Violência mortal irrompeu na sexta-feira (28) na volátil região de Xinjiang, no extremo oeste da China, a segunda vez em três diz que as tensões entre a minoria uigur, em grande parte muçulmana, e as forças de segurança chinesas provocaram derramamento de sangue na área.
O mais recente confronto ocorreu no distrito de Hotan, no sul de Xinjiang, cuja população é predominantemente uigur. Os uigures são um grupo de língua túrcica que compartilha muitas afinidades com os povos da Ásia Central, e a maioria segue formas relativamente moderadas do Islã sunita. Muitos uigures se ressentem do número crescente de chineses han, que foram atraídos para Xinjiang por empregos na agricultura, produção de energia e mineração.
O confronto na sexta-feira provavelmente alarmará o governo chinês. Ele ocorre apenas dois dias depois de um confronto no distrito de Turpan, outra parte de Xinjiang, que deixou 35 mortos, segundo a agência de notícias estatal "Xinhua". Naquele episódio, disse a "Xinhua", uma multidão atacou uma delegacia de polícia e as repartições do governo na quarta-feira, com a polícia disparando contra os desordeiros. A "Xinhua" disse que os desordeiros mataram 24 pessoas, e os policiais mataram a tiros 11 desordeiros.
"Agora nós estamos vendo os casos violentos se tornarem mais frequentes, infelizmente", disse Alim A. Seytoff, o presidente da Associação Uigur Americana, um grupo exilado com base em Washington que faz campanha pela independência do território natal uigur, que seus defensores chamam de Turquistão Oriental. "É possível ver a partir desses casos de violência a intensificação do regime repressivo chinês na região."
Os confrontos dessa semana ocorreram pouco antes do quarto aniversário do grande derramamento de sangue em Urumqi, a capital regional de Xinjiang, em 5 de julho de 2009. Pelo menos 197 pessoas foram mortas na ocasião, depois que a polícia dispersou um protesto dos uigures e o confronto deu lugar a ataques pelos manifestantes contra pessoas de etnia han, que são maioria na China. Manifestantes chineses han marcharam posteriormente nos bairros uigures, alguns atacando os lares com tijolos e machadinhas. A polícia nunca disse quantos morreram ou ficaram feridos nesses distúrbios de vingança.
Yanh Shu, um professor chinês que estuda os distúrbios em Xinjiang, disse que a violência recente reflete as queixas dos uigures com as desigualdades sociais e com o deslocamento provocado pela modernização econômica, a crescente influência de correntes militantes do Islã e a deterioração das relações étnicas desde 2009. Em julho de 2011, 18 pessoas morreram quando manifestantes em Hotan invadiram uma delegacia de polícia.
"O incidente de 5 de julho é um grande fator", disse Yang, reitor do Instituto para Estudos Centro-Asiáticos da Universidade de Lanzhou, no noroeste da China, em uma entrevista por telefone. "Foi um divisor de águas. Depois, as relações entre uigures e chineses han claramente deterioraram. Nós não podemos evitar esse problema."
A economia da região de Xinjiang cresceu 12% em 2012 em comparação a 2011, mas muitos uigures se queixam de que os empregos mais bem remunerados, terras e oportunidades de negócios estão fora de seu alcance. Os uigures representam pouco menos da metade dos 22 milhões de habitantes civis de Xinjiang; os chineses han representam 40%, segundo os dados do governo. A área de Hotan conta com cerca de 2 milhões de habitantes, quase 97% deles uigures, segundo dados do censo de 2010.
As restrições do governo a mesquitas e práticas muçulmanas também se tornaram uma crescente fonte de tensões, especialmente entre os uigures atraídos às formas mais conservadoras do Islã. A violência mais recente ocorreu menos de duas semanas antes do início do Ramadã, o mês sagrado muçulmano. Alguns governos locais em Xinjiang buscaram desencorajar os uigures de seu jejum habitual nesse período.
Xinjiang tem fronteiras com os países centro-asiáticos, assim como o Paquistão e o Afeganistão. Ela foi controlada pelas forças comunistas chinesas em 1949 e trechos ainda são controlados por organizações produtoras semimilitares, que dirigem fazendas imensas para produção de algodão, tomate e outras culturas.
Em abril, 21 pessoas em Xinjiang morreram em um choque entre as forças de segurança e pessoas que o governo chamou de "gângsteres", que disse serem uigures. Em março, dois tribunais condenaram e sentenciaram 20 pessoas acusadas de promoverem o separatismo na região.
O governo chinês atribui com frequência a violência em Xinjiang aos grupos militantes que buscam a independência, especialmente o Movimento Islâmico do Turquistão Oriental. Mas defensores da autodeterminação uigur dizem que a violência frequentemente é uma resposta local espontânea às detenções em massa e outros métodos policiais severos.
"Eles não são o que o governo chinês frequentemente os acusa ou apenas declara --terroristas", disse Seytoff, o presidente da Associação Uigur Americana. "As políticas repressivas chinesas levaram alguns uigures comuns ao desespero máximo."
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