terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Políticos deixam de lado a crise em Davos, mas CEOs ponderam sobre recuperação da economia
Davos é uma ilha à parte. Cercada por altas montanhas, entre 23 e 27 de janeiro a pequena estação suíça esteve ao mesmo tempo no centro do mundo e totalmente isolada. Nesses poucos dias, CEOs do mundo inteiro tiveram encontro marcado com o universo das grandes cifras, as da macroeconomia conduzidas pelos políticos e pelos bancos centrais, e as das grandes tendências, manipuladas pelos prêmios Nobel.
"É meio que o único momento do ano em que eles saem da visão vertical do mundo que eles têm, dominada pelos seus negócios", garante um frequentador. Esse momento um tanto improvável em que a ministra francesa da Economia Digital, Fleur Pellerin, se vê em debates ao lado do presidente do Goldman Sachs, Lloyd Blankfein,.
Depois de uma sinistra edição em 2012, marcada pelo presságio de uma falência do euro, a preocupação mudou de lugar: será que não se fez demais para evitar a ruptura? Que recuperação nós preparamos? Ao economista Stanley Fischer, presidente do banco central de Israel, que acredita que a política de criação monetária, como a conduzida pelos Estados Unidos, permitiu evitar um desastre, o economista americano Nouriel Roubini, famoso por seu pessimismo, metralhou nove razões pelas quais o mundo aponta para um colapso, inflando novas bolhas e adiando o fardo da dívida para as gerações futuras.
Entre a plateia, chamada para votar, uma maioria de dois terços considerou que "os benefícios em curto prazo desse tipo de política superam os riscos de longo prazo".
Além disso, de Mario Draghi, presidente do BCE (Banco Central Europeu), até a chanceler alemã Angela Merkel, passando pela diretora do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde, e pelo premiê italiano Mario Monti, todos os políticos presentes garantiram: o pior já passou.
Mas 2013 será o ano da ação para os governos, relativizou Draghi, que prevê a recuperação para o segundo semestre de 2013. Eles deverão ao mesmo tempo organizar a integração financeira europeia e tomar medidas para restaurar seus equilíbrios orçamentários e sua competitividade. Isso porque o efeito positivo constatado no nível dos mercados financeiros "ainda não se propagou para a economia".
"Sem crescimento, dinheiro fácil", o tema escolhido para a mesa-redonda à qual foi convidado o ministro francês da Economia e das Finanças, Pierre Moscovici, resume o estado de espírito de muitos, no que diz respeito à Europa. Ainda que a tentação do dinheiro fácil não faça o gênero da Alemanha.
"Na Alemanha não pensamos que os bancos centrais estão lá para reparar uma falta de competitividade", lembrou a chanceler, ao mesmo tempo em que reconhecia que era preciso levar em consideração instabilidades políticas. "Merkel ficará mais flexível após as eleições de setembro", prevê o bilionário George Soros.
Em tal contexto, as empresas, que não reiniciaram a máquina de criação de empregos e de riqueza, estão tentando o otimismo. "Ainda restam muitos problemas, mas decidimos ser otimistas", garante Ben Verwaayen, presidente da Alcatel-Lucent, citando a recuperação nos Estados Unidos e a manutenção do crescimento chinês, mas lamentando, como a maior parte dos participantes, a decisão do primeiro-ministro britânico, David Cameron, de organizar um referendo sobre a permanência de Londres na União Europeia em 2017. "Quatro anos de discussões e de incerteza para a Europa", ele lamenta.
"A emergência da China como superpotência talvez tenha chegado dez anos mais cedo que o previsto", reconheceram os participantes do debate dedicado à "agenda chinesa". Segundo o ex-premiê britânico Gordon Brown, esse eldorado exaltado por Carlos Ghosn, presidente da Renault, deve acentuar suas reformas em matéria de educação, de meio ambiente, de mercado de trabalho e de reforma do setor financeiro. Um programa que estranhamente lembra o da Europa.
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