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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Índia olha para a China como modelo de crescimento econômico

Parece ser uma obsessão nacional na Índia: medir o desenvolvimento econômico do país tendo a China como parâmetro.

Em uma recente mesa redonda celebrando o 20º aniversário do desmanche pela Índia de partes de sua economia socialista, um ministro do governo disse a líderes empresariais para manterem sua atenção no grande prêmio: crescer a uma taxa maior que a da China.
“Isso não é impossível”, disse o ministro, Palaniappan Chidambaram, que supervisiona a segurança nacional e já foi ministro das Finanças. “As pessoas estão começando a falar em superar o ritmo de crescimento da China.”

Os indianos parecem, de fato, só falar da China, uma vizinha com a qual há muito eles mantêm um relacionamento difícil, mas que também é uma das poucas economias que apresentam taxa de crescimento anual de 8% ou mais nos últimos anos.

Os jornais da Índia estão repletos de artigos comparando os dois países. Os executivos indianos se referem à China como exemplo de desenvolvimento. As autoridades do governo citam Pequim de modo variado, como ameaça, parceira ou modelo.

Mas se não ficar atrás dos Wangs é a força motriz econômica da Índia, a rivalidade parece ser unilateral.

“Os indianos estão obcecados com a China, mas os chineses estão prestando pouca atenção na Índia”, disse Minxin Pei, um economista que nasceu na China e que escreve uma coluna mensal para o “The Indian Express”, um jornal de circulação nacional. (Nenhum economista indiano escreve uma coluna regular para os jornais da China continental.)

A maioria dos chineses não se preocupa em como a Índia está crescendo e mudando, porque preferem comparar seu país aos Estados Unidos e à Europa, disse Pei, um professor do Claremont McKenna College, perto de Los Angeles. Ele diz que tenta organizar conferências sobre a Índia na China, mas tem dificuldade em encontrar chineses especialistas em Índia.

Liu Yu, um dono de loja de roupas em Pequim, repetiu o sentimento expressado por uma dúzia de chineses entrevistados em Pequim e Xangai, rejeitando a ideia de que os dois países possam ser comparados. Sim, ele disse, a Índia era “líder mundial” em tecnologia da informação, mas também tinha muitos “lugares atrasados, subdesenvolvidos”.

“A economia da China é especial”, disse Liu. “Se o desenvolvimento da China tem um modelo, é possível dizer que são os Estados Unidos ou a Inglaterra.”

É natural que os chineses olhem para cima na escada do desenvolvimento, para os Estados Unidos, agora que este é o único país no mundo com uma economia maior, em vez de para trás para a Índia, que está em 9º lugar. E apesar da China ser a maior parceira comercial da Índia, a maior parte das exportações da China vai para os Estados Unidos.

Mas para a Índia, a China representa o patamar mais alto almejado.

Como a Índia, a civilização da China tem milhares de anos de história e uma população de mais de 1 bilhão. E a China tem lições a oferecer porque, sob Deng Xiaoping no final dos anos 70 e início dos anos 80, ela iniciou a transição para uma economia mais aberta e competitiva uma década mais cedo que a Índia. Antes de Deng chegar ao poder, a economia da Índia era maior per capita do que a da China.

Sejam quais forem os motivos, os indianos comparam virtualmente todos os aspectos de seu país com a China. Infraestrutura (a China reconhecidamente está muito à frente). Forças armadas (a China é mais poderosa). Universidades (a China investe mais em suas instituições). Indústria de software (a Índia está bem à frente). Domínio da língua inglesa (a Índia conta com uma vantagem histórica, mas a China está alcançando).

A evidência da disparidade de interesse dos dois países pode ser vista em seus principais jornais. O “Diário do Povo”, o porta-voz do Partido Comunista chinês, publicou apenas 24 artigos mencionando a Índia em seu site de língua inglesa nos primeiros sete meses deste ano, segundo o banco de dados Factiva. Em comparação, “The Times of India”, o jornal de língua inglesa de maior circulação no país, publicou 57 artigos mencionando a China –apenas em julho.

Também há outras grandes diferenças. As cidades indianas, pequenas e grandes, estão repletas de restaurantes chineses que servem uma versão indiana, altamente condimentada, da culinária chinesa. Mas há poucos restaurantes indianos em Pequim e Xangai, muito menos nas cidades chinesas menores.

Em 2009, mais de 160 mil turistas indianos visitaram a China continental, segundo o governo chinês. Nem 100 mil turistas chineses visitaram a Índia, segundo o governo indiano.

Prakash Jagtap, que é dono de uma pequena firma de engenharia na cidade de Pune, no oeste da Índia, já esteve cinco vezes na China. Como muitos indianos, ele adora comida chinesa (a versão indiana) e só tem elogios para a diligência, persistência e disciplina chinesas em sua cultura e governo.

“Eles têm mais disciplina”, ele disse. “Aqui em nosso país, as pessoas não enxergam a longo prazo. Em vez disso, elas buscam apenas o curto prazo, tanto a administração quanto os trabalhadores. Nós precisamos mudar nossa cultura de trabalho.”

A declaração de Jagtap reflete a opinião de muitos indianos de que a China superou seu país em grande parte porque o sistema de partido único chinês é mais “disciplinado” do que a democracia vibrante, mas emaranhada, da Índia.

No início de julho, “The Economic Times”, o principal jornal financeiro da Índia, publicou uma exibição de slides em seu site intitulada “Por que a China os constrói e por que a Índia não”. A série de fotos mostrava grandes projetos de infraestrutura na China, incluindo uma ponte de 42 quilômetros ligando Qingdao ao distrito de Huangdao, do outro lado da Baía de Jiaozhou, na costa nordeste.

Os pontos de vista da Índia também foram moldados pela guerra de 1962, que terminou com a China tomando um pedaço do Estado da Caxemira, no norte da Índia. A fronteira entre os países ainda é contestada e a China reivindica um grande pedaço do território controlado pela Índia.

Raghav Bahl, um executivo de mídia indiano que escreveu um livro sobre a ascensão econômica dos dois países, disse que os indianos “nutrem um sentimento severo de humilhação” devido à guerra de 1962, que agora se soma à ascensão econômica da China.

“Há uma sensação de que se trata de uma corrida na qual poderíamos ter tido um desempenho muito melhor”, disse Bahl, autor de “Superpower? The Amazing Race Between China’s Hare and India’s Tortoise” (Superpotência? A incrível corrida entre a lebre da China e a tartaruga da Índia).

Mas ele acrescentou que os indianos recuperaram recentemente a confiança, em consequência da economia forte de seu país. Muitos, como Chidambaram e a revista “The Economist”, sugerem que a Índia pode em breve crescer em um ritmo mais forte que o da China. Sua economia, de US$ 5,9 trilhões, é aproximadamente três vezes e meia maior que a da Índia, mas com uma população muito mais velha que a da Índia.

Na China, entretanto, a Índia não é considerada uma ameaça, nem economicamente e nem de qualquer outro modo.

Pei, o economista, disse que autoridades, executivos e até mesmo intelectuais chineses não têm um entendimento cheio de nuances a respeito da Índia. Os conservadores comunistas insistem que “a democracia está atrapalhando o desenvolvimento da Índia”, ele disse.

Enquanto isso, os liberais chineses argumentam que a democracia torna a Índia mais estável e seu governo mais responsável –uma impressão que parece ignorar a frequente turbulência eleitoral do país e sua corrupção enraizada.

Mas o fascínio indiano com o sucesso econômico da China também é simplista, disse Pei. Apesar do governo de partido único poder ter facilitado para o país a construção de fábricas e infraestrutura nas últimas décadas, ele também foi responsável por grandes fracassos sob Mao Tsé-tung. Entre eles estão o Grande Salto à Frente e a Revolução Cultural, onde milhões de pessoas foram mortas, passaram fome ou foram perseguidas.

Mesmo agora, os líderes da China estão tendo dificuldade para conter o ultraje popular diante de um recente desastre de trem-bala, que muitos chineses atribuem à corrupção e clientelismo no Ministério das Ferrovias.

“Em ambos os países, o nível de conhecimento a respeito do outro é relativamente baixo”, disse Pei.

Mas ao menos várias pessoas entrevistadas na China reconheceram uma concorrência inerente entre os países, dado seu tamanho e rápido crescimento. Idealmente, elas disseram, será uma rivalidade saudável.

“Existe concorrência entre quaisquer países”, disse Hu Jun, um professor de 40 anos de Xangai. “Isso é bom. Se competirmos nas áreas de alta tecnologia e economia de energia, eu acho que beneficiará a todos.”

Na Índia, Shrayank Gupta, um estudante de 21 anos do renomado Instituto Indiano de Tecnologia, em Bombaim, repetiu esses sentimentos: “Certamente haverá uma corrida, porque os dois países são naturalmente competitivos, e o mundo dependerá de nós dois”.

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