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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Preparando-se para deixar o cargo, líder chinês alerta para os desafios

Hu Jintao

Concluindo 10 cuidadosos anos no comando do Partido Comunista, o mais alto líder da China, Hu Jintao, se vangloriou na quinta-feira (1) dos sucessos durante seu mandato, fazendo ao mesmo tempo um alerta contra a inquietação e a reforma política.

Hu, 59 anos, deixará o cargo de secretário-geral do partido na semana que vem, passando o poder para seu sucessor designado, Xi Jinping. Seu discurso na abertura aqui em Pequim do 18º Congresso do Partido Comunista foi provavelmente seu último grande discurso – uma chance de escrever seu próprio elogio, estabelecendo ao mesmo tempo o curso para Xi.

“Ele está preocupado em como a história o verá”, disse Qian Gang, que trabalha com o Projeto Mídia da China da Universidade de Hong Kong. “Em geral, ele é contra a reforma.”

Formalmente, Hu concordou com quase todas as reformas: econômica, social, política e ambiental. Mas, da mesma forma que seus antecessores, isso foi equilibrado com alertas para a necessidade de proteção contra o aumento da inquietação. Foi um reconhecimento incomum para um homem cujo slogan é a criação de uma “sociedade harmoniosa” para a China.

“As contradições sociais claramente aumentaram”, disse o documento formal de 64 páginas emitido no Congresso. (O discurso de Hu, mesmo com 100 minutos, foi apenas um resumo.)

“Há muitos problemas ligados aos interesses públicos imediatos na educação, emprego, segurança social, atendimento de saúde, moradia, meio ambiente, segurança alimentar e de medicamentos, segurança no local de trabalho, segurança pública e cumprimento da lei.”

A solução, disse Hu, era “reforma e abertura”, uma política iniciada pelo homem que o escolheu para o cargo há quase duas décadas, o líder supremo Deng Xiaoping.

Ele também exaltou sua própria contribuição para a ideologia do Partido Comunista: “o desenvolvimento científico”. A maioria de seus antecessores teve suas ideologias preservadas como doutrinas guias do Estado. Sua repetição da frase –que significa que o partido deve ser pragmático e seguir as políticas que são comprovadamente eficazes– deixou implícito que ele, também, seria honrado.

Mas foram muitas suas ressalvas às reformas.

Segundo Qian, um importante especialista em análise textual dos discursos dos líderes chineses, o discurso de Hu empregou quase todas as frases antirreforma usadas pelos líderes comunistas do país.

Ele mencionou três vezes o fundador da China comunista com a frase “Mao Tse-tung pensava”, e disse que o partido “certamente não deve seguir os sistemas políticos ocidentais”, algo não mencionado no último congresso do partido, há cinco anos.

“Eles não empregam esses termos à toa”, disse Qian. “Quando mencionam, é porque importa.”

Hu também cunhou um novo termo, prometendo que o partido não seguirá o “mau caminho” da mudança de curso do partido.

Acredita-se que o discurso de Hu tenha sido elaborado em cooperação com seu sucessor, Xi. Apesar da crença de que Xi esteja consultando os membros liberais da “intelligentsia” da China, ele não se opôs à direção de Hu ou não foi capaz de mudá-la.

Isso é importante, dizem observadores, porque Xi não exercerá poder irrestrito quando assumir. Além da outra meia dúzia de membros do Comitê Permanente do Politburo do partido, ele também terá que ouvir os conselhos de Hu, do antecessor de Hu, Jiang Zemin, e de cerca de outros 10 “líderes sêniors”. Como se fosse para enfatizar o papel deles, esses homens estavam sentados no palco ao lado de Hu. Muitos deles são septuagenários ou octogenários e exerceram o poder por décadas.

“Xi Jinping certamente não será um Gorbatchov”, disse Yao Jianfu, uma ex-autoridade e pesquisador que acompanha de perto a política chinesa e defende mudanças democráticas. “Todo aspecto da reforma tem uma pré-condição importante –a de que o Partido Comunista permaneça no poder.”

Apesar do discurso de Hu ter sido transmitido ao vivo pela televisão e pelas telas nas composições do metrô de Pequim, avaliar a opinião popular foi difícil.

Microblogueiros, que são em sua maioria urbanos e com alta escolaridade, às vezes zombaram da retórica. Um blogueiro listou a terminologia marxista que Hu utilizou e escreveu simplesmente “loucura”. Outros usaram emoticons de risada, enquanto outros analisaram mais a fundo o discurso em busca de pistas das novas políticas –alguns notaram sua breve menção da impopular política de um só filho da China.

A retórica dura de Hu em questões sociais contrastou com sua forte reafirmação do compromisso do Partido Comunista com o mantra de política econômica de “reforma e abertura”, uma política que produziu enorme comércio e crescimento econômico ao longo das últimas três décadas.

Mas muitos economistas começaram a questionar se o mandato de Hu representou uma “década perdida” para a reforma econômica. Empresas estatais gradualmente reforçaram seus papéis na economia por meio de uma combinação de monopólio e acesso a empréstimos baratos concedidos por bancos estatais.

Hu pediu pela reforma das empresas estatais e pelo nivelamento do campo de jogo para os empreendedores que quiserem competir com elas. Ele também endossou uma série de outras medidas de liberalização econômica que são discutidas há anos, apesar de o progresso dessas medidas ter sido lento durante seu mandato.

Ele apoiou tornar as taxas de juros e a taxa de câmbio do iuane mais dependentes do mercado e menos de decretos do governo. O Banco Popular da China, o banco central, já começou a fazer isso ao ampliar gradualmente a variedade de taxas de juros que os bancos podem cobrar, com base na avaliação de crédito dos tomadores de empréstimos, e ao ampliar a variação cambial do iuane frente ao dólar.

Hu também repetiu o antigo desejo do governo de expandir o papel do consumo interno na economia e reduzir a dependência em investimentos –apesar de que, mesmo após anos de declarações semelhantes, a parcela do produto econômico proveniente de gastos em investimento atingiu outro recorde no ano passado: 45,7%.

Outra queixa frequente dos governos estrangeiros e das empresas estrangeiras, a proteção frouxa da China de patentes e direitos autorais, recebeu ao menos o reconhecimento de Hu, que prometeu maior proteção da propriedade intelectual como forma de promover a inovação na China.

Houve um sinal, que talvez não tenha sido intencional, no Congresso do Partido de que a China permanece entusiasmada pelas marcas estrangeiras –ao menos se forem fabricadas na China. Um estacionamento especial para as autoridades no lado norte do Grande Salão do Povo, do outro lado da rua de um condomínio residencial fechado onde vivem os líderes do país, estava cheio de carros alemães, americanos e japoneses, sem nenhum sinal de modelos chineses.

O estacionamento contava com pelo menos uma dúzia de sedãs Audi A8 pretos e várias minivans Buick GL8 azul escuras –ambos montados na China– e até mesmo um utilitário esportivo Toyota Highlander branco. As vendas de modelos de marcas japonesas despencaram 40% em cada um dos últimos dois meses em comparação ao ano passado, depois da disputa territorial sino-japonesa no Mar do Leste da China ter provocado distúrbios e a destruição de cerca de 100 carros de marcas japonesas.

As multidões atacavam carros japoneses e ocasionalmente seus proprietários, apesar de a maioria dos carros japoneses vendidos na China ser fabricada por joint ventures na China, para evitar o imposto de 25% da China sobre carros importados, o mais alto de qualquer grande mercado de automóveis.

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