segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
China enfrenta dificuldades para manter controle das informações
Mesmo em seus melhores dias, os líderes chineses formam um grupo avesso ao risco. Por isso, quando protestos contra a censura irromperam na China em 7 de janeiro passado e se espalharam rapidamente pelo ciberespaço do país, o governo baixou uma lei: "O partido tem controle absoluto sobre os meios de comunicação, e esse princípio é inabalável", informou um memorando "urgente" do Departamento Central de Propaganda.
Para manter o monopólio do poder político em um país com uma economia difícil de controlar e uma classe média em rápido crescimento - além das crescentes expectativas que esses dois fatores criam-, os dirigentes do partido comunista farão tudo que puderem para monitorar e gerenciar o fluxo de informações dentro e fora das fronteiras da China.
A medida é especialmente importante para a nova geração de líderes que está assumindo agora seus cargos - autoridades que sabem que as expectativas do público em relação a uma boa administração nunca foram tão elevadas. Mas, com mais de meio bilhão de cidadãos chineses com acesso à internet atualmente, além de mais de 300 milhões de usuários ativos no Weibo (o Twitter da China) e do "grande firewall" cada dia mais ineficaz, as declarações do governo sobre o controle de palavras e ideias podem ser consideradas pouco mais que uma ilusão.
O direito do partido comunista chinês de governar baseia-se na afirmação de que a administração de um crescimento econômico que já dura três décadas prova que o governo é dirigido por funcionários competentes e honestos, que compreendem as necessidades do país. É por isso que, em 2012, os líderes chineses não queriam que os cidadãos lessem nem discutissem as acusações de que um alto membro do Partido Comunista e sua mulher estavam profundamente envolvidos em um escândalo de corrupção e assassinato, ou que a família do primeiro-ministro Wen Jiabao mantém "bilhões em riquezas escondidas", segundo o jornal "The New York Times".
E muitos outros constrangimentos como esses foram registrados durante o ano. Em 2013, os novos líderes do país vão tentar retomar o controle sobre a circulação de informações, num momento em que um contingente crescente de cidadãos chineses tem usado as modernas ferramentas de comunicação para exigir uma administração melhor e liberdades mais amplas.
A batalha travada pela China pelo controle das informações não deve dar origem a um confronto público como o que ocorreu na praça da Paz Celestial (Tian'anmen) em 1989. Nem é provável que essa batalha tenha algum impacto sobre o crescimento econômico de curto prazo do país. No entanto, a tentativa do governo de manter o controle sobre a circulação de informações terá duas consequências de curto prazo importantes para a China e para o mundo: ela atrasará as reformas necessárias para que o país - que em breve deverá ser alçado ao posto de maior economia mundial - consiga alcançar o próximo estágio de seu desenvolvimento e incentivará os líderes chineses a desviar a ira do público para os estrangeiros - em parte, por meio da adoção de medidas mais assertivas e, por vezes, mais agressivas no Leste e no Sudeste da Ásia.
Em 2007, o primeiro-ministro Wen Jiabao advertiu que o caminho para o desenvolvimento da China era "instável, desequilibrado, descoordenado e insustentável". Num momento em que o país inicia o terceiro ano de seu plano de cinco anos, os esforços atuais se destinam a reduzir a crescente desigualdade entre ricos e pobres e a desenvolver o interior da China para proporcionar um crescimento econômico mais equilibrado em termos geográficos. Mas o mais importante objetivo de médio prazo para o país é a redução da dependência das exportações de produtos manufaturados para a Europa e os Estados Unidos, por meio do empoderamento de um segmento muito mais amplo da população chinesa para que essas pessoas comprem produtos fabricados na China. O cumprimento de todos esses objetivos criará um processo perigoso, pois a reestruturação e a redistribuição da riqueza exigida para a finalização desse processo fará com que dezenas de milhões de trabalhadores percam seus empregos (pelo menos temporariamente).
Os líderes chineses precisam que a economia do país gere um número suficiente de postos de trabalho para satisfazer as crescentes expectativas do crescente contingente de universitários recém-formados. E são esses universitários os mais ativos usuários da internet, aqueles que se mostram mais propensos a expressar opiniões e participar de debates. Se a incapacidade do partido em controlar a circulação de informações gerar uma abordagem lenta demais em relação a essas reformas potencialmente dolorosas, uma onda de frustração pública pode piorar as coisas - gerando importantes implicações de longo prazo para o futuro político e econômico do país.
O medo da ira do público também pode levar os líderes chineses a adotar uma política externa mais agressiva. Durante os últimos 12 meses, testemunhamos o aumento das tensões entre a China, o Vietnã e as Filipinas - relacionadas a disputas territoriais na região do Mar da China Meridional, rica em fontes de energia. Também observamos o crescimento das hostilidades contra o Japão devido a uma cadeia de ilhas disputadas por chineses e japoneses no Mar da China Oriental. A retórica nacionalista está em ascensão em todos esses países.
Quatro meses atrás, Pequim permitiu a realização de protestos mais intensos do que o normal contra o Japão dentro da China - e as empresas japonesas que operam no país sofreram danos graves devido a boicotes e atos de vandalismo por parte do público. Os líderes do partido comunista chinês podem muito bem decidir este ano que, se não for possível bloquear os novos canais de informação, a fúria popular que eles às vezes canalizam deve se voltar para o que o governo chama de "forças internacionais hostis". Essa é uma má notícia para o Washington, pois, num momento em que os EUA voltam novamente o foco de sua política externa para a Ásia, os diplomatas norte-americanos poderão se ver obrigados a tentar arbitrar alguns desses litígios - ao mesmo tempo em que a América precisa de mais segurança e de melhores relações comerciais com a China e seus vizinhos.
O que quer que venha a acontecer com a política chinesa, a ainda frágil recuperação mundial precisa que a economia da China continue se expandindo e amadurecendo. Empresas de todo o mundo precisam ter acesso aos mercados da China. A Ásia, região que tem as atividades comerciais mais dinâmicas do mundo, precisa de uma China estável para manter um status quo pacífico.
É por isso que devemos nos preocupar com o fato de a China ter se transformado no mercado emergente menos propenso a se desenvolver seguindo um caminho previsível. Em 2013, ficará cada dia mais óbvio que o crescente fluxo livre de ideias e de informações dentro da China - e a ansiedade que isso causa em seus líderes - será uma das histórias mais importantes a se desenrolar no mundo de hoje.
O presidente Xi Jinping tem defendido o que chama de "sonho chinês". Em breve ele poderá descobrir que a definição desse sonho para uma sociedade em rápido processo de mudança já está além do controle do partido.
* Ian Bremmer é presidente do Eurasia Group e autor de "Every Nation for Itself: Winners and Losers in a G-Zero World" (Cada país por si:. vencedores e perdedores em um mundo G-Zero", em tradução livre).
Assinar:
Postar comentários (Atom)
ELES TÃO JOGANDO CARA!!!!!!
ResponderExcluirOlha bem na tela, parece LOL ou DOTA2!!!!
Affeeee kkkkkkk