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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Gorbatchev relembra negociações com Margaret Thatcher

Gorbatchev e Margaret Thatcher
A sra. Thatcher foi uma líder política cujas palavras continham um peso enorme. Eu estava ciente disso quando me preparei para nosso encontro em 1984. Era o primeiro passo na busca por uma linguagem comum –a busca mais difícil.

Nossa primeira conversa, durante um almoço no Chequers, foi inicialmente dura, quase a ponto de uma ruptura. Raisa Maksimovna, sentada do outro lado da mesa, ouviu isso e ficou muito chateada. Eu decidi aliviar a tensão.

"Eu sei que você é uma pessoa de convicção, comprometida com certos princípios e valores", eu disse à "Dama de Ferro". "Isso inspira respeito. Mas você deve ter em mente que está sentada ao lado de uma pessoa semelhante. E devo lhe dizer que não fui instruído pelo Politburo [Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética] a convencê-la a ingressar no Partido Comunista." A sra. Thatcher riu e a conversa se tornou normal.

Foram muitos os encontros depois desse, e muitas as discussões. Nós frequentemente discordávamos. Ela, por exemplo, estava altamente alarmada com as conversas que tive com Ronald Reagan em Reykjavik a respeito de um mundo sem armas nucleares, sobre um acordo para eliminação dos mísseis de médio alcance. "Nós não sobreviveremos a outra Reykjavik", ele dizia. E eu perguntava: "Você está realmente à vontade sentada sobre um barril de pólvora nuclear?"

Por que conseguimos chegar a um entendimento no final? Eu acredito que um motivo foi por termos desenvolvido gradualmente uma afinidade pessoal que se tornou cada vez mais amistosa com o passar dos anos. Posteriormente nós chegamos a um grau de confiança mútua.

Foi muito importante o fato de a sra. Thatcher nunca ter duvidado de nossas intenções, o fato dela discutir com aqueles que afirmavam que a perestroika era "uma tentativa de fazer o Ocidente baixar a guarda", etc.

E no estágio crítico da perestroika, quando surgiu a necessidade de apoio concreto para as reformas em nosso país, foi a sra. Thatcher que pressionou ativamente pela ideia de nossa participação no Grupo dos Sete em Londres, e fez muito para preparar a reunião.

Quando o encontro de fato ocorreu em julho de 1991, entretanto, ele não era mais a primeira-ministra. Meio ano antes, a liderança do Partido Conservador no Reino Unido tomou a decisão de substituí-la. Assim, nós nos encontramos na embaixada soviética em Londres.

Eu me recordo de nossa conversa. É claro que é bom, disse a sra. Thatcher, que sua reunião com o G7 ocorreu; de fato, tudo no encontro foi focado na sua participação e em trazer a União Soviética para a economia mundial. Agora é aceito que a União Soviética entrou irreversivelmente no caminho da reforma, e que as reformas contam com o apoio do povo e merecem o apoio do Ocidente.  Mas –e aqui ela literalmente ficou embargada de emoção – ela acrescentou:

"Por que os líderes dos Sete não apresentaram medidas concretas, práticas, de apoio? Onde estão as medidas de fato? Eles o decepcionaram. Mas agora que eles declararam seu apoio e cooperação, eles devem ser pressionados. Não deixe que escapem, exija uma ação concreta!"

O golpe de agosto de 1991 interrompeu nossos planos; a perestroika foi interrompida. É interessante que a sra. Thatcher, que sempre proclamou sua fé no livre mercado, tenha se mostrado cética a respeito da "terapia de choque", sobre a abordagem escolhida por nossos reformistas radicais.

Nós nos encontramos mais de uma vez depois, e conversamos sobre isso e muitas outras coisas, e discutimos um pouco mais, mas sempre concordamos que nossa geração de políticos foi encarregada de uma grande missão: colocar um fim à Guerra Fria –e nós cumprimos essa missão.

Margaret Thatcher foi uma grande líder política e uma personalidade extraordinária. Ela permanecerá em nossa memória e na história.

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