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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Rússia tenta preservar seus interesses na Síria propondo uma conciliação no país

Aliada histórica do regime sírio, Moscou se esforça para garantir o futuro recebendo a oposição



Depois de ter dado seu veto na ONU ao projeto de resolução condenando a repressão na Síria – 2.900 mortos desde março - , a Rússia tem procurado minimizar sua proximidade com o regime de Bashar Al-Assad dando garantias à oposição. Na terça-feira (11), uma delegação de opositores sírios será recebida em Moscou, que será sucedida por uma segunda pouco depois. “Não há alternativa ao diálogo, é essa nossa posição”, declarou o vice-ministro das Relações Exteriores Mikhail Bogdanov, no domingo (9).

Enquanto os diplomatas russos sonham com uma mediação em Moscou entre o presidente sírio e a oposição, o presidente Dmitri Medvedev demonstrou audácia ao declarar que Bashar Al-Assad deveria “fazer uma reforma ou partir”. Não que ele tenha simpatia pela oposição síria, acusada por ele alguns dias antes de contar com elementos “extremistas”, ou até “islamitas”.

“Estamos trabalhando ativamente com os dirigentes sírios para que eles realizem reformas indispensáveis. Se eles não forem capazes de conduzir essas reformas, devem partir”, declarou secamente Medvedev durante uma reunião do Conselho de Segurança russo, no dia 7 de outubro. “Mas cabe ao povo e ao regime sírio decidirem isso, e não à Otan ou a certos países europeus”, disse.

O presidente avisou que seu país continuaria a bloquear na ONU qualquer projeto de sanção visando uma mudança de regime. Aliada de longa data da família Assad, a Rússia tem grandes interesses a defender na Síria: uma base naval sendo reformada em Tartus (a única em mar quente, junto com Sebastopol na Crimeia), US$ 4 bilhões (R$ 7 bilhões) em contratos para fornecimento de armamentos, 20 bilhões em investimentos em gás e petróleo.

Líder no setor de construção de gasodutos, a empresa Stroytransgaz está desenvolvendo um projeto de mais de US$ 1 bilhão no local. Mas, no dia 5 de outubro, no dia seguinte ao veto russo e chinês na ONU, os escritórios da Stroytransgaz em Homs foram metralhados por homens armados. No mesmo dia, em Deraa (sul), milhares de pessoas pisotearam as bandeiras russa e chinesa em sinal de descontentamento.

Temendo que comece a haver protestos, Moscou tem se esforçado para agradar os dois lados. Está fora de cogitação apoiar sanções que penalizem a Rosoboronexport, a agência de exportação de armamentos, que teve de “esquecer” um contrato de 4 bilhões fechado entre a Líbia de Muammar Gaddafi, após ter renunciado, por causa de sanções sobre a questão nuclear iraniana, à entrega dos S-300 prometidos à República Islâmica. Mas é igualmente importante fazer contatos com a oposição.

Uma coisa é certa: a Rússia não quer na Síria uma intervenção militar do mesmo tipo que a Otan conduziu na Líbia. Na época, Dmitri Medvedev havia optado pela abstenção e a resolução sobre a Líbia passou. Uma posição logo criticada publicamente por seu mentor, Vladimir Putin. Agora, essa página já foi bem virada.

Com a volta anunciada de Putin ao Kremlin, a diplomacia russa retomou a antiga direção. “O que a Rússia fez com a Líbia foi uma exceção. Quando a zona de proteção aérea se transformou em ação militar em grande escala, os dirigentes russos voltaram atrás em suas posições”, explica Fiódor Lukianov, redator-chefe da revista “A Rússia na Política Global”.

Teria o Kremlin medo das revoluções árabes? “Medo, não, pois a sociedade russa é diferente”, garante Lukianov. “O que aconteceu na Líbia não era em si uma questão líbia. Ao denunciar esse regime como ilegítimo, a Europa legitimou um grupo de opositores. O poder foi transferido para outro grupo. A questão não é o Gaddafi que, efetivamente, perdeu sua legitimidade. Mas o fato de que seus bens pudessem ser congelados rapidamente, foi isso que chamou a atenção aqui na Rússia”.

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