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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Uma série de fracassos diplomáticos nos Estados Unidos e na Europa


Sessenta anos após Israel ter declarado a sua condição de Estado, os palestinos desejam seguir o exemplo nesta semana. Washington, Jerusalém e Berlim estão tentando impedir a medida. No entanto, a Primavera Árabe criou novas realidades no Oriente Médio que não podem mais ser abordadas somente por meios diplomáticos. À medida que a influência europeia e norte-americana diminui, a Turquia procura preencher a vaga que está sendo deixada pelo Ocidente.
Uma pessoa que derrubou um faraó é capaz de esperar – mesmo que isso signifique aguardar três longas horas até que o convidado chegue de Ancara para cortar uma fita e proferir algumas palavras amigáveis no jardim do Centro Cultural Turco no Cairo. “Nós precisamos de alguém como ele”, diz Beshoy Fayze, um jovem copta de cabelos encaracolados e óculos de estilo moderno, com aros brancos.
Fayze fez parte da revolução na Praça Tahrir. Ele participou das manifestações até Hosni Mubarak cair. Fayze capturou cada momento com a sua câmera, e acabou sendo até obrigado a permitir que o prendessem. Esta foi a sua revolução. Mas Fayze diz que cederia a liderança do movimento a “alguém como ele”, uma pessoa como o primeiro-ministro turco Recep Tayyp Erdogan.
Erdogan não tem aquela face de Che Guevara que os jovens revolucionários egípcios gostariam de imprimir em camisetas. Mas ele é a melhor coisa que o establishment político do país tem atualmente a oferecer. “Não importa o que aconteça, ele não deixa que ninguém lhe diga que não pode se manifestar contra Israel”, afirma Fayze. “Ele não se curva diante de ninguém, nem para os norte-americanos nem para os nossos generais. O Egito deveria ser como a Turquia”.
Cristãos egípcios como Fayze tem uma opinião especialmente favorável a respeito de Erdogan porque, apesar de ser um muçulmano devoto, o líder turco não se deixou controlar pela Irmandade Muçulmana.
Na segunda-feira passada, a Irmandade Muçulmana organizou uma recepção para Erdogan como se estivesse dando as boas-vindas a um membro do próprio grupo. Porém, já na terça-feira, Erdogan foi obrigado a desapontá-los ao dizer que a Turquia é um Estado secular e que é melhor que assim seja. Isso fez com que o clima de comemoração da Irmandade Muçulmana se dissipasse bem rapidamente.
O herói das ruas árabesNa semana passada, Erdogan embarcou em uma “viagem pela revolução”, visitando o Cairo, Túnis e Trípoli como o herói das ruas árabes. Enquanto o jornal turco “Turkish Daily News” o aclamava, comparando-o a Gamal Abdel Nasser, o ex-tribuno do povo do Egito, blogueiros israelenses procuravam traçar paralelos entre Erdogan e o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad.
Embora bem diferentes, ambas as comparações traziam um pouco de verdade: há duas semanas, Erdogan expulsou diplomatas israelenses graduados da Turquia com a fúria de um ditador e ameaçou enviar navios de guerra para o leste do Mediterrâneo porque Israel ainda se recusava a desculpar-se pelo se ataque de maio de 2010 contra uma flotilha internacional que transportava auxílio humanitário para uma Faixa de Gaza sitiada, em uma operação que resultou na morte de oito turcos de um cidadão norte-americano.
Ao mesmo tempo, Erdogan encarna a confiança e a tranquilidade de uma geração de árabes que estão prestes a enfrentar aquele tipo de crise diplomática que só ocorre uma vez em algumas décadas, mesmo no Oriente Médio. Na próxima sexta-feira, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, pretende fazer campanha para que um Estado palestino seja aceito na Organização das Nações Unidas (ONU) e, ao mesmo tempo, submeter uma inscrição ao secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, para tornar-se um membro integral.
Durante a sua visita ao Cairo na terça-feira, Erdogan afirmou que o reconhecimento internacional de um Estado palestino “não é uma opção, mas sim uma obrigação”, e que Israel tem agido como “uma criança mimada” há muito tempo. Ele perguntou por que dever-se-ia negar aos palestinos os mesmos direitos à autodeterminação que foram conquistados pelos tunisianos, egípcios e líbios. “Já é hora de hastear a bandeira palestina nas Nações Unidas”, declarou Erdogan.
Um salto de pantera sobre as Nações UnidasPouca gente no mundo árabe – e, na verdade, pouca gente em todo o mundo – criticaria essa última declaração de Erdogan. A ideia de que uma solução envolvendo dois Estados é a melhor forma de trazer a paz ao Oriente Médio é válida. E igualmente válida é a percepção de que, lentamente, está chegando a hora de colocar essa ideia em prática.
Mesmo assim, ainda existe um grupo de Estados e governos – incluindo Israel, os Estados Unidos e a Alemanha – que manifestaram abertamente a sua oposição ao “salto de pantera” de Abbas sobre as Nações Unidas.
Outros – incluindo, paradoxalmente, os próprios palestinos – estão divididos quanto a essa questão. O primeiro-ministro palestino Salam Fayyad, por exemplo, disse a “Der Spiegel” que preferiria receber da Assembleia Geral das Nações Unidas o status de observador do que se candidatar a membro integral junto ao Conselho de Segurança da organização.
Afinal, se os Estados Unidos na sexta-feira (23) cumprirem a promessa de exercer o seu veto no Conselho de Segurança, isso poderá provocar consequências sérias: o fato não só faria com que endurecesse a posição da Turquia e do Egito. O príncipe da Arábia Saudita, Turki al-Faisal, irmão e provável sucessor do ministro das Relações Exteriores do país, que está gravemente enfermo, anunciou que não dará continuidade à antiga cooperação do seu país com os norte-americanos na forma atual caso os Estados Unidos vetem a tentativa palestina de transformar-se em um Estado. O país que mais teria a perder com esse tipo de esfriamento das relações entre Estados Unidos e Arábia Saudita seria Israel.
Se os palestinos apenas buscarem o reconhecimento na Assembleia Geral da ONU, Israel poderá perder o apoio da União Europeia. A Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Catherine Ashton, está trabalhando febrilmente no sentido de chegar a um acordo com os palestinos que concederia a eles o status de Estado observador não membro, que é de certa forma análogo ao do Vaticano. Esse acordo também exigiria que os palestinos abrissem mão do direito de levar políticos israelenses ao Tribunal Criminal Internacional.
A maioria dos Estados membros da União Europeia provavelmente apoiaria uma solução como essa. Mas até o momento não há nenhum acordo à vista.
Israelenses acreditam que o país esteja cercadoUma tempestade está em formação para Israel, independentemente do desfecho desse processo. Atualmente, como não se via em um período de décadas, um número maior de israelenses acredita que o seu país esteja cercado por inimigos. A única diferença é que não são os governos dos países vizinhos que veem os israelenses como inimigos, mas sim as populações desses países.
O fato de Israel parecer estar tão isolado pode ser atribuído também em parte ao próprio governo israelense. Em vez de aproveitar a oportunidade histórica proporcionada pela Primavera Árabe, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu viajou a Sofia e a Bucareste e enviou o seu ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, a Tirana, como parte de uma tentativa orquestrada de forjar uma aliança nos Bálcãs. Mas conversações com a Romênia, a Bulgária e a Albânia não substituirão as negociações com o Egito, a Jordânia e a Turquia.
De fato, o governo de Israel adotou um tom de ceticismo nos seus comentários sobre as revoluções no mundo árabe, e as negociações com os palestinos estão arquivadas há mais de um ano. E desde que a Autoridade Palestina anunciou publicamente a sua tentativa de integrar-se à ONU, os políticos israelenses têm reclamado sem parar de que esse passo foi dado de forma unilateral.
Já faz algum tempo que os serviços de segurança de Israel têm alertado o governo para que este não desperdice esta oportunidade. Análises internas, algumas das quais foram publicadas pelo jornal israelense “Haaretz”, culminaram na conclusão de que as negociações são a única maneira de aliviar as tensões políticas. Nos últimos meses, vários ex-chefes de inteligência manifestaram opiniões similares. A líder oposicionista Zipi Livni acusou Netanyahu de ter provocado “a pior situação diplomática possível”. E até mesmo Ehud Barak, o ministro da Defesa de Netanyahu, teria criticado o seu chefe em uma reunião a portas fechadas, afirmando: “Ao exacerbar as tensões com os palestinos, nós estamos pedindo o isolamento de Israel”.
Olhando para o abismoDuas semanas atrás, quando uma multidão egípcia atacou a Embaixada de Israel no Cairo com marretas e talhadeiras, os dois lados viram-se olhando para o abismo. Enquanto diplomatas israelenses no Cairo se escondiam em uma sala dos fundos da embaixada, os seus colegas egípcios estavam na cobertura da Embaixada do Egito em Tel Aviv queimando documentos secretos. Os diplomatas egípcios haviam concluído que seriam expulsos imediatamente. E a situação realmente chegou muito próxima a ter esse desfecho.
Desde o choque provocado pela invasão da embaixada, vozes menos belicosas só foram ouvidas do lado israelense. “Nós precisamos reverter a tendência que foi criada na Turquia e que passou para o Egito”, disse Dan Meridor, o vice-primeiro-ministro de Israel. Jerusalém não deu nenhuma declaração oficial a respeito da ameaça de Erdogan de enviar navios de guerra. E Netanyahu mostrou-se quase efusivo nos seus agradecimentos ao conselho militar que atualmente está no poder no Cairo por ter salvado os seus diplomatas ao enviar tropas de uma unidade de elite que vestiu os israelenses com roupas árabes e transportou-os em segurança até o aeroporto. Até mesmo Lieberman, um indivíduo de linha dura que por fatos menos graves já quis bombardear a Represa de Aswean durante a era Mubarak, mostrou-se diplomático, declarando gentilmente que Israel fortaleceria o seu tratado de paz com o Egito.
“Os israelenses poderão ficar mais seguros em um universo de democracias árabes”, disse o colunista David Ignatius no jornal “The Washington Post” em meados de setembro. “Mas esse será um universo no qual fazer acordos e ceder são elementos necessários para a sobrevivência”.
Nenhum impulso político por parte de Washington é esperadoNo entanto, ao que parece, os Estados Unidos, a tradicional potência estabilizadora da região, ainda não deu nenhuma contribuição concreta para que se chegue a tal acordo. De fato, poucos presidentes norte-americanos colocaram a si próprios em uma situação tão embaraçosa no Oriente Médio em um espaço de tempo tão curto quanto Barack Obama. Foi ele que fez o apelo em setembro de 2010 pela criação de um Estado palestino dentro de um ano. Mas o governo dele cedeu diante do lobby norte-americano israelense que defende os assentamentos ilegais na Cisjordânia ocupada, alienando desta forma o moderado Abbas.
Enquanto isso, Obama está prestes a dar início a uma campanha pela reeleição na qual ele não acredita que possa ter sucesso sem a aprovação dos apoiadores de Israel que integram o seu eleitorado. Washington não deverá tomar qualquer medida séria no sentido de criar um impulso político no Oriente Médio antes da eleição presidencial do ano que vem.
Mesmo assim, a imagem que está sendo criada pelos europeus neste momento não inspira muito mais confiança. Os holandeses e os tchecos pretendem votar com Israel contra o reconhecimento do Estado palestino sob qualquer circunstância. A França, a Polônia, a Espanha, Portugal, a Bélgica, a Suécia, a Finlândia e Luxemburgo estão se inclinando a apoiar os palestinos. Já o Reino Unido está mostrando indecisão.
O governo alemão não está alimentando quaisquer ilusões. Fontes da Chancelaria e do Ministério das Relações Exteriores dizem que, na melhor das hipóteses, o Reino Unido, a França e a Alemanha precisam concordar quanto a uma posição comum que, por sua vez, será apoiada pela maioria dos Estados membros da União Europeia.
Temores na Alemanha quanto à possibilidade de isolamento dentro da União EuropeiaIronicamente, a principal obstáculo para que se chegue a esse tipo de posição comum é a Alemanha. Quando Netanyahu visitou Berlim em abril deste ano, a chanceler Angela Merkel disse que um reconhecimento unilateral da Palestina não contribuiria “sob quaisquer circunstâncias” para uma solução pacífica para a crise do Oriente Médio e que o governo dela manteria a mesma posição na ONU.
Ao fazer isso, Merkel adotou a posição do seu convidado e procurou compensar as várias ocasiões anteriores nas quais ela criticou Israel por permitir que a construção de assentamentos ilegais na Cisjordânica continuasse. Ela também tentou compensar um episódio ocorrido no início de 2011 no qual a Alemanha apoiou uma resolução contrária a Israel no Conselho de Segurança da ONU, que provocou uma troca de acusações acalorada entre Merkel e Netanyahu. De fato, quando Netanyahu telefonou para Merkel a fim de manifestar o seu desapontamento com o voto da Alemanha, Merkel teria respondido a ele, furiosa: “Como você ousa dizer isso?”.
À medida que a data da reunião da Assembleia Geral se aproxima, a Chancelaria alemã está ficando cada vez mais preocupada com a possibilidade de que a posição da Alemanha possa isolar o país dentro da União Europeia. Autoridades do Ministério das Relações Exteriores já consideraram um erro o compromisso assumido anteriormente por Merkel com Netanyahu. Até mesmo Christoph Heusgen, o assessor de política externa de Merkel, teria ficado insatisfeito com a declaração da chanceler.
E os franceses também estão irritados com a atitude da Alemanha. Um diplomata francês graduado reclamou de que o papel da União Europeia no Oriente Médio chegará ao fim se a Alemanha se tornar um obstáculo para o consenso. Ele acredita que isso só faria com que a Europa abrisse mão desnecessariamente de qualquer chance que atualmente possui de ter influência nessa questão.
Berlim ainda está esperando que os palestinos mudem de ideia, apoiando o plano de Ashton, e que os quase quatro milhões de habitantes que vivem na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental e na Faixa de Gaza concordem em contar com o status de observador, com base no modelo do Vaticano.
Mas ninguém sabe se qualquer dessas coisas ocorrerá. Conforme teme um diplomata do Ministério das Relações Exteriores alemão, a Alemanha poderia acabar sendo obrigada a votar a favor dos israelenses, “indo de encontro à sensatez”.
O resultado disso seria um vácuo político deixado por um Ocidente vacilante e tímido. Mas, no fim das contas, o Ocidente poderá ainda se dar por satisfeito pelo fato de o homem destinado a preencher esse vácuo chamar-se Erdogan e não Ahmadinejad.

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