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terça-feira, 2 de abril de 2013

"Foi justificada", diz ex-chanceler alemão sobre guerra do Afeganistão

Soldados alemães no Afeganistão

Em entrevista ao "Spiegel", o ex-chanceler Gerhard Schröder, 68, fala sobre como é difícil para seus cidadãos aceitarem o envio de tropas ao exterior, o papel de liderança do país e o que justifica a guerra.

Pergunta: Senhor Schröder, os soldados alemães participaram de mais de 20 missões no exterior nos últimos 20 anos. Será que nos tornamos uma nação normal?
Schröder: Você pode ver dessa maneira, mas eu não usaria o termo normal neste contexto. Somos uma nação soberana desde a reunificação e, depois de um difícil processo de aprendizado, estamos nos comportando de acordo.

Como foi o seu processo pessoal de aprendizado?
Quando os americanos atacaram o Iraque em 1991, depois da invasão do Kuwait por Saddam Hussein, eu fui totalmente contra o envolvimento alemão. Como a maioria esmagadora dos cidadãos, eu estava convencido de que a Alemanha, diante de sua história no último e sangrento século, não deveria se envolver em campanhas militares.

O senhor também tinha razões pessoais? O seu pai morreu na guerra e a sua geração viveu no período imediato do pós-guerra.
Teve menos a ver com meu pai, que eu não conheci. Era simplesmente o consenso na velha República Federal que a Alemanha jamais deveria tomar parte em outra guerra, exceto para defender o país.

O que o fez mudar de ideia?
Compreender que uma nação soberana não pode se esconder por trás de seu passado no longo prazo. Não estávamos mais divididos e não tínhamos mais um status especial. A comunidade internacional esperava que fizéssemos mais do que ajudar financeiramente, como vínhamos fazendo há muito tempo.

O senhor ficou surpreso com a velocidade dessa mudança nas convicções políticas?
Bem, não aconteceu da noite para dia, e sim gradualmente. As decisões da Corte Constitucional Federal reforçaram esse processo de aprendizado. Começou com a decisão sobre o envio de aeronaves Awacs para a Bósnia e continuou com outras decisões. Estava claro que a referência à história da Alemanha também não era mais relevante do ponto de vista legal.

Uma de suas primeiras decisões em política externa como chanceler foi a de participar na guerra de Kosovo.
Na época, o Partido Democrático Social (SPD) ainda distinguia entre medidas para preservar a paz, que eram consideradas boas, e medidas para criar a paz, que muitos rejeitavam. Ficou óbvio que como partido governante, não faríamos nenhum avanço com essa posição. O que estava acontecendo diante de nossos olhos nos Bálcãs era ameaça de genocídio. Meu partido teve que admitir a realidade e agir de acordo.

A missão no Kosovo foi aprovada por seu governo de coalizão, formada pelo SPD e os Verdes. Era necessário um consenso social?
Era útil, de qualquer forma. Também foi graças ao (então ministro de relações exteriores e líder do Partido Verde) Joschka Fischer. O sim do SPD e dos Verdes permitiu que enfrentássemos a realidade. Foi realmente um avanço social.

Mas as coisas mudaram poucos anos depois. O senhor forçou sua coalizão a aprovar a missão no Afeganistão com um voto de confiança.
Os Estados Unidos foram atacados em seu próprio território no dia 11 de setembro de 2001, o que significou que o Artigo 5 do Tratado da Otan se aplicava. Também houve uma resolução unânime do Conselho de Segurança da ONU. Dizer não naquela altura nos teria isolado completamente. Teria significado o oposto da normalidade. E eu queria mostrar que meu governo de coalizão poderia reunir sua maioria por traz da decisão.

O senhor ainda acha que a missão foi correta?
Acho que foi justificada. Ainda acho isso hoje.

Por que o senhor hesita em dizer que também era a coisa certa a fazer?
A decisão não apenas era justificada na época, mas também era a coisa certa a fazer. O Afeganistão era um campo de treinamento de terroristas que tinham cometido ataques horríveis. Por isso a intervenção era necessária. Hoje, mais de 10 anos depois, podemos decidir que essa missão pode ser terminada porque queremos transferir a responsabilidade aos afegãos. As decisões sempre devem ser vistas em seu contexto histórico.

Como o senhor a vê hoje?
Vai demorar um bom tempo, talvez até décadas, para avaliar se toda a missão, que durou mais de 10 anos, foi a coisa certa. Uma coisa está clara, contudo: se a Alemanha tivesse tomado outra decisão, teríamos nos isolado e isso teria ameaçado verdadeiramente o relacionamento entre a Alemanha e os Estados Unidos.

Isso não o impediu de dizer não à guerra no Iraque.
A situação era diferente. Não estávamos convencidos de que a guerra fazia sentido. Tínhamos certeza que não havia armas de destruição em massa e estávamos preocupados que toda a região seria desestabilizada no longo prazo. Além disso, não havia missão da Otan, nem havia legitimação pelo Conselho de Segurança da ONU.

Isso tampouco aconteceu com o Kosovo.
Verdade. Os russos impediram, por razões historicamente compreensíveis. Foi por isso que a missão não foi sem problemas do ponto de vista legal. Mas achávamos que era necessária.

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