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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

EUA preparam nova oferta nuclear ao Irã, dizem autoridades

O presidente iraniano, Mahmud Ahmadineyad (centro), rodeado de cientistas, inaugura a primeira usina
de combustível nuclear, marcando as celebrações do Dia Nuclear nacional, no Irã
O governo Obama e seus aliados europeus estão preparando uma nova oferta para as negociações com o Irã a respeito de seu programa nuclear, disseram altos funcionários do governo, mas as condições para Teerã seriam ainda mais onerosas do que o acordo rejeitado pelo líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, no ano passado.

A reação do Irã, dizem as autoridades, será o primeiro teste sobre se o novo conjunto surpreendentemente amplo de sanções econômicas está mudando o cálculo nuclear do Irã. Em meados do ano passado, importantes autoridades, desde o diretor da CIA, Leon Panetta, até o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o almirante Mike Mullen, previam que apesar de que as sanções feririam o Irã, elas seriam insuficientes para forçar o país a abrir mão de importantes elementos de seu programa nuclear.

Um alto funcionário americano disse na quarta-feira que os Estados Unidos e seus parceiros estavam “próximos de chegar a um acordo” a respeito de uma posição comum para apresentar ao Irã. Mas os iranianos não responderam ao pedido de Catherine Ashton, a chefe de diplomacia da União Europeia, para uma reunião em Viena em meados de novembro. O Irã insistiu que Ashton primeiro informe quando ocorrerá o fim das sanções, quando Israel abrirá mão do que chamou de “bomba sionista” e quando os Estados Unidos eliminarão suas armas nucleares.

A nova oferta exigiria o envio pelo Irã de aproximadamente 2 toneladas de urânio pouco enriquecido para fora do país, um aumento de mais de dois terços em comparação à quantidade exigida pelo acordo acertado em Viena há um ano. O aumento reflete o fato do Irã ter produzido continuamente mais urânio ao longo do último ano, e a meta americana é assegurar que o Irã tenha em mãos urânio insuficiente para fazer uma bomba.

O Irã também teria que suspender toda a produção do combustível nuclear que atualmente está enriquecendo a 20% – m passo importante para um nível para bomba. Também teria que cumprir seu acordo de negociar a respeito do futuro de seu programa nuclear. O acordo fracassado de 2009 foi rejeitado pelos linhas-duras em Teerã. Uma análise posterior pelos analistas da inteligência concluiu que Khamenei rejeitou pessoalmente o acordo, revertendo a decisão do presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Por esse motivo, muitas autoridades suspeitam que esta mais recente iniciativa provavelmente fracassará. Mas eles dizem que ela cumpre a promessa do presidente Barack Obama de continuar negociando enquanto aumenta a pressão das sanções.

“Esta será a primeira sondagem sobre se os iranianos ainda acham que podem endurecer ou estão prontos para negociar”, disse um alto funcionário americano nesta semana, se recusando a ser identificado, porque Washington e seus aliados europeus ainda estão debatendo os detalhes finais do pacote que apresentarão ao Irã. “Nós temos que convencê-los de que vida piorará, não melhorará, se não começarem a agir.”

Apesar de Ahmadinejad ter dito em Nova York no mês passado que o Irã estava pronto para voltar às negociações, o país ainda não estabeleceu uma data para o encontro. Khamenei, falando neste semana em Qom – não distante da instalação de enriquecimento subterrânea cuja existência foi exposta no ano passado – não soou como se estivesse disposto a fazer concessões.

“As potências agressoras do mundo fizeram alvoroço a respeito das sanções contra o Irã”, ele foi citado pela imprensa iraniana como tendo dito na terça-feira para clérigos e estudantes, “mas este país tem superado sanções nos últimos 30 anos com sua paciência e resistência”. Apesar de todos os lados terem expressado disposição de participar de novas negociações, o que está acontecendo agora é mais uma manobra temerária do que dar e receber. As autoridades americanas dizem que não é crucial um retorno imediato do Irã à mesa de negociação; quanto mais aguardarem, mais tempo haverá para as sanções começarem a ser sentidas.

O Irã já enfrenta dificuldade para reabastecer aviões na Europa, fazer com que alguns portos aceitem seus navios e atrair os investimentos necessários para a produção de petróleo, disseram autoridades e analistas.

Mas quanto mais tempo o impasse durar, mais urânio o Irã produzirá. Segundo os inspetores nucleares internacionais, o Irã já conta com combustível suficiente para duas bombas, apesar de as autoridades americanas estimarem que levaria ao menos um ano para o enriquecimento do estoque atual para o grau de bomba e então transformá-lo em arma. “É muito tempo”, disse uma autoridade recentemente, o suficiente para os Estados Unidos ou Israel realizarem uma ação militar para deter o programa, ele reconheceu.

Em declarações públicas recentes, o governo tentou endurecer sua retórica a respeito dos riscos de uma arma iraniana.

Gary Samore, o coordenador de Obama para combate a armas de destruição em massa, disse para uma plateia da Associação Americana para o Avanço da Ciência, em Washington na semana passada, que se o Irá adquirisse uma arma, isso teria “um efeito completamente catastrófico” na região. Se bem-sucedido, o Irã poderia levar outros Estados no Golfo Pérsico a buscar suas próprias armas nucleares. Um ataque por Israel contra as instalações iranianas, ele acrescentou, poderia provocar uma guerra regional. Samore descreveu deter o programa do Irã como sendo sua “tarefa Nº 1”.

Após dois anos no governo, Obama organizou um regime impressionante de sanções e conseguiu combinar diplomacia e pressão melhor do que muitos especialistas previam. Mas até o momento pouco resultado foi obtido, o que provocou uma discussão dentro da Casa Branca sobre se seria de ajuda, ou contraproducente, fazer o presidente falar mais abertamente sobre opções militares.

Várias autoridades europeias desencorajam essa abordagem. Mas elas também temem que  negociar a respeito do destino do urânio que o Irã enriqueceu, violando as ordens do Conselho de Segurança da ONU, poderia ter o efeito de convencer os iranianos de que poderiam manter parte de sua capacidade de enriquecimento ao final de qualquer negociação.

A campanha de Obama disse em 2008 que isso seria inaceitável; como presidente, ele ainda não tratou claramente a questão.

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