Nicolas Sarkozy em Nova York |
Para voltar a colocar a França no centro do jogo do Oriente Médio, explicaram os conselheiros de Sarkozy em maio de 2007, era preciso construir pontes com Israel. Apagar as asperezas de uma relação bilateral atribulada. Tornar-se audível, ao romper com a imagem de uma França “pró-palestina”, carregada por quarenta anos de diplomacia “gaullista”.
Existe isso em Nicolas Sarkozy: a obsessão por fazer melhor, ou diferente, de seu antecessor. Há também algo de profundo, de sentimental, que fez dele o presidente da Quinta República mais popular em Israel. Essa história é de família. O interessado só a mencionou muito raramente em público – uma vez, em especial, durante uma visita à Grécia.
É a história de um avô materno, Benedict Aaron Mallah, judeu de Tessalônica, filho de joalheiro que chegou à França em 1904 aos 14 anos de idade. Uma história contada por testemunhas israelenses diz que, durante uma visita a Yad Vashem, o memorial do Holocausto, os diretores do museu propuseram a Nicolas Sarkozy efetuar uma pesquisa no computador, com seu sobrenome materno. Na tela, apareceu uma lista de cerca de trinta pessoas, mortas nos campos nazistas. Nicolas Sarkozy, segundo esse relato, ficou emocionado.
“Israel não está sozinho”
Para introduzir sua diplomacia, ele trabalhou os símbolos. Fez sua visita a Israel em junho de 2008, ano do sexagésimo aniversário da criação do Estado judaico. Pronunciou, diante do Knesset [Parlamento de Israel], um discurso em forma de ode a Israel, ao mesmo tempo em que fazia um apelo pela paz com os palestinos. “Israel não está sozinho!”, disse ele, garantindo que a França “sempre” estará ao seu lado “quando sua existência for ameaçada”.
Chirac havia posicionado sua política para o Oriente Médio sob a marca do discurso do Cairo de 1996, querendo relançar a “grande política árabe da França”. Já Sarkozy apostou em um curto discurso diante do Knesset para provocar uma recuperação de influência francesa. Sentiu-se nesse discurso uma fé muito grande no destino de uma relação entre a França e Israel.
Durante essa viagem, Nicolas Sarkozy não foi a Ramallah, sede da Autoridade Palestina, nem a Jerusalém Oriental, mas sim a Belém, onde encontrou Mahmoud Abbas. A imprensa árabe, no entanto, não foi crítica, pois a continuidade da mensagem francesa sobre os parâmetros da paz fora preservada. Nicolas Sarkozy imprimiu uma virada sem abrir mão dos fundamentos. Não sem lembrar o discurso de François Mitterrand no Knesset, em 1982. Em 2008, a França chegou a sondar, muito discretamente, contatos com o Hamas.
“Diálogo estratégico”
Dois homens estiveram no centro da política “israelense” de Nicolas Sarkozy – com significações e consequências diferentes. Shimon Peres, o presidente israelense trabalhista, primeiro dignitário estrangeiro a ser recebido (em março de 2008) por Nicolas Sarkozy em visita oficial. E Binyamin Netanyahu, o homem do Likud, que voltou a ser primeiro-ministro em 2009.
Com Peres, foi um mergulho na História, a memória dos laços únicos tramados entre Israel e a França durante a 4ª República de Mendès France, e depois de Guy Mollet. Em meados dos anos 1950, o jovem Shimon Peres fez várias viagens a Paris para negociar os fornecimentos de armamentos franceses para Israel. Foi também a época em que a França ajudou o Estado judaico a se munir de tecnologia nuclear que lhe permitiu ter acesso à bomba atômica.
Esse passado não tem nada de anódino para Nicolas Sarkozy. Junto com seus conselheiros, ele se lançou em uma política de “diálogo estratégico” com Israel, por muito tempo ignorada pela mídia, mas revelada em 2010 pelos telegramas diplomáticos americanos obtidos pelo WikiLeaks. A política do Eliseu, inclemente sobre a questão nuclear iraniana, participou dessa reaproximação.
Interesses securitários comuns foram evidenciados (combate à proliferação, antiterrorismo), tendo por pano de fundo a esperança de que a França tiraria disso dividendos diplomáticos. Com a aproximação do fim do prazo para a questão palestina na ONU, Nicolas Sarkozy fez uma declaração retumbante, no dia 31 de agosto, diante dos embaixadores franceses, mencionando a possibilidade de um “ataque preventivo contra as instalações iranianas, que provocaria uma enorme crise”. Ele parecia estar dando alguma garantia a Netanyahu.
Um “cliente” difícil
Com esse outro interlocutor, a relação foi oscilante. Os dois homens se conhecem de longa data, e têm em comum um caráter definido, um talento para a oratória, e o gosto por sacudir tecnocratas. Mas o dirigente israelense continua sendo um “cliente” difícil, tanto para Nicolas Sarkozy quanto para Barack Obama.
As grandes aberturas francesas feitas desde 2008 no Estado judaico (diálogo estratégico, laço valorizado entre a União Europeia e Israel, criação da União para o Mediterrâneo) se deparam com a intransigência de um governo israelense que não pretende ceder em nada. O episódio da guerra de Gaza, em dezembro de 2008 até janeiro de 2009, já havia frustrado algumas expectativas.
Foi nesse contexto que Nicolas Sarkozy deixou Alain Juppé, de volta ao ministério das Relações Exteriores, introduzir uma linguagem mais crítica em relação a Israel, que foi solicitado a mudar, pois “tudo muda” no mundo árabe. A reaproximação entre o Fatah e o Hamas foi bem recebida. O ministro francês declarou, no dia 6 de junho, em Washington: “Israel deve estender a mão”. Já Nicolas Sarkozy preferiu alfinetar o “método” da equipe de Obama.
No início de maio, em uma entrevista ao “L’Express”, ele anunciou que a França “assumiria suas responsabilidades” na ONU se as negociações de paz não fossem retomadas. Do lado palestino, bem como no ministério das Relações Exteriores, acreditou-se em uma política de reconhecimento do Estado palestino. A frase, no entanto, é ambígua. E dois dias mais tarde, quando ele recebeu Netanyahu no Eliseu, o chefe do Estado lhe deu a impressão de que estaria voltando atrás.
Nicolas Sarkozy quer hoje encontrar esse equilíbrio: preservar a ligação especial que tem com Israel – em um contexto eleitoral francês onde isso pode pesar – sem abalar o crédito que ele acredita ter ganho junto às opiniões públicas árabes com a guerra da Líbia. A “primavera” dos povos, ele disse na ONU, também envolve os palestinos.
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