que se tornou cada vez mais amistosa com o passar dos anos. Posteriormente nós chegamos a um grau de confiança mútua.
Foi muito importante o fato de a sra. Thatcher nunca ter duvidado de nossas intenções, o fato dela discutir com aqueles que afirmavam que a perestroika era "uma tentativa de fazer o Ocidente baixar a guarda", etc.
E no estágio crítico da perestroika, quando surgiu a necessidade de apoio concreto para as reformas em nosso país, foi a sra. Thatcher que pressionou ativamente pela ideia de nossa participação no Grupo dos Sete em Londres, e fez muito para preparar a reunião.
Quando o encontro de fato ocorreu em julho de 1991, entretanto, ele não era mais a primeira-ministra. Meio ano antes, a liderança do Partido Conservador no Reino Unido tomou a decisão de substituí-la. Assim, nós nos encontramos na embaixada soviética em Londres.
Eu me recordo de nossa conversa. É claro que é bom, disse a sra. Thatcher, que sua reunião com o G7 ocorreu; de fato, tudo no encontro foi focado na sua participação e em trazer a União Soviética para a economia mundial. Agora é aceito que a União Soviética entrou irreversivelmente no caminho da reforma, e que as reformas contam com o apoio do povo e merecem o apoio do Ocidente. Mas –e aqui ela literalmente ficou embargada de emoção – ela acrescentou:
"Por que os líderes dos Sete não apresentaram medidas concretas, práticas, de apoio? Onde estão as medidas de fato? Eles o decepcionaram. Mas agora que eles declararam seu apoio e cooperação, eles devem ser pressionados. Não deixe que escapem, exija uma ação concreta!"
O golpe de agosto de 1991 interrompeu nossos planos; a perestroika foi interrompida. É interessante que a sra. Thatcher, que sempre proclamou sua fé no livre mercado, tenha se mostrado cética a respeito da "terapia de choque", sobre a abordagem escolhida por nossos reformistas radicais.
Nós nos encontramos mais de uma vez depois, e conversamos sobre isso e muitas outras coisas, e discutimos um pouco mais, mas sempre concordamos que nossa geração de políticos foi encarregada de uma grande missão: colocar um fim à Guerra Fria –e nós cumprimos essa missão.
Margaret Thatcher foi uma grande líder política e uma personalidade extraordinária. Ela permanecerá em nossa memória e na história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário