quinta-feira, 4 de abril de 2013
Viagem de Hollande a Marrocos serve para "reconhecer que está tudo bem"
Uma maratona diplomática em 36 horas. François Hollande começa, na quarta-feira (3), uma visita oficial ao Marrocos, mais de três meses após sua viagem pela Argélia. Ainda que essa viagem presidencial a Casablanca e Rabat não tenha a carga simbólica e política daquela efetuada em dezembro de 2012 em seu grande rival e vizinho magrebino, Paris, diante "do jogo de chantagem afetiva" entre os dois países, para usar a expressão de um diplomata, pretende tomar cuidado com a "suscetibilidade" do anfitrião marroquino.
Ali gostam de lembrar que o rei do Marrocos, Mohammed 6o, na época em visita particular pela França, foi o primeiro chefe de Estado recebido no palácio do Eliseu por François Hollande, poucos dias após sua posse. Que o primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, havia sido enviado em delegação a Rabat em dezembro de 2012, algumas horas antes da viagem a Argel. E que o Marrocos é até hoje "o país para onde mais enviaram ministros desde a eleição de François Hollande".
A relação franco-marroquina é primeiramente um jogo contínuo de equilíbrio, com alternância ou não. Na França, o socialista François Hollande substituiu Nicolas Sarkozy; no Marrocos, os islamitas do Partido Justiça e Desenvolvimento (PJD) dirigem pela primeira vez o governo, desde novembro de 2011, mas nada conseguiria romper o laço entre Paris e Rabat.
É um eufemismo dizer que a visita do presidente francês se dará com grande pompa. O chefe do Estado será recebido no aeroporto de Casablanca por Mohammed 6o, acompanhado pela cavalaria da guarda real até o palácio onde ele conversará com o rei, antes de um jantar oficial. Nessa "visita bastante protocolar, que atende a um certo número de exigências cerimoniais", a comitiva de Hollande insiste em um encontro menos solene: a recepção que será oferecida a este último pela família real na residência de Anfa. "O importante é que o rei receba o presidente com sua família. É a primeira vez que eles se verão tão demoradamente. Mohammed 6o quis que fosse em um contexto bem informal para criar sua relação pessoal com o presidente".
A presidência da França não corrobora de jeito nenhum a hipótese de uma relação privilegiada, nem mesmo de qualquer proximidade entre o rei do Marrocos e Nicolas Sarkozy. Tanto que até parece ter esquecido a visita do antecessor de Hollande a Marrakesh, após sua derrota na eleição presidencial de maio de 2012, a convite do rei. "Nicolas Sarkozy levou tempo até criar uma relação pessoal com Mohammed 6o. E não há indícios de que o rei o considere um queridinho", diz um colaborador do chefe do Estado.
Então, entre o presidente e o monarca, entre a República e o reino, estaria indo tudo muito bem. "A relação com o Marrocos é muito densa, muito saudável. Não há nenhum problema. Não é uma relação que precise de chacoalhões", diz uma fonte diplomática. Ela resume o principal motivo da viagem: "Reconhecer que está tudo bem, fazer com que tudo continue indo bem. Não podemos reinventar nossa política a cada seis meses".
Na verdade, é um delicado exercício de realpolitik árabe que Hollande estaria tentando, entre um discurso perante o Parlamento e um debate com os estudantes da universidade de Rabat, uma conversa com o primeiro-ministro vindo do PJD Abdelillah Benkirane, e um encontro com cerca de vinte personalidades da sociedade civil – "um momento positivo que permitirá que o presidente saúde a abertura do cenário político, social, o dinamismo das associações marroquinas", segundo um de seus conselheiros.
É nessa ocasião que Hollande deve mencionar "assuntos menos fáceis": direitos humanos, estatuto da mulher, problemas no sistema judiciário, questões relativas à corrupção. Ou então as mais específicas da relação franco-marroquina, como a questão dos filhos de casais mistos despachados ilegalmente. Ou ainda a liberdade de imprensa, da qual o Marrocos pretende ser um modelo, mas que tem sofrido algumas sérias infrações: há meses as autoridades marroquinas vêm recusando credenciais a dois jornalistas da Agence France-Presse, entre eles Omar Brouksy, destituído do precioso documento por ter redigido uma nota para a AFP que desagradou o governo – "um caso que está sendo acompanhado de perto", jura Paris.
Tampouco há certeza de que esses assuntos que possam ofender o anfitrião marroquino serão o cerne da visita de Hollande, e muito menos de que serão mencionados com estardalhaço. "Não são problemas estruturais na relação bilateral, que é impecável. E assumimos isso", dizem no palácio do Eliseu, onde provavelmente se observou com alívio a libertação, no dia 29 de março, de dois jovens militantes, entre eles o rapper Mouad Belghouat, conhecido como L7a9ed. Considerado como a voz do Movimento do 20 de Fevereiro, um movimento de contestação nascido no rastro da "primavera árabe", ele cumpriu um ano de prisão fechada por ultraje a agentes de polícia após a divulgação de um vídeo clipe. Recentemente, a conhecida cronista do jornal em língua árabe "Akhbar al-Yaoum", Fatima Ifriqui, que também defendeu o Movimento do 20 de Fevereiro, anunciou que estava deixando de escrever depois de ter recebido ameaças contra sua família.
A presidência francesa pretende privilegiar os sinais de abertura, como o que está sendo dado em relação ao islamismo marroquino com a visita particular do presidente e de sua companheira, Valérie Trierweiler, à mesquita Hassan II de Casablanca. "É simbolicamente importante que o presidente e sua companheira tirem os sapatos e visitem a mesquita", afirma um conselheiro.
Em grande comitiva ministerial (nada menos que 9 membros do governo) e patronal (cerca de 60 presidentes de empresas), François Hollande, acompanhado de diversas personalidades, entre elas o presidente do Conselho Francês do Culto Muçulmano, Mohammed Moussaoui, ou ainda Dov Zerah, diretor-geral da Agência Francesa de Desenvolvimento, terá inicialmente como missão, no plano econômico, defender as posições francesas diante da crescente concorrência espanhola.
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