Angela Merkel, Chanceler da Alemanha, desde que chegou ao poder na Alemanha é considerada a mulher mais poderosa do mundo |
Enquanto grupos de pioneiras progressistas e de feministas nos Estados Unidos estão lançando ativistas à medida que as eleições de 2012 se aproximam, um número notável de mulheres – pela primeira vez na história – está ocupando papéis no cenário internacional como lideranças do novo século neste momento de crise econômica.
No Brasil, a presidente Dilma Rousseff, 63, uma economista e ex-militante marxista, lidera a sétima maior economia do mundo. No primeiro ano dela como a primeira mulher a governar o Brasil, o país experimentou o seu maior crescimento dos últimos 25 anos.
Nos últimos dez anos, 30 milhões de brasileiros saíram da condição de pobreza e ingressaram na classe média, e o país tornou-se um dos principais credores de Washington, criou uma sociedade de consumo que gasta bastante e gerou empregos bem pagos e negócios que estão atraindo bancos, investidores, firmas de direito e engenheiros estrangeiros. O setor imobiliário está em expansão. O Rio de Janeiro é atualmente a cidade mais cara da América, e vastas reservas de petróleo foram descobertas no alto-mar.
Mas existem também grandes problemas no Brasil: a inflação, um setor industrial que sofre desaceleração e gastos enormes com a previdência social, os salários e projetos gigantescos para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
Como é que Rousseff poderá gerenciar esse colosso – a nação mais rica, de maior território, de maior diversidade racial e mais extravagante da América do Sul?
“Dilma Rousseff está de olho no futuro e na meta de eliminar a pobreza e tornar o país mais igualitário”, afirma Mário Garnero, presidente do Brasilinvest, uma agência de desenvolvimento privada e banco de investimentos de negócios, e diretor dos Fórum das Américas e da Associação das Nações Unidas-Brasil. “Ela é inimiga da corrupção, não tem uma postura antiamericana e está enfatizando bastante os planos sociais e de combate ao pobreza, enquanto, ao mesmo tempo, é amiga do empresariado”.
Garnero, um empresário proeminente, um quase diplomata e um famoso consultor de políticas governamentais que já teve na lista dos seus contatos líderes políticos e papas, esteve recentemente em Nova York para presidir uma conferência sobre desenvolvimento sustentado, um evento que durou um dia inteiro no Harvard Club, e do qual participaram 500 lideranças internacionais empresariais e políticas, incluindo Bill Clinton, que encerrou o simpósio com uma análise profunda da crise econômica.
Como especialista nas alavancas do poder, Garnero falou na semana passada sobre as mulheres que estão ocupando o novo palco global. Além de Rousseff, ele mencionou a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Rodham Clinton, a chanceler alemã Angela Dorothea Merkel, e Christine Madeleine Odette Lagarde, a nova diretora do Fundo Monetário Internacional.
“Hillary Clinton projeta a imagem de um novo Estados Unidos que entende que o poder está mudando drasticamente e que as potências precisam pensar em um mundo interdependente, sem supremacia, mas com necessidade de diálogo”, disse ele.
Hillary Clinton, 63, a primeira mulher norte-americana a disputar seriamente a candidatura presidencial democrata à presidência dos Estados Unidos, é uma das figuras públicas mais populares do país. Ela foi altamente elogiada como a principal diplomata dos Estados Unidos e promotora infatigável dos direitos da mulher. Embora Hillary Clinton venha insistindo em dizer que não concorrerá mais, ela faz parte de várias listas de potenciais candidatos presidenciais para 2016.
Quanto a Christine Lagarde, 55, a primeira mulher diretora do Fundo Monetário Internacional, “com uma mão forte por detrás de um belo sorriso, ela está conduzindo o FMI rumo a um papel de proeminência na grande reestruturação das dívidas pela qual a maioria dos países do G-7 passará”, explicou Garnero. Lagarde assumiu a direção do FMI depois que Dominique Strauss-Kahn renunciou devido a um escândalo sexual em maio, em Nova York. Defensora do livre mercado, Lagarde, que supervisiona uma instituição que possui 2.500 economistas e assessores de políticas econômicas, é favorável a orçamentos rígidos e a cortes de despesas.
Angela Merkel, 57, é a primeira mulher a ocupar o cargo de chanceler da Alemanha, a maior economia da Europa, e, como tal, ela é uma líder da fragmentada União Europeia. Ultimamente, ela tem caminhado em uma corda bamba, tentando encontrar uma maneira de estabilizar a crise da dívida, de manter a zona do euro unida e de não perder o seu cargo. “Será que ela manterá o domínio da Alemanha na Europa, e, ao mesmo tempo, a sua popularidade e a sua coalizão política à tona?”, questionou Garnero.
Sem o controle do poder estatal, mas com uma grande plataforma para projeção da sua imagem, Michelle Bachelet, 60, a primeira mulher presidente do Chile, é atualmente a diretora executiva da Entidade das Nações Unidas para a Promoção da Igualdade entre os Gêneros e do Poder das Mulheres.
Bachelet, que há muito defende os direitos das mulheres e que foi prisioneira política durante o regime do general Augusto Pinochet, tem enfrentado a falta de recursos financeiros nas Nações Unidas, e há quem acredite que ela retornará ao Chile para disputar a eleição presidencial de 2013. Nesta semana, porém, ela seguiu para a Europa, dando seguimento à sua missão de promover o poder das mulheres (a lista de mulheres que não contam com poder estatal mas que têm uma grande plataforma política ficaria incompleta sem uma outra Michelle. Michelle Obama, que está usando a sua posição na Casa Branca para promover a preocupação com um direito humano básico: a saúde, e especialmente a saúde que pode ser obtida por meio de uma alimentação correta e a prática de exercícios).
Qualquer que seja a opinião sobre a ascensão das mulheres, um símbolo do avanço delas no cenário global foi a concessão do Prêmio Nobel da Paz na semana passada a três mulheres da África e do mundo árabe: a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, 72, a primeira mulher eleita a governar um país na África; a ativista liberiana Leymah Gbowee, 39; e Tawakkol Karman, 32, que iniciou a revolta contra o governo do Iêmen.
“O impacto global das mulheres em posições de liderança é tão empolgante quanto aquilo que está ocorrendo no cenário nacional”, afirma Jessica McIntosh, porta-voz da Lista Emília, que promove candidatas políticas nos Estados Unidos. “Quanto mais mulheres jovens e garotas puderem ver mulheres no poder, mais provável será que elas sejam capazes de se visualizar ocupando tais cargos no futuro”.
Talvez as mulheres dos Estados Unidos, após terem fornecido ao mundo uma poderosa mensagem de luta pela igualdade, possam agora aprender algo. Gbowee, falando em Nova York no Centro Inter-Igrejas depois que soube que recebeu o Prêmio Nobel, disse à plateia que “o mundo está de ponta-cabeça, e que a nossa sociedade encontra-se de cabeça para baixo”. Ela criticou os Estados Unidos por carecerem de estímulos suficientes à promoção da mudança social. “Não basta que nós nos sintamos confortáveis e digamos que os problemas do mundo pertencem ao mundo”, disse ela. “Um dia os problemas do mundo acabam batendo à nossa porta”.
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