segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Le Monde: Palestinos não se iludem com novo status na ONU
Apesar da alegria de uma noite “histórica”, provavelmente o frio da noite, um otimismo um pouco forçado e a sensação de que a obtenção desse bizarro status de “Estado observador não-membro” junto à ONU não trará necessariamente um futuro radiante explicam a presença de tão poucas pessoas na Praça do Relógio, no centro de Ramallah, na Cisjordânia. Uma tela improvisada, feita com um simples lençol branco, foi estendida sobre o palanque, cercado de retratos de Mahmoud Abbas e de Yasser Arafat.
Uma floresta de bandeiras palestinas agitadas para todos os lados, um concerto de buzinas, rojões, alguns tiros de armas de fogo, cantorias e palavras de ordem, um pouco de debke (dança folclórica) também, mas a multidão de Ramallah, compacta durante o discurso do presidente da Autoridade Palestina, não invadiu as ruas dos arredores, e ainda se dispersou muito rapidamente.
Não importa: os milhares de palestinos que se reuniram em Ramallah, Belém, Nablus ou Jerusalém, assim como em Gaza, querem acreditar juntamente com Abbas que eles acabam de assistir ao “ato de nascimento da concretização do Estado da Palestina” e, em particular, eles lhe são gratos por ter aguentado bem, apesar das pressões, indo até o fim em seu caminho para a ONU. Pela primeira vez, os palestinos estão sentindo que passaram por uma etapa decisiva na direção da independência de sua pátria, certamente a mais histórica.
Na dezena de testemunhos recolhidos na Praça do Relógio, quase não há opiniões dissonantes, uma vez que todos fazem questão de não estragar uma festa que será breve, porque amanhã nada terá mudado na realidade da ocupação israelense. Não importa: “Os palestinos podem voltar a erguer a cabeça e se sentirem orgulhosos desse sucesso”, garante Hannadi Dar Ali, uma jovem mãe cercada de suas três filhas, que não se ilude sobre a reação dos israelenses: “Como eles entenderam que foi uma derrota para eles, vão querer se vingar”.
Todos têm em mente essa perspectiva das sanções, sem lhe dar muita importância. “Será difícil”, reconhece Mohamed Kamal, “a situação provavelmente se agravará, mas em quê nossa situação diária poderia piorar?” Essa sensação de fatalismo talvez seja a reação mais amplamente partilhada, embora haja uma nova esperança, alimentada por explicações fornecidas pelos dirigentes da Autoridade Palestina.
“Israel está isolado”
Mohamed Aidy e “Ramzy o desenhista” as aceitaram. A grande diferença em relação a ontem, eles afirmam, é que a Palestina se tornou “o 194º Estado da ONU, o Estado da Palestina nas fronteiras de 1967 com Jerusalém Oriental como capital, e isso muda tudo: de território disputado, passamos a ser um Estado ocupado, com o direito de nos defender”. “As regras do jogo mudaram, Israel está isolado. Todos nossos sofrimentos do passado, garante Mohamed Aidy, vinham do fato de que não tínhamos Estado. Agora temos os direitos de um Estado e a comunidade internacional não pode mais deixar Israel fazer o que bem entende”.
Mas isso é garantido? “Sim, certamente, os israelenses não poderão mais agir como antes”, concorda Farah Sawafta. Esse médico rodeado de sua esposa e quatro pequenas filhas exemplares tem um discurso combativo: “A vitória militar de Gaza é complementar à nossa vitória política desta noite. Israel precisa entender que defenderemos nossos direitos por todos os meios. Se eles atingirem Ramallah, nós podemos atingir Tel-Aviv”, uma alusão aos foguetes lançados sobre a capital econômica de Israel.
Já o Tribunal Penal Internacional é conhecido da maioria de nossos interlocutores. Todos defendem que os israelenses culpados de “crimes de guerra” sejam levados perante a essa instância. “Os israelenses têm medo dele”, se regozija Mahmoud Amdan, “então não se deve hesitar em apelar a ele”. Todos ou quase todos reconhecem que as negociações diretas com Israel são um mal necessário, mas são poucos os que acreditam na possibilidade de progressos.
A começar pelo relojoeiro Taher, que não “se convenceu nem um pouco” com o “circo na ONU”. “O Hamas tem razão, somente a luta armada compensa, vimos isso em Gaza”, acredita esse “cidadão de Ramallah” de convicções bem sólidas: “O que foi tomado [pelos israelenses] à força só pode ser retomado à força.” Ele se explica: “Nada será conquistado através da negociação; não conseguimos nada desde os acordos de Oslo ], ou então teremos de esperar mais 50 anos! A solução, ele conclui, está em mais violência e mais sangue”.
Taher, o defensor da luta armada, não era unanimidade entre os passantes que se aproximavam. A maioria acredita que Mahmoud Abbas “se fortaleceu perante Israel”, mas eles não têm muita certeza das vantagens que devem esperar disso. Uma coisa é certa, reconhece Nazir Falleh: “Não será para amanhã…”
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" A começar pelo relojoeiro Taher, que não “se convenceu nem um pouco” com o “circo na ONU”. “O Hamas tem razão, somente a luta armada compensa, vimos isso em Gaza”, acredita esse “cidadão de Ramallah” de convicções bem sólidas: “O que foi tomado [pelos israelenses] à força só pode ser retomado à força.” Ele se explica: “Nada será conquistado através da negociação; não conseguimos nada desde os acordos de Oslo ��], ou então teremos de esperar mais 50 anos! A solução, ele conclui, está em mais violência e mais sangue”.==== Então, q se armem, e q lutem. Q marte lhes conceda a vitória, é até por justiça. Sds.
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