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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

"Nós temos que dar uma chance a mais para a democracia", diz ex-ministro das Finanças russo


Alexei Kudrin é visto como alguém que tem boas chances de suceder Dmitri Medvedev como primeiro-ministro da Rússia. Em uma entrevista para a "Spiegel", ele fala sobre a necessidade de mais democracia em seu país, do pragmatismo do presidente Putin e dos riscos ainda enfrentados pela zona do euro.

 O presidente da Rússia, Vladimir Putin (segundo à esquerda), conversa com o comandante da Marinha Russa, Viktor Chirkov (à esquerda), e o capitão do cruzador atômico "Pedro, o Grande", Vladislav Malakhovsky (à direita), a bordo de um navio em Severomorsk (Rússia) 
Spiegel: Sr. Kudrin, por que o senhor descreveu 2012 como um ano perdido tanto política quanto economicamente para a Rússia? Isso soa amargo.
Kudrin: A reforma econômica estagnou e as reformas políticas não produziram os resultados que eu esperava. Apesar de as pessoas agora poderem eleger os governadores diretamente de novo, há obstáculos demais para os candidatos que não são apoiados pelo governo. Mas eu vejo uma tendência positiva importante: uma nova sociedade civil ativa se desenvolveu.

Spiegel: Mas ela não está novamente em declínio? O número de pessoas que participam dos protestos contra o presidente Vladimir Putin está em queda.
Kudrin: Você não deve basear sua avaliação da sociedade civil apenas pelo número de manifestantes. Além disso, apenas uma minoria radical pedia pela renúncia de Putin nas primeiras grandes manifestações. A maioria tomou as ruas porque as eleições parlamentares não estavam sendo conduzidas de modo justo. Mas ela reconhecia que a maioria das pessoas elegeu Putin. Por que então Putin deveria renunciar? A maioria dos manifestantes não deseja que o governo seja derrubado de um dia para o outro. Mas ela deseja reformas fundamentais.

Spiegel: Qual é a primeira coisa que deveria ser feita?
Kudrin: A Rússia precisa de eleições livres. Seria um processo difícil e demorado, que é algo que apontei em meu discurso nas manifestações em massa em dezembro de 2011. A simples repetição de uma eleição parlamentar fraudada, como alguns exigiam na época, não teria ajudado muito. Em grande parte, ela produziria um resultado semelhante, porque ainda não havia novos partidos fortes. Nós temos que desenvolver novos partidos e aprovar leis que impeçam a fraude eleitoral. Os candidatos devem ter acesso à mídia, e os empresários que financiam os partidos de oposição não devem ser punidos por fazê-lo. O aparato do Estado não pode ser usado em apoio a um partido específico. Isso é tão disseminado até agora que até mesmo temos um termo para isso na Rússia: "recursos administrativos". A Rússia tem que dar uma chance a mais democracia.

Spiegel: Por que Putin não buscou um diálogo com a oposição, em vez de lançar uma série de leis repressivas?
Kudrin: Após a fraude eleitoral óbvia, eu o procurei e propus precisamente esse diálogo. O momento é oportuno para mais disputa política. Putin não rejeitou a ideia na época, mas disse que trataria disso depois. Então ele aparentemente pesou suas opções e escolheu um caminho diferente.

Spiegel: O senhor e Putin são amigos desde os anos 90 e o senhor pode se tornar primeiro-ministro em caso de queda de Dmitri Medvedev. O senhor também foi ministro das Finanças da Rússia por 11 anos. O presidente é aberto a críticas do senhor e de outros?
Kudrin: Ele é um bom ouvinte. Ele escuta todas as posições durante as reuniões e então toma sua decisão. Às vezes ele me apoiava quando a maioria dos outros estava contra mim, e às vezes não. Acima de tudo, Putin é pragmático.

Spiegel: Quão bem-sucedida foi sua tentativa de mediação entre Putin e a oposição?
Kudrin: Eu fracassei, mas fico feliz por ter tentado.

Spiegel: No inverno passado, o senhor participou das manifestações pela primeira vez. Mas o senhor é um autor de políticas fiscais, um ex-membro do Gabinete e muitos o veem como um burocrata. Por que o senhor foi às ruas?
Kudrin: Porque de repente havia pessoas tomando às ruas que pensavam da mesma forma que eu. Não foram apenas os 4.000 ou 5.000 que o advogado Alexei Navalny ou o ex-vice-primeiro-ministro Boris Nemtsov mobilizaram no passado, mas entre 50 mil e 70 mil pessoas. Elas querem reformas democráticas e novos líderes com bom senso. Os radicais que desejam que toda mudança ocorra imediatamente estão se iludindo. Eles são ingênuos e fazem exigências irrealistas. É preciso dar ao Kremlin uma chance de mudar.

Spiegel: O Kremlin sempre alega que se eleições realmente livres fossem realizadas, os comunistas e nacionalistas chegariam ao poder.
Kudrin: Resultados eleitorais desagradáveis sempre são possíveis em uma democracia. Há leis que visam impedir que extremistas cheguem ao poder. Mas não quero fazer concessões quando se trata de democracia e eleições livres.

Spiegel: O senhor nega que exista um tom de nacionalismo na Rússia pós-soviética?
Kudrin: A xenofobia é disseminada. Mas as coisas são mais complicadas do que isso. Há uma postura disseminada que chamo de "síndrome imperial". Um número considerável de russos coloca seu país acima de outros países e vê os países vizinhos como parte de nossa zona de influência.

Spiegel: O Kremlin também encoraja esse nacionalismo. Por exemplo, ele respondeu a uma lei americana proibindo a entrada nos Estados Unidos de autoridades russas corruptas com a proibição de adoção de crianças russas por americanos.
Kudrin: Eu sou contra a retórica anti-Ocidente, mesmo que seja voltada apenas para ouvidos domésticos. Isso é prejudicial para a modernização de nossa economia e, é claro, não ajuda a tornar Moscou um centro financeiro global. Nós precisamos de mais abertura. Mas até mesmo russos conhecedores do mundo e bem educados têm um problema com outros países nos dizendo como administrar nossos assuntos internos. Nós não queremos nos degenerar em uma zona de influência do Ocidente.

Spiegel: Medvedev, quando ainda era presidente, o afastou de suas funções ministeriais em setembro de 2011, porque o senhor se opunha aos gastos militares mais altos. Agora eles estão aumentando ainda mais.
Kudrin: Medvedev ficou irritado por, no dia em que anunciaria sua intenção de não concorrer de novo à presidência, eu disse que não queria fazer parte de um novo governo sob sua liderança. Ele aparentemente sentiu que estava sendo exposto como um "pato manco" (presidente em fim de mandato sem poder). Eu pedi a Putin muito antes disso para me remover do cargo, porque não queria apoiar o orçamento das forças armadas. Mas então Putin me pediu para permanecer até o fim do meu mandato.

Spiegel: Qual é sua opinião sobre o poderoso vice-primeiro-ministro, Dmitri Rogozin, e outros que veem um aumento nos gastos militares como chave para o ressurgimento econômico da Rússia, e que apontam para o fato de os Estados Unidos gastarem muito mais em defesa?
Kudrin: Essas pessoas esquecem que a corrida armamentista foi um dos motivos do fim da União Soviética. Nós produzíamos muitos tanques e caças na época, enquanto as pessoas permaneciam nas filas com seus cartões de racionamento. Nós não podemos repetir esse erro. Quanto mais adiarmos a implantação de reformas econômicas e políticas, pior ficará a situação.

Spiegel: O senhor não está exagerando? A Rússia tem a terceira maior reserva de moeda estrangeira do mundo e a economia cresceu mais de 3,5% no ano passado.
Kudrin: Se o preço do petróleo cair acentuadamente, nós perceberemos rapidamente que nosso colchão não é tão espesso quanto alguns acreditam. Então os impostos terão que ser aumentados ou os gastos militares e sociais terão que ser cortados.

Spiegel: Que reformas o senhor introduziria agora?
Kudrin: Eu aumentaria a idade de aposentadoria, que atualmente é de 60 anos para os homens e 55 anos para as mulheres. Nós também precisamos de mais investimento em infraestrutura, como estradas, moradias, distribuição elétrica e distribuição de água. Nós temos que parar de distribuir benefícios sociais com regador. Nós precisamos de mais privatização e menos empresas estatais, além de mais poder e receita tributária para as regiões.

Spiegel: O senhor soa como se quisesse substituir Medvedev imediatamente.
Kudrin: Eu estou apenas dizendo o que precisa ser feito.

Spiegel: Putin teve que demitir recentemente seu ministro da Defesa por causa de irregularidades financeiras.
Kudrin: A corrupção não se limita apenas ao governo. Infelizmente, está em toda parte. O policial de trânsito, os professores, médicos, até mesmo os gerentes de banco que concedem empréstimos – todos estão abertos a propinas.

Spiegel: O senhor tem um antídoto?
Kudrin: Sim. Primeiro, todos os gastos do governo devem ser submetidos a controles rígidos. Ainda há a grande ilusão de que basta despejarmos muito dinheiro nas coisas –nos jardins de infância, na agricultura, alta tecnologia– e tudo ficará bem. Mas frequentemente ocorre o oposto. Quanto mais dinheiro o governo disponibiliza, maior é a corrupção.

Spiegel: A Europa está discutindo atualmente um pacote de ajuda de 17,5 bilhões de euros para o Chipre. Qual é sua resposta para as críticas de que esse resgate beneficiaria principalmente os oligarcas russos?
Kudrin: É um exagero. E distrai do fato de que o Chipre também foi um paraíso fiscal conveniente para as empresas do Ocidente por muito tempo. As empresas ocidentais são igualmente aptas em usar paraísos fiscais ao redor do mundo quanto às empresas russas no Chipre.

Spiegel: O senhor já foi chamado com frequência de o melhor ministro das Finanças do mundo. Como o euro pode ser salvo?
Kudrin: A Rússia torce para que a zona do euro consiga resolver seus problemas. Mas a Europa não está fazendo o suficiente para conseguir isso. Os déficits em países como a Grécia ainda são altos demais. A Espanha também está em sérios apuros. Ambos os países estão na prática falidos. A Grécia e a Espanha não podem pagar o serviço de suas dívidas sozinhas. O Banco Central Europeu (BCE) as ajuda comprando títulos do governo.

Spiegel: Essa é a abordagem certa para solucionar a crise?
Kudrin: O BCE está apenas ganhando tempo, mas neste ritmo a situação apenas piorará. A União Europeia precisa proceder de modo mais decisivo para redução das dívidas.

Spiegel: Não seria preferível apenas cancelar a dívida ou parte dela?
Kudrin: Eu acho que é uma possibilidade se algo puder ser feito para amortecer o impacto sobre os bancos credores. Certamente seria um passo para longe do precipício e para a estabilização dos mercados.

Spiegel: A introdução do euro foi a coisa certa para começar?
Kudrin: É claro. Eu estava muito entusiasmado na época. Mas nós podemos ver hoje que nem tudo foi bem pensado. As regras para impedir a dívida não foram fiscalizadas com rigidez suficiente. A produtividade é baixa demais em alguns países.

Spiegel: O senhor acredita que a zona do euro pode se desfazer?
Kudrin: Isso não pode ser descartado. A crise financeira e econômica pode rapidamente se transformar em uma crise política. As pessoas no Ocidente não estão preparadas para reduzir drasticamente seu padrão de vida. Pelo menos a Rússia conseguiu fazer isso pacificamente nos anos 90. Eu não sei ao certo se isso seria bem-sucedido na Europa. Os europeus vivem em um padrão acima de sua renda. O Estado de bem-estar social não é sustentável em sua forma atual.

Spiegel: Isso também se aplica à Alemanha?
Kudrin: Eu temo que sim, independente de quão bem a Alemanha esteja hoje. Vamos dizer que a crise do euro custe à Alemanha 100 bilhões de euros por ano. O que os alemães fariam se esse número aumentasse em mais 50 bilhões? Uma união fiscal forte é necessária para salvar e proteger o euro. O povo alemão está preparado para permitir que alguns comissários em Bruxelas decidam sobre os gastos e impostos de seu governo?

Spiegel: O senhor acha que uma saída alemã da zona do euro é concebível?
Kudrin: Sim. Qualquer solução será cara para a Alemanha, seja salvar o euro ou se retirar do euro. Seu país ainda precisa enfrentar essa decisão política difícil.

9 comentários:

  1. Nois temos que dar mais chances para Democracia
    foi esa conversinha que o Ronald Reagan teve no banco de tras da Limo com o Gorbachve
    e Hoje se sabe para onde foi a Russia com esa Hestorinha.
    Excelente trabalho O Vladimir ta fazendo agora , naoe de adimira que os Yankes tao inritados olhando um mundo Bipolar de novo com A modernizacao do Exercito Russo

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    1. Desculpa a franqueza, mas você não deve estudar a geopolítica com seriedade.

      Uma coisa é certeza: Gorbachev colocou fim ao que eu chamo de "Ilha das Ilusões". Era isso que era a URSS. A URSS ruiu por causa da corrupção e não por uma suposta abertura ao ocidente que você diz.

      Putin fez um grande trabalho na Rússia, mas enriqueceu ilicitamente e fez muita gente enriquecer roubando o que é de direito do povo russo.

      Aonde que o mundo é bipolar hoje? Você sabe o que quer dizer "mundo bipolar"? O mundos só foi bipolar na história recente quando havia somente duas superpotências: EUA e URSS. Hoje o mundo é multipolar, uma vez que há vários países como atores no cenário global.

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    2. -
      -
      concordo com o Michel ... e como Alexei Kudrin "a Rússia não deve se iludir com a riqueza fácil do petróleo".
      -
      ou inovam ou pagam a fatura na frente....
      -
      XTREME

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    3. E por falar em russos... Eu conheço um russo que fala muito besteira sobre a Segunda Guerra Mundial. Seu nome: Viktor Suvorov. Quer dizer que eu tenho que acredita no que Suvorov diz, só porque ele serviu na Inteligência do Exército Vermelho (Glavnoye Razvedyvatel'noye Upravleniye)?

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    4. Pois e mundo Bipolar acho que o colega tem Razao Na Guerra da Georgia. Otan nao apito nada
      Guerra Libia , Mali agora Franca ta la por com Ajuda Americana,
      Siria Europeus tao loucos pra invadir EUA nao fica atras mais a Russia dise NAO
      se e multipolar pq Otan se escora atras dos EUA ? e China atras Da Russia ,?. muito bem dito Colega

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    5. Eu não vou perder meu tempo com alguém que não sabe os princípios básicos da geopolítica e insiste afirmar que o mundo é bipolar.

      http://www.foreignpolicy.com/articles/2009/10/19/new_order

      Leia mais e fale menos!

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    6. O mundo saiu de uma unipolaridade até bem pouco tempo atrás(USA), para um mundo no qual poderes emergentes da China e da Rússia movida a petróleo passam a contestar a unipolaridade americana; que depois da crise econômica em que estão metidos, não podem mais se aventurar em qualquer quistão da vida, até porque o contribuinte americano não mais aceita essa estorinha de guerra ao terror, quando estão apavorados com a perspectiva do desemprego. O problema da Rússia sempre foi uma autocracia, depois burocracia que vampiriza todos os aspectos da vida Russa-Soviética-Russa. Havia roubo generalizado na URSS por parte da alta burocracia, e quando o regime-sistema começou a se tornar um fardo insustentável para o povo veio a saída derrubar a estrutura soviética e de parasita a proprietário, vejam quem se tornou magnata na Rússia antigos membros do PCUS, ou então de apadrinhados deles. O Partido Rússia Unida não passa de um pedaço do antigo PCUS.

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  2. O mundo deixou de ser bipolar para ser unipolar e agora tenta ser multipolar, mas só tenta.

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    1. Deixa disso, cidadão. O mundo é multipolar. Os BRICS são um exemplo disso.

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