Vladimir Putin e Dmitry Medvedev |
O presidente russo Dmitri Medvedev possui muitos fãs na Internet: 130 mil no Twitter e 180 mil no Facebook. Medvedev, que é um blogueiro ocasional, costumava usar a Web como fórum para a promoção das suas reformas. Mas agora os indivíduos que o apoiam estão utilizando a Internet para manifestar fúria e desapontamento devido ao anúncio de que o primeiro-ministro Vladimir Putin deverá disputar a presidência nas eleições de março do ano que vem.
No último sábado, Medvedev publicou fotos do congresso do partido Rússia Unida no Facebook. Mas o comunicativo presidente não ganhou nenhum novo amigo com isso. “A última esperança morreu”, comentou um internauta sob o pseudônimo Artjom. Uma outra internauta, Marina, escreveu que o púlpito do qual Medvedev cometeu o suicídio político no sábado, ao recusar-se a disputar um segundo mandato, parecia “meio que um caixão”.
Medvedev, líder de uma potência nuclear, comandante-em-chefe de um exército de um milhão de soldados, sempre foi apenas um presidente virtual. Putin retornará ao Kremlin após a eleição presidencial. Observadores como o analista político Vyacheslav Nikonov dizem que Putin poderá ser presidente por mais dois mandatos, ou 12 anos, contanto que nada de “incomum” ocorra para detê-lo. E, quem sabe ele poderia ficar ainda mais tempo no poder? “Eu não descarto a possibilidade de que Medvedev possa sucedê-lo novamente após esse período. Isso significa que nós sabemos qual é a configuração do poder estatal russo até 2036”, afirma Nikonov.
Segundo a tradição russa os governantes organizam a sua sucessão. O Comitê Central do Partido Comunista coroou aparatchiks soviéticos como Leonid Brezhnev ou Konstantin Chernenko, e Boris Yeltsin escolheu Putin como seu sucessor. Essa prática preservou o poder das elites e também satisfez o desejo de estabilidade sentido pela população russa.
Medvedev, que foi nomeado presidente por Putin em 2007, está agora devolvendo o seu cargo ao ex-presidente, a quem Medvedev nomeou primeiro-ministro em 2008. As rotações desse moto perpétuo político são estonteantes. Essa dupla apresentou ao partido e à nação um fato consumado. A população de 142 milhões de habitantes da Rússia será apenas uma observadora nas próximas eleições.
Poder absoluto
O Kremlin, em Moscou, uma fortaleza de muros vermelhos e casamatas altas, é um símbolo de uma hierarquia rígida e de um poder absoluto desde a Idade Média. Czares e secretários gerais governaram a partir de lá – e, após o colapso da União Soviética, a eles se seguiram presidentes aos quais a constituição russa concedeu poderes ainda maiores do que aqueles usufruídos pelos presidentes dos Estados Unidos.
Mas, nos últimos anos, a forma de governo na Rússia passou por mudanças sinistras, sem que houvesse qualquer revisão da constituição. Quando Medvedev mudou-se para o Kremlin quatro anos atrás, a maior parte do poder foi transferida com Putin para a Casa Branca situada às margens do Rio Moskva, que tornou-se a sede do governo russo.
Na nova Rússia, não importa que poderes a constituição delega formalmente ao presidente e ao primeiro-ministro. Tudo depende de onde Vladimir Putin se encontra. Putin é o Estado.
Em maio do ano que vem, a Rússia mudará mais uma vez a sua forma de governo, da noite para o dia, quando Putin tornar-se presidente no seu terceiro mandato e retornar ao Kremlin para restabelecer a sua antiga base de poder. Medvedev passará da condição de chefe de governo para a de subordinado.
A alta popularidade de Putin sem dúvida garantirá a ele uma vitória indubitável na eleição. Quando necessário, governadores e autoridades eleitorais submissas prestarão uma ajuda a ele. O povo russo concedeu efetivamente a Putin o poder total de juiz, grato por ele ter colocado o país em um patamar de estabilidade.
A constituição russa é letra morta
A popularidade de Putin é alimentada pela prosperidade que as exportações de matérias-primas trouxeram para o país, e pela memória coletiva da nação que não se esquece do período conturbado que foi a década de noventa. O petróleo o o gás natural continuam a fluir, embora de forma um pouco menos intensa, e as memórias estão desaparecendo com muita lentidão. Não haverá mudanças rápidas na Rússia.
“Nós impedimos que o país se desintegrasse”, declarou Boris Gryzlov, um confidente de Putin, aos delegados presentes no congresso do partido. “A impotência é uma ameaça mortal para a Rússia”. Putin e os seus aliados declararam orgulhosos que fizeram com que o Estado russo voltasse a ser forte.
Na verdade, o que eles fizeram foi sequestrar o Estado. A constituição da Rússia é pouco mais do que letra morta e não consegue camuflar o regime neo-feudal do príncipe Putin. As instituições democráticas poder ter se mostrado fracas e defeituosas ao final da década de noventa, mas Putin acabou completamente com as funções desempenhadas por elas. Ele submeteu parlamentos, juízes e até mesmo o gabinete do presidente à sua vontade. Não existe mais uma separação de poderes na Rússia.
O jornal tabloide “Moskovskij Komsomolets” descreveu o império de Putin como sendo a “Putlândia”. A Rússia dele não é uma ditadura como o Irã de Mahmoud Ahmadinejad ou a Belarus do ditador Alexander Lukashenko. Putin transformou o seu orgulhoso país em um moderno grão-ducado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário