General James Logan Jones |
Por 40 anos, James L. Jones serviu nas forças armadas antes de pendurar seu uniforme e se tornar conselheiro de segurança nacional em Washington. Mas no futuro, o presidente Barack Obama terá que se virar sem seus conselhos – Jones planeja renunciar, disse um alto funcionário do governo americano na sexta-feira.
O funcionário disse que Obama espera anunciar a renúncia de Jones na sexta-feira. A data exata de sua saída ainda não foi determinada, mas poderia acontecer antes do final do ano. Seu sucessor deverá ser o atual vice-conselheiro de segurança nacional, Thomas E. Donilon.
O motivo para a saída de Jones não foi mencionado pelo funcionário do governo, mas há muito se especula na capital sobre isso. Dizem que Jones está descontente por não ter sido incluído no círculo de liderança mais interno da Casa Branca.
Nos últimos dias, vários importantes assessores de Obama renunciaram, incluindo o chefe de Gabinete, Rahm Emanuel, o conselheiro econômico Lawrence Summers e o estrategista chefe, David Axelrod.
Em uma entrevista para a “Spiegel Online” pouco antes da decisão, Jones forneceu um relatório sobre o progresso da guerra contra o terror e explicou os próximos passos da estratégia americana. Como ninho do terror internacional, o Paquistão terá um papel-chave nessa estratégia. E se o Paquistão quiser permanecer um parceiro dos Estados Unidos, disse Jones, ele terá que se esforçar mais na luta contra o terror.
Spiegel Online: O senhor foi recentemente a Berlim como representante do presidente Barack Obama na celebração dos 20 anos da reunificação da Alemanha. Mas o senhor também alertou os alemães a respeito de uma ameaça terrorista específica. Quão séria ela é?
Jones: Três de outubro é uma data muito importante, da qual podemos nos orgulhar. O segundo propósito da minha visita foi me encontrar com meu colega alemão, Christoph Häusgen (o principal conselheiro de políticas de relações exteriores e segurança da chanceler Angela Merkel) para dar continuidade a discussões de interesse mútuo, sendo que uma delas era o alerta que foi publicado dois dias antes nos Estados Unidos.
Spiegel Online: O senhor poderia ser mais específico, por favor?
Jones: O foco da Al Qaeda pode estar na Europa no momento – apesar de não em um local específico. Nós queríamos assegurar que nossos governos atuariam de forma orquestrada e que nossas populações entenderiam plenamente o grau da ameaça. O que sabemos é considerada informação crível.
Spiegel Online: A principal fonte do alerta é um membro alemão de 36 anos do radical Movimento Islâmico do Uzbequistão, Ahmed Sidiqqi, que foi treinado no Paquistão e no momento está sob custódia americana no Afeganistão. Por que o Paquistão ainda é o principal ninho do terrorismo?
Jones: Nós estamos trabalhando estreitamente com o governo paquistanês há algum tempo. Em alguns casos, os paquistaneses responderam muito bem. Suas operações no Vale de Swat e no Waziristão do Sul, por exemplo, foram oportunas e muito eficazes. Ao mesmo tempo, há uma mensagem constante de que o Paquistão precisa fazer mais para deter o terrorismo, especialmente quando sabem onde ele está e quando as autoridades têm informação sobre o que os terroristas estão fazendo. Se os paquistaneses pretendem ser parceiros a longo prazo, eles precisam se comprometer em mostrar ao mundo que falam sério a respeito do terrorismo.
Spiegel Online: Caso a cooperação americana com o exército paquistanês fracasse, há a possibilidade do Paquistão se transformar no próximo alvo militar dos Estados Unidos?
Jones: Eu vou adotar o ponto de vista otimista, o de que pessoas racionais fazem coisas racionais – com a ajuda de amigos, aliados e metas comuns– e assim o Paquistão evitará essa possibilidade infeliz. Mas esperança não é uma estratégia, então temos que reconhecer o fato de que há coisas que podem acontecer, capazes de alterar o relacionamento, caso não tenhamos cuidado.
Spiegel Online: O senhor pode definir exatamente quem é o inimigo na região do Hindu Kush atualmente?
Jones: Nossos inimigos são os radicais que estão ameaçando não apenas os Estados Unidos, mas também a Europa, que defendem a violência e desejam arruinar nosso modo de vida e o mundo como o conhecemos hoje. Esta não é uma ameaça que desaparecerá no futuro próximo. Esta é uma realidade do século 21, uma luta por pelo menos a primeira metade do século.
Spiegel Online: Por quanto tempo as tropas internacionais da OTAN serão necessárias nesta luta?
Jones: O presidente Hamid Karzai, na conferência em Londres, alegou que gostaria de estar “plenamente encarregado” de todo o seu país até 2014, uma meta que a comunidade internacional também abraçará. Nós esperamos ver o início da transição entre a cúpula da OTAN neste ano, em novembro em Lisboa, e julho próximo. Mas é preciso que seja uma transição com a qual a comunidade mundial se sinta confortável e confiante, e não apenas os Estados Unidos. E que os afegãos possam ver que seu exército, polícia e instrumentos de governança estão gradualmente assumindo o controle.
Spiegel Online: A Otan não fracassou como uma aliança eficaz no Afeganistão?
Jones: Eu acho que não. Há muitos países da Otan que enviaram soldados e recursos para lá. Eles estão fazendo muito e o capítulo final ainda não foi escrito. Nós devemos esperar e ver como o período de transição transcorrerá. Em relação ao novo conceito estratégico da Otan – que será discutido em Lisboa em novembro – se ele incluir uma Otan mais pró-ativa em áreas onde a Al Qaeda está fazendo incursões e de onde estão surgindo ameaças contra nós coletivamente, então em considerarei a Otan do futuro como sendo uma aliança para o bem de nossa segurança coletiva.
‘Nunca é divertido ler a seu respeito de forma negativa’
Spiegel Online: Os Estados Unidos entregarão suas bases militares no Afeganistão e se retirarão quando atingirem suas metas?
Jones: Nós temos toda a intenção de honrar nosso compromisso de longo prazo no Afeganistão e no Paquistão. Nós não teremos para sempre 100 mil americanos em solo, em equipamento de combate pleno, como temos agora. Nós queremos que os afegãos assumam a responsabilidade, mas isso inclui programas econômicos de longo prazo, programas de estabilidade de longo prazo e programas de governança de longo prazo.
Spiegel Online: Ainda assim, sua presença militar na região não é uma provocação para países vizinhos como a China e o Irã?
Jones: Acima de tudo, é do interesse de todos os países que fazem fronteira com o Afeganistão que este se torne um Estado razoavelmente estável. No caso da Rússia e da China, elas apóiam nossos esforços. Nós falamos constantemente com a China –eles estão muito preocupados em relação ao Afeganistão, a respeito do narcotráfico, por exemplo, que cruza suas fronteiras. Mas acho que o Irã, como outro exemplo, também se beneficiaria com um Afeganistão estável.
Spiegel Online: Os americanos sempre viram o Afeganistão como sendo uma guerra por necessidade. O senhor ainda pensa assim hoje?
Jones: Se era o certo naquela época, provavelmente é o certo agora. Nós nos comprometemos com o povo do Afeganistão de que tentaríamos proporcionar para eles uma vida melhor, um futuro melhor, melhores oportunidades. Mas, no final, nós não podemos querer essas coisas mais do que os próprios afegãos. Logo, há certa dualidade de propósito aqui, na qual os afegãos, após quase 10 anos, precisam mostrar que também são capazes de assumir maiores responsabilidades em relação ao seu futuro.
Spiegel Online: Vocês buscaram agir contra os operadores da plataforma de Internet WikiLeaks, o site que divulga documentos confidenciais, como os diários de guerra do Afeganistão, que órgãos de imprensa como a “Spiegel”, “New York Times” e “Guardian” analisaram e divulgaram. De que forma este site ameaça a segurança nacional americana?
Jones: Nós sobreviveremos a isso, mas obviamente para a promoção de soluções viáveis, há a necessidade da manutenção de segredos importantes por algum tempo. Em muitos casos os segredos protegem as vidas de pessoas que, caso contrário, estariam em risco. Há um momento certo e local certo para tudo, e este certamente não foi nem o momento certo, nem o local certo, para essas revelações, que colocaram vidas de pessoas em risco.
Spiegel Online: Quando foi divulgado o artigo da “Rolling Stone”, que levou à substituição do general Stanley McChrystal no Afeganistão, foi revelado que a equipe militar americana em Cabul demonstrava muito desrespeito em relação ao governo americano e ao senhor. Um novo livro publicado pelo jornalista investigativo Bob Woodward fornece um relato semelhante. O senhor ficou ofendido?
Jones: Nunca é divertido ler a seu respeito de forma negativa. Isso machuca sua família, machuca seus amigos. Parte daquilo é verdadeiro, parte não é, mas no final você não pode assumir determinados cargos esperando ficar livre de críticas. Quanto mais você pressiona algo, quanto mais você cutuca algo, mais você questiona as coisas, mais as pessoas que discordam de você começarão a criticá-lo. Eu aceito com certa reserva.
Spiegel Online: Olhando para a situação atual da segurança global, o senhor vê maiores chances para paz ou o senhor vê mais guerras?
Jones: Este é um momento bastante histórico em que estamos vivendo e tivemos um momento definidor do século...
Spiegel Online: ...os ataques de 11 de Setembro.
Jones: Agora nós entendemos melhor as várias ameaças que enfrentamos – a ameaça da mudança climática, de nossas fontes de energia, a ameaça do terrorismo, um mundo em que ricos e pobres estão mais claramente definidos do que antes. Os países pobres estão lutando para ascender para o mundo globalizado e, eu acredito, os países desenvolvidos estão começando a entender que se não tratarem de seus assuntos de modo sério, esses países poderão vir a ser os Afeganistãos, Paquistãos e Iraques do futuro.
Spiegel Online: Qual é a abordagem americana para este desafio?
Jones: Eu acho que estamos em uma encruzilhada e um dos grandes desafios é – dada a ascensão da China e de outros países – como permanecer competitivo e como se reorganizar diante das novas realidades. Nós precisamos de um espírito comunitário globalizado, que tenha um senso abrangente de como o mundo deverá ser em 20 anos. Se conseguirmos isso, nossos filhos terão uma vida melhor. Se fracassarmos, certamente as coisas não serão boas para eles.
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