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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Crise no Mali é verdade bênção para regime sírio que intensifica ataques

Aleppo

Há muito tempo, bem antes que a guerra entrasse na cidade e destruísse tudo em sua passagem, a universidade era o único lugar onde a revolução se fazia escutar em Aleppo, na Síria. Nessa cidade próspera e adormecida, os estudantes eram os únicos que queriam fazer barulho. Mas desde que a guerra chegou de surpresa, em 22 de julho de 2012, primeiro dia do Ramadã, a universidade se calou, como se tivesse compreendido que o que aconteceria depois seria de outra natureza. Fim das manifestações relâmpago e dos jogos de esconde-esconde com os serviços da ordem na universidade. A pluma cedeu lugar à pólvora.

"Quando voltamos das férias", lembra-se Mohamed A., "não éramos mais que um terço dos alunos. Alguns haviam se envolvido com os rebeldes. Outros ficaram na casa de seus pais. Os que voltaram não tinham opção senão estudar."

No dia 15 de janeiro, a guerra veio perturbar a universidade, como para lhe lembrar que não era um porto de paz: uma dupla explosão deixou cerca de 90 mortos e 150 feridos, uma das piores chacinas que a cidade sofreu em um único dia nesses últimos seis meses. O ataque ocorreu no primeiro dia dos exames de meio de ano. A universidade fechou e as autoridades anunciaram a retomada dos exames em 29 de janeiro.

Mohamed A., 23, estava lá no momento da explosão. Depois ele voltou para sua aldeia perto da fronteira turca, onde o encontramos. Às 13h, ele jogava pingue-pongue no prédio da faculdade de ciências, quando este foi sacudido pela explosão: "Me precipitei para fora. A explosão ocorreu do outro lado da rua, na residência universitária. Todos os vidros haviam explodido, a fachada estava rasgada". Havia destroços em toda parte e, entre as pedras, corpos sem cabeça, sem pernas ou sem braços. Ou os três ao mesmo tempo. "Até as árvores estavam cobertas de pedaços de carne humana." Ele encontra uma mulher atordoada, com o sapato de sua filha na mão e um pequeno pé no calçado.

"Depois as pessoas gritavam, apontando para o céu: um avião, um avião!", lembra-se Mohamed. O caça virou sobre a asa, alto no céu, para se dirigir para oeste. No momento de passar novamente sobre a universidade, o estudante ouviu uma segunda explosão. Ele não teve tempo de verificar o ponto exato do impacto, mas tirou uma foto da fachada do edifício com seu telefone celular, antes da chegada da televisão nacional. Ao se afastar, Mohamed A. cruza com os primeiros socorros. Ele percebe então que os serviços de segurança, que normalmente guardam as entradas da universidade, se evaporaram.

Quando chega em casa, dez minutos depois, vê que a televisão anuncia um atentado terrorista com carro-bomba diante da universidade. "É absurdo, nenhum carro pode estacionar a menos de 30 metros. A calçada é larga demais. É evidente que os tiros vieram do avião." Na foto que ele tirou não vemos nada além de um carro estacionado junto à calçada, meio danificado. Nenhuma carcaça revirada, nada de veículo destruído. Só os apartamentos embaixo e no centro do edifício foram atingidos pela explosão, e não o conjunto da fachada, como foi o caso durante ataques com carro-bomba em Damasco ou Aleppo.

Na própria noite do ataque, a polêmica agita as redes sociais, entre adversários e partidários do regime. Estes últimos, diante da avalanche de depoimentos sobre a presença de um avião de caça no céu de Aleppo no momento do ataque, se refugiam em uma versão alternativa: os rebeldes teriam disparado um míssil antiaéreo que errou o alvo e atingiu a universidade.

Para Mohamed A., não há a menor dúvida de que o regime sírio é responsável pelo ataque. "Mas não compreendo: por que atacar a universidade? Lá não acontece mais nada. Somos tão poucos que não representamos mais uma ameaça." Desde o outono, a universidade, que se encontra no bairro de Fourkan, a oeste da metrópole, em zona governamental, abriga uma posição de artilharia do exército sírio. Os rebeldes não a visaram, com medo dos danos colaterais. Uma espécie de ironia: o edifício atingido em 15 de janeiro abrigava famílias de deslocados do bairro de Salaheddine, cujas moradias foram totalmente destruídas pelos combates.

Na verdade, a resposta para a pergunta de Mohamed A. chegou no dia seguinte, no comunicado oficial do Ministério das Relações Exteriores sírio sobre o envolvimento francês no Mali: "No momento em que certos [países], notadamente ocidentais, fingem querer lutar contra o terrorismo no Mali - e nós apoiamos o combate ao terrorismo, onde quer que seja -, eles apoiam esse terrorismo na Síria", lamentou Damasco.

A operação francesa no Mali é na verdade uma bênção para o regime sírio, que pretende lucrar muito com ela: além de fazer a guerra na Síria passar para o segundo plano, ela reforça o discurso do regime sobre sua pretensa "luta contra o terrorismo", sua única resposta desde o início da revolução em março de 2011. Desde o início da ofensiva francesa no Mali, o balanço diário das violências na Síria, que se aproximava de cem vítimas por dia, subiu para cerca de 200 por dia.

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