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terça-feira, 9 de abril de 2013

O perigoso jogo da Coreia do Norte


É difícil conter uma sensação de "déjà-vu". Nos testes nucleares anteriores, a cada tiro de foguete, todos os anos, durante a primavera, quando os Estados Unidos e a Coreia do Sul organizavam manobras militares conjuntas, era sempre o mesmo cenário. Pyongyang alardeava contra o imperialismo americano, Washington e Seul replicavam em tom marcial, a ONU condenava e a opinião pública internacional ficava indignada. E depois a tensão voltava a baixar. Isso porque a Coreia do Norte não tinha nem os lançadores, nem a destreza nuclear indispensável para executar suas ameaças. Mais importante, ela não tinha o interesse: em caso de represália, o regime seria aniquilado. A menos que se esteja brincando de Dr. Strangelove, de que serve uma guerra que você certamente perderá?

A atual crise pode surpreender. Primeiro por sua duração: já faz quase dois meses que Kim Jong-un perdeu as estribeiras. E ele ainda não parou. A retórica da guerra fria, apreciada por Kim Jong-il, deu lugar aos ataques pessoais. Outrora tratados como fantoches a mando dos Estados Unidos, os sul-coreanos agora são "pobres cretinos" e o primeiro-ministro deles, Chung Hong-won, "uma erva daninha a ser extirpada continuamente". O objetivo de Kim Jong-un é mais do que incerto. Será que ele mesmo sabe qual é?, questiona o professor Park Han-shik, especialista em Coreia do Norte na Universidade da Georgia, nos Estados Unidos. Seu pai dominava a arte de blefar para ganhar toda a aposta: ajuda com alimentos, entregas de petróleo, prestígio internacional. Já Kim Jong-un parece preso numa espiral de blefes da qual ele tem tido cada vez mais dificuldades de sair. Não é mais o blefe que está em xeque, mas sim o blefador!

Incapaz de se alimentar, o Norte passou por uma crise de fome

Durante o governo de Kim Jong-il, a Coreia do Norte desperdiçou todos seus trunfos. Na época da divisão da península em 1953, o regime comunista tinha de tudo para dar certo: minas, represas, fábricas cedidas pelos japoneses e os operários mais qualificados. O stalinismo industrial de Kim Il-sung estragou tudo. Ao preferir a quantidade à qualidade e a planificação ao mercado, a economia norte-coreana afundou. Nos anos 1990, suas fábricas lembravam Tintim no País dos Sovietes: só se martelavam chapas enferrujadas. Além disso, um desmatamento maciço destruiu o meio ambiente. Em 1995 e 1996, inundações catastróficas afogaram o sul do país. Incapaz de se alimentar o Norte passou por uma crise de fome que resultou em 2 milhões de mortos, ou seja, quase 10% de sua população. Exaurido, o país viveu à base de ajuda internacional.

Para Kim Jong-il, que sucedeu seu pai em julho de 1994, a opção mais plausível seria uma abertura econômica no modelo chinês. Mas estava fora de cogitação para ele. Em nome do "juche", uma ideologia que mistura marxismo e confucionismo e defende a soberania nacional até a autarquia, o regime se transformou uma ditadura militar. O exército mantinha a ordem e tinha todos os privilégios. A economia de mercado poderia minar as bases dessa aristocracia. Tolerar os mercados rurais e algumas pequenas e médias empresas específicas seria o suficiente.

Para conseguir ajuda internacional, Kim Jong-il recorria ao blefe. Ele apelava ao setor humanitário midiatizando a fome. Até os campos de concentração onde dominava o terror foram aproveitados. Os testemunhos de sobreviventes suscitaram a indignação mundial, mas aumentavam as doações. Só que Kim Jong-il contava sobretudo com o blefe nuclear. Nos anos 1980, Pyongyang entrou na corrida nuclear. Oficialmente, era para uso civil. Mas os serviços de inteligência ocidentais logo descobriram que era um programa militar disfarçado. Pyongyang também tentou capitalizar com a suspensão desse programa, em troca de comida, petróleo e sobretudo divisas. A técnica rapidamente foi dominada. Elevava-se a tensão, mudavam de ideia e obtinham a ajuda desejada.

A corrida nuclear também teve a vantagem de legitimar Kim Jong-il

O blefe funcionou durante uma década. A China e depois a Coreia do Sul instalaram ao longo de suas respectivas fronteiras zonas econômicas especiais que permitiam que o Norte se mantivesse sem se converter à economia de mercado. A corrida nuclear também teve a vantagem de legitimar Kim Jong-il aos olhos de seu exército e de estabelecer sua popularidade entre uma opinião pública hipnotizada pela propaganda.

No entanto, de tanto se valer desse jogo, Pyongyang perdeu sua credibilidade. A partir dos atentados do 11 de Setembro, George W. Bush passou a considerar o Norte como parte do "eixo do mal". Em 2007, Lee Myung-bak, o presidente sul-coreano, rompeu com a política do "raio de sol" lançada em junho de 2000 durante a cúpula entre Coreias. Os testes nucleares de outubro de 2006 e de maio de 2009, condenados pela comunidade internacional, isolaram ainda mais a Coreia do Norte. Então foi um jogo enfraquecido que Kim Jong-un herdou com a morte de seu pai, no dia 17 de dezembro de 2011.

Mas Kim Jong-un não tinha alternativa. Mesmo que o Norte começasse a sair do aperto, ele ainda dependeria de ajuda externa. Sem contar que esta lhe traria divisas, provavelmente do Irã. Assim, seu domínio da tecnologia nuclear continuou sendo uma moeda de troca. Além disso, a bomba atômica permitia que Kim Jong-un desse garantias ao exército e consolidasse seu poder. E depois de passar algum tempo se mostrando conciliador, ao convidar a imprensa para Pyongyang ou expondo sua vida familiar, ele logo mostrou a que veio.

As circunstâncias eram favoráveis a isso. O Norte sabe que ninguém quer que ele desapareça a curto prazo. Nem a China, que se apoderou de seus recursos naturais. Nem os Estados Unidos, que, graças a Pyongyang, garantiram seu orçamento de Defesa e legitimaram sua presença militar no Sul. Nem o Japão, pouco favorável a uma Coreia reunificada que seria uma temível concorrente. Nem mesmo a Coreia do Sul, que sabe que a reunificação minaria sua prosperidade, já abalada pela crise mundial.

Além disso, Barack Obama, reeleito nos Estados Unidos em novembro de 2012, permaneceu no jogo. Mas em Seul, em dezembro de 2012, Lee Myung-bak deu lugar a Park Geun-hye, a filha do ex-ditador Park Chung-hee, enquanto em Pequim Xi Jinping acaba de suceder Hu Jintao. E se voltassem os blefes? Kim Jong-un não hesitou: lançou mais um míssil em dezembro de 2012, mais um teste nuclear em fevereiro, e fez declarações belicosas desde então.

É aí que a porca torce o rabo. É verdade que ele precisava elevar o tom para desarmar os céticos. No final de março, foi a visita da ministra francesa de origem coreana, Fleur Pellerin, que estampou os jornais, não as bravatas do Norte. No dia 9 de março, o estado-maior do exército sul-coreano não cancelou seu torneio de golfe, assim como a comissão parlamentar de Defesa não desistiu de fazer uma viagem para o exterior.

Para ser levado a sério, Kim Jong-un não teria feito demais e de menos? De menos porque suas ameaças mal convencem. Seu estado-maior mostra recursos bem ultrapassados. Para além da escalada verbal, a mobilização geral, a crítica ao armistício de Panmunjeon (1953), a recusa ao tratado de cooperação intercoreana de 1991 ou o bloqueio da zona industrial de Kaeseong cheiram a coisa requentada.

O novato Kim Jong-un ainda teria dificuldades para blefar

Ele também teria feito demais porque, como provocação, Washington e Seul começaram a exagerar. Aviões B-52 foram enviados ao redor da península já no dia 19 de março e, no dia 2 de abril, a presidente Park formou uma célula de crise. Até Pequim, que até então não estava irritado pelo fato de a histeria norte-coreana mascarar o discreto renascimento de seu imperialismo, começou a fazer cara feia. Pior: segundo informações obtidas no Sul, os próprios norte-coreanos estariam dando sinais de cansaço. Em suma, o novato Kim Jong-un ainda teria dificuldades para blefar.

O que fazer, além de mudar de ideia? É verdade que abandonar a partida sem conseguir nada confirmaria o provérbio coreano: "O cão que ladra mas não morde". Mas continuar com o braço de ferro poderia acender o barril de pólvora. Como a legitimidade da dinastia Kim parece arraigada demais para que o exército fique tentado a erigir um novo dirigente, é mesmo a Kim Jong-un que cabe encontrar uma saída.

A porta é estreita, mas ela existe. Até o momento, a presidente Park não foi alvo de nenhuma crítica: ela pode ser uma solução. No dia 2 de abril, também notou-se na comitiva do dirigente norte-coreano o reaparecimento de seu tio Jang Song-taek, que parece ser próximo de Pequim e partidário da paz. Será que Kim Jong-un escolherá essa opção?

Até agora, esse rapaz ambicioso, ávido por poder, se comportou como o imperador romano Cômodo. Será que ele saberá enganar como Augusto? Eis a grande questão.

11 comentários:

  1. Acho que o gordinho Kim anda falando demais. O apoio da China também está indo embora. Daqui a pouco os chineses invadem e tiram o gorducho do poder, colocando um fantoche para governar a coréia do norte.

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    1. Igual os fantoches que governao a Coreia do sul
      melhor sendo da China
      do que capacho de Americano : )

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    2. Não vejo com bons olhos nenhum desses países (EUA e China). No futuro os gafanhotos destruidores de plantações serão um problema.

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  2. Uma guerra agora seria o paraíso para os EUA, eles poderiam deixar todo o peso da guerra com a Coréia do sul e o Japão mantendo uma força quase simbólica como a que já esta lá, se a china interviesse melhor ainda a Asia toda mergulharia numa guerra fratricida que detonaria de vez suas economias trazendo novamente o eixo do mundo para a America do Norte e garantindo orçamentos polpudos para as forças armadas por mais algumas décadas.

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    1. Certeza absoluta que seria o inferno para os EUA que andam bem ruins das pernas com a MAIOR DÍVIDA MUNDIAL (14 TRILHÕES). Rússia,china, Irã não permaneceriam de braços cruzados esperando os EUA explodirem o seu quintal. Abrir um querra em várias frentes fez a derrota da Alemanha na 2ª grande guerra mundial. Destruir o Mundo todo talvez seja a melhor opção. Quem viver verá.

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    2. Adriano o Danny Boy
      esqueceu que tbm seria um paraiso para China e Coreia do Norte
      ver alguns grandes brinquedinhos cairen do Ceu no quintal : )
      afinal na Ingenuidade dele O danny Boy esqueceu que China nao ficaria so olhando Show no seu quintal .
      O Danny boy acorda vai : ) ta sonhando muito

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    3. A Coréia do Norte está super-ocupando as agências americanas de inteligência abrindo outra frente de crise mundial. Isto beneficiará Russia, China, Irã, e Síria. É impensável os EUA querer ser ríspido contra o "eixo do mal" levando em conta dois países ao mesmo tempo, até três para incursões econômicas e militares. Com a economia americana e européia como se encontra, e o Brics dando as caras.

      Os recentes presidentes americanos fizeram tanta besteira que é fato os Estados Unidos sendo visto como estado terrorista mais do que nunca.

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    4. Acho que a turma ai de cima não me entendeu, quando falo que uma guerra no oriente seria benéfica aos USA não estou sendo americanista, exatamente ao contrario, estou tentando alertar que a intenção americana é desestabilizar uma região que vem se tornando o centro do comércio mundial a algumas décadas mudando o fluxo monetário mundial para si e não mais para a América.
      Este é o verdadeiro motivo do declínio americano e eles sabem muito bem disso e já vem a algum tempo criando instabilidade no continente.
      Uma guerra com a Coréia agora antes que suas ogivas nucleares estejam operacionais forçaria a uma guerra convencional longa e altamente destrutiva, que prejudicaria em muito a economia da região.
      Eles ainda lucrariam muito vendendo armas para o Japão e a Coréia do Sul para sustentar uma guerra contra a China, que já percebeu isso é só ver o ultimo recado deles para o Norte Coreanos.

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    5. Concordo contigo! Se obterem a oportunidade de vender as suas armas mais velhas para os conflitosos, podem voltar a equilibrar a sua economia e partir para a China no futuro.

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  3. Bem seul se encontra a 180 Km da RPDC que dominaram a confecção de artetos de plutônio. Acredito que EUA,Japão e os Sul-Coreanos tem muito mais à perder do que os NC....ou seja eles (NC) não tem mais nada à perder...já perderam tudo !

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  4. O venerável Chim Pam Zé não vai fazer nada.

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