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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

"Não estou de acordo com o plano de transição para o Iêmen", diz general Yehya

General Yehya Mohamed Abdallah Saleh

A revolta popular pela mudança dividiu os poderes tradicionais do Iêmen, o exército e as tribos. De um lado, o general Ali Mohsen, no comando da Primeira Divisão Blindada, e o poderoso clã dos Al Ahmar decidiram apoiar o apelo para que o presidente Ali Abdallah Saleh deixe o poder. De outro, Saleh conta com a lealdade da Guarda Republicana, sob o comando de seu filho Ahmed; as forças da Segurança Central, dirigidas por seu sobrinho Yehya, e o serviço secreto, nas mãos de seu sobrinho Ammar.

Embora os três homens sempre tenham se mantido em segundo plano, o comandante geral do estado-maior da Segurança Central, Yehya Mohamed Abdallah Saleh decidiu defender a posição de seu tio e a questionada atuação das forças de segurança. Apesar do ar marcial que se respira no quartel da Segurança Central em Saná, o general Yehya, 46 anos, mostra-se cordial quando recebeu "El País" no domingo de manhã. Veste uniforme de campanha e é acompanhado por duas mulheres militares, além de seu chefe de relações-públicas e vários soldados que gravam a entrevista em vídeo.

Ele mede suas palavras, mas em duas ocasiões dá a entender que Washington está demorando para lhes entregar os resultados da investigação sobre o atentado contra o presidente Saleh em junho, para pressioná-lo a aceitar o plano de transferência do poder apadrinhado pelo Conselho de Cooperação do Golfo, com o apoio dos EUA e da UE. "Não estou de acordo com essa iniciativa", declara sem rodeios.

El País: Como vai a investigação sobre o atentado contra o presidente Saleh? Têm alguma pista?
General Yehya: O momento e a forma como foi realizado indicam que não só tentavam assassinar o presidente, como acabar com o regime político e constitucional. Mataram o presidente do Conselho Consultivo, oficiais do exército e feriram vários ministros e outros altos cargos políticos. A gravidade do atentado exigiu a cooperação de outros serviços de segurança e o apoio de especialistas dos EUA. Esperamos que os resultados da investigação não sejam utilizados pela oposição para tirar vantagem política nas atuais negociações, nem para pressionar o regime político. Todos buscamos justiça, tanto aqui como nos EUA. Queremos que os EUA nos entreguem os resultados.

El País: A oposição e a comunidade internacional acusam as forças que o senhor dirige de empregar força excessiva contra os manifestantes. O que tem a dizer sobre isso?
Yehya: Não é verdade que minhas forças façam uso excessivo da força, embora tenhamos material, armas e pessoal para fazê-lo. Como país democrático, temos forças não para reprimir mas para proteger a população. Nosso regime democrático, à diferença das ditaduras, aceita as manifestações pacíficas. Só quando não o são, toma as medidas necessárias através das unidades antidistúrbios. Só utilizam canhões de água, cassetetes ou gás lacrimogêneo contra os que realizam sabotagem. Quando os manifestantes têm autorização e atuam de forma pacífica, não intervimos. Se o fazemos é em resposta à agressão dos manifestantes ou porque ultrapassam as linhas vermelhas, como ocorreu em 18 de setembro, quando atiraram pedras e coquetéis Molotov, ou disparam. Tivemos 300 soldados feridos, alguns deles por bala, ocasionados pelos que protegiam os manifestantes ou os do Hizbollah.

El País: O senhor se refere às forças do general dissidente Ali Mohsen?
Yehya: Com efeito.

El País: Por que nos setores da cidade que estão sob o controle de suas forças há tantos civis armados? Quem são eles? A quem respondem?
Yehya: Nós nos opomos a que os civis armados participem do conflito. Os que você vê são grupos que vêm apoiar nossas forças de forma voluntária e à margem de nosso controle.

El País: Então não estão sob suas ordens?
Yehya: Não. São só forças de apoio.

El País: Do seu ponto de vista, que tipo de conflito atravessa o Iêmen? O que está em jogo?
Yehya: A crise política repercute na segurança. Os distúrbios afugentaram os grandes empresários e os confrontos na capital e em outras regiões fecharam fábricas, interromperam o comércio e criaram o pânico entre os cidadãos. Os que apoiam o Partido do Congresso [governista], a Guarda Republicana e as forças de segurança estão sendo assediados. A falta de segurança obrigou o fechamento das universidades, escolas, centros oficiais. Está afetando a vida da população. A sabotagem está causando falta de eletricidade, gás e gasolina. Também está influindo em nossas relações internacionais. Muitas delegações cancelaram visitas. A cooperação internacional se reduziu e os especialistas partiram.

El País: Até que ponto a crise é fruto de rivalidades pessoais entre o presidente Saleh e o general Ali Mohsen e o clã Al Ahmar?
Yehya: O atual conflito é entre o poder e a oposição. Ali Mohsen e os filhos do xeque Al Ahmar sempre estiveram com o governo, inclusive com cargos importantes no Partido do Congresso e às ordens do presidente, mas quando começaram os protestos e viram a rápida queda dos regimes na Tunísia e no Egito pensaram que aqui fosse acontecer o mesmo e passaram para o outro lado. Foram idiotas e torpes. Cometeram um erro de cálculo porque não analisaram corretamente as causas que levaram a essa situação na Tunísia e no Egito e seu efeito sobre o Iêmen. Aqui o regime defende o povo, defende a democracia e as eleições. Em qualquer outro momento, as dificuldades que o povo está passando o teriam levado a sublevar-se, mas está a favor do regime e não da oposição porque conhece seu passado negro e o futuro obscuro que lhe depararia. Sabem que a ideologia da oposição vai contra a unidade do país.

El País: Em todo caso, a comunidade internacional está muito preocupada e apoia o chamado plano do Conselho de Cooperação do Golfo. Qual a sua opinião sobre esse plano?
Yehya: Pessoalmente, não estou de acordo porque a solução política deveria respeitar a Constituição e não o faz. Não deveríamos ter aceitado esse plano depois do atentado. Deveríamos conhecer os resultados da investigação o mais cedo possível e levar os responsáveis à justiça, em vez de utilizar [essa informação] como trunfo na negociação do plano. É preciso julgá-los.

El País: A oposição acusa o presidente Saleh e sua família de se aferrar ao poder e não estar interessados no plano do Golfo. No entanto, o presidente disse que o aceita. Como podemos saber se ele fala a sério?
Yehya: É o povo que se aferra a nós. Por isso não podemos abandoná-lo. Estou plenamente convencido de que toda a população está conosco. Se não fosse assim, teríamos partido desde o primeiro momento porque o plano nos favorece, nos oferece imunidade, ninguém pode nos levar diante de um tribunal local ou regional, e nos permite deixar o país com tranquilidade e com o que quisermos levar. Mas não podemos entregar o país a milícias de assassinos e ladrões que vão destruí-lo. Sinto pena dos jovens que gostariam de reformar a política de forma pacífica e legítima. Agora não há mais uma revolução juvenil na praça. Os que estão nas praças são criminosos, assassinos, ladrões e gente que não respeita a lei. Altos oficiais que violam as propriedades privadas, roubam a liberdade do povo e inclusive o corrompe moralmente. Em suas áreas, recebem garotas extraviadas e inclusive houve casos de violações de crianças. Tudo isso está nas mãos da justiça.

El País: Por que o presidente regressou da Arábia Saudita?
Yehya: Porque este é seu país. Para onde iria regressar?

El País: Pergunto-lhe porque se fala em tensões entre o Iêmen e a Arábia Saudita. Como se encontram suas relações bilaterais em termos de segurança?
Yehya: Temos boas relações com todos os países do mundo e sobretudo com nossos vizinhos, especialmente com a Arábia Saudita, e muito em particular desde que é dirigida pelo rei Abdallah.

El País: E com os EUA? O senhor declarou que esse país reduziu sua cooperação antiterrorista com o Iêmen. Em que aspectos concretos? Como isso o está afetando na prática?
Yehya: Sim, reduziram os programas de treinamento e os contratos para nos abastecer de material militar, assim como de armas. Isso se deveu à situação de insegurança que atravessa nosso país e que faz que seus especialistas temam por sua vida.

El País: Para terminar, considera que existe risco de que o Iêmen se precipite em uma guerra civil?
Yehya: Não. Não à guerra civil. Sem dúvida há pessoas que o desejam, mas as autoridades estamos fazendo todos os esforços possíveis para garantir a soberania e a integridade nacional. Evitamos que chegue ao ponto de uma guerra civil, mas sabemos que a outra parte nos inveja e tem uma mentalidade infantil e adolescente no terreno político. Suas más intenções foram vistas quando ocuparam a sede de alguns ministérios e outros órgãos oficiais. Não era necessário. Também não era preciso que a Primeira Divisão fizesse ostentação de força levando à rua suas armas e veículos blindados. Como declarou o presidente ontem, essa forma de atuar demonstra que, se chegarem ao poder, não vão promover uma sociedade nem civilizada nem civil. Não sabem o que é civilização. Cada dia que passa vemos como sua imagem se deteriora. Sua maquiagem escorreu.

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