O exército volta a tomar as rédeas no Egito. Dois anos e meio depois da queda de Hosni Mubarak, seus companheiros de armas saíram novamente, na quarta-feira (3), dos quartéis para depor o islâmico Mohammed Mursi, o primeiro presidente egípcio eleito democraticamente, e suspender a Constituição.
Depois de uma transição política na qual se frustrou boa parte das esperanças que haviam sido depositadas depois das eleições, o Egito tem novamente um homem-forte com uniforme: o general Abdel Fatah al-Sisi, chefe das Forças Armadas.
Resta ver que papel se reserva à cúpula militar depois do golpe. Na quarta-feira, depois de manter uma reunião com grupos de oposição, líderes juvenis e hierarcas religiosos muçulmanos e coptas, os militares impuseram um mapa do caminho que anuncia um governo provisório e a convocação de novas eleições.
Com uma herança de difíceis problemas acumulados depois de três décadas de autoritarismo, Mursi proporcionou abundantes demonstrações de imprudência: a pior, descumprir sua promessa de governar para todos os egípcios. Ele tomou o voto de apoio como um cheque em branco, confundiu a causa do país com a da Irmandade Muçulmana e quis impor uma agenda islamizadora e excludente, enquanto o Egito se afundava na crise econômica, no desabastecimento e em uma criminalidade galopante que levou vários setores a desejar os "tempos de ordem" de Mubarak.
Com a história se pode e se deve aprender, sobretudo quando essa história tem apenas dois anos. As manifestações desses quatro dias contra o governo foram maiores do que as que derrubaram o todo-poderoso faraó. Também nesse aspecto Mursi deixou patente sua desconexão com a realidade. De nada valeram as chamadas de Obama e da ONU para que escutasse o clamor popular. Longe de estender a mão, optou por fechar-se e ficou cada vez mais isolado, abandonado por vários ministros e inclusive pelos islâmicos mais conservadores do Nur. O ultimato das Forças Armadas foi a constatação do final.
A conversão democrática do exército, enquistado no poder político e econômico, é pouco crível. "O exército se manterá alheio à política", afirmou, com pouca originalidade na história dos levantes militares, o general al-Sisi, que pediu aos manifestantes que o aplaudiam na praça Tahrir que não recorram à violência. A Irmandade Muçulmana, com centenas de milhares de seguidores, prometeu dar batalha.
Os acontecimentos no Egito repercutem em todo o Oriente Médio. Todos os que aproveitaram as turbulências da Primavera Árabe para financiar os movimentos islâmicos tomarão nota. Quanto aos egípcios, escaldados com um ditador, deixaram claro que não querem autocracias, civis ou religiosas. Por isso mesmo, tampouco as Forças Armadas deveriam dar nada por garantido.
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