segunda-feira, 8 de abril de 2013
"É impossível unir a oposição síria", diz filho de ex-presidente do país
Ele não gosta de falar de seu pai. Chamava-se Nuredin el Atassi e era presidente da Síria havia quatro anos quando Hafez el Assad, do mesmo partido Baath, deu um golpe de Estado para tomar o poder no país, hoje governado por seu filho Bashar. Era o ano de 1970. Nuredin el Atassi passou 22 anos na prisão sem julgamento nem acusações contra ele. "Eu sou jornalista, documentarista, mas não tenho nada a ver com política", responde taxativo Mohamed Ali Atassi (nascido em Damasco em 1967). Ele reconhece que seu pai passou mais de duas décadas trancado em uma prisão. E pouco mais. "Essa é uma história muito pessoal", insiste. O que ele não relata é que o ex-presidente morreu de câncer em um hospital em Paris pouco depois de ser libertado.
Para exercer sua liberdade, exatamente, Ali Atassi escolheu Beirute (Líbano) como residência, o local de onde expressar-se. Política ele não faz, é verdade, mas sobre a atual revolução síria opina, e muito. "É preciso parar de pedir que a oposição se una com uma só voz. Isso é impossível, por que é preciso fazê-lo?", afirma, justamente um dia depois de o líder eleito da Coalizão Nacional Síria, Moaz al Khatib, apresentar sua demissão. "Querer reunir toda a oposição em um só homem", continua Atassi, "é um pouco absolutista."
Mas ele acredita em um homem, não mais como referência única para as fileiras revolucionárias, senão como o "pai moral" de uma nova Síria democrática. Chama-se Riad el Turk (nascido em 1930 em Homs), também passou mais de duas décadas entre as grades, foi um símbolo da Primavera de Damasco (2000) e protagoniza grande parte da obra de Atassi como cineasta. No último documentário, "Ibn al Am Online", Ali Atassi se conecta via Skype com o ancião El Turk, escondido em algum canto da Síria. E se fosse ainda hoje o pai moral da revolução? "É preciso escutar os jovens", resolve El Turk.
Porque não houve uma só revolução na Síria. Atassi lembra a repressão contra os islâmicos de Hama em 1982, a lei do silêncio imposta em 2000 depois da morte de Hafez el Assad e a surpreendente ascensão de Bashar... "Os sírios acumularam muita frustração, pobreza, corrupção", salienta Atassi, que visita Madri a convite do Instituto Francês e da Casa Árabe, "mas não sei o que fez que tudo explodisse em Deraa."
Da explosão da revolta à guerra - que ele resiste a chamar de "civil" - e ao atual governo da violência e indecisão das potências ocidentais. "Reclamar a união da oposição ou dizer que nem todos estão integrados na Coalizão ou que não enviam armas porque há islâmicos", intervém o cineasta, "é um pretexto, sobretudo dos americanos, para não se envolverem mais." Não há então um líder que conduza a uma possível transição?
"Nem Tunísia, nem Egito nem Líbia", responde Atassi, "tiveram esse líder ou figura carismática. Por que na Síria? Eles conseguiram ter êxito. Mas a ideia de um partido organizado, centralizado e que faça a revolução como os comunistas, isso acabou com a Primavera Árabe. Não existe um Mandela e não é necessário." Desculpa ou não, o que existe hoje é medo da ascensão islâmica na frente rebelde. "É verdade que os islâmicos pegaram em armas e estão na linha de frente", afirma o jornalista sírio, "mas não creio que depois terão o mesmo papel político; o Estado islâmico acabou com a Primavera Árabe."
Em "Ibn al Am Online", Ali Atassi fala da "sociedade do silêncio" imposta pelos Assad. Voltará? "Khalas!", responde em seu idioma. E se um árabe diz "khalas" é um não definitivo. "O preço que se pagou foi muito alto", continua em francês.
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