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quinta-feira, 29 de março de 2012

Os ocidentais mudam de tática em relação à Síria


Kofi Annan, da ONU, e Bashar al-Asad, presidente da Síria, em encontro no último dia 10
Início do fim da crise, simples calmaria ou manobra para ganhar tempo? Anunciada na terça-feira (27), a adesão de Damasco ao plano de Kofi Annan, emissário da ONU e da Liga Árabe na Síria, tem deixado as chancelarias ocidentais na expectativa. “É experimentando que sabemos se está bom”, ironizou Gérard Araud, embaixador da França na ONU, resumindo com essa piada a obrigatória cautela em Nova York, onde agora se fala em “mais de 9.000 mortos” na Síria, após um ano de revoltas e de repressão.

O plano de Annan, que havia sido aprovado no dia 21 de março pelo Conselho de Segurança, pretende principalmente reduzir as tensões no local, de maneira a impedir que a Síria mergulhe em uma guerra civil generalizada. Ele defende a interrupção dos atos de violência “por todas as partes”, o encaminhamento de ajuda humanitária e a libertação dos prisioneiros. A parte política é mínima, visto que, em vez de pedir pelo afastamento do presidente sírio Bashar al-Assad, como fazia o plano da Liga Árabe elaborado em janeiro, ele defende a instauração de um “processo político aberto, conduzido pelos sírios”.

A formulação é vaga o suficiente para que a Rússia e a China, reticentes a qualquer ideia de mudança à força de regime e que se opuseram a dois projetos de resolução do Conselho de Segurança nesse sentido, dessem carta branca a Kofi Annan. Depois de obter em Moscou, no domingo, o aval do presidente russo Dmitri Medvedev, o ex-secretário-geral da ONU foi na terça-feira até Pequim, onde recebeu o apoio dos dirigentes chineses. Foi lá que ele recebeu a notícia da aprovação de seu plano pelo regime sírio, que não tinha outras opções a não ser se alinhar à opinião de seus dois protetores. “Um primeiro passo importante”, comentou Annan, que enviou uma mensagem urgente a Bruxelas e aos 27 países-membros da UE: “Evitem as iniciativas intempestivas que possam complicar meu trabalho”.

Resistência inesperada
Se essa discrição se confirmar, ela marcará uma ruptura com a atitude adotada nos últimos meses pelas grandes potências ocidentais e seus aliados árabes. Após a tática do uso da força, defendida principalmente pela França, pelo Qatar e pela Arábia Saudita, que contavam com um colapso a curto ou médio prazo do regime sírio, poderá vir a tática dos pequenos passos, que observa as capacidades de resistência inesperada da ditadura do Baath.

“Hoje, são os dois grandes que estão retomando o controle”, analisa um diplomata árabe. “A Rússia, que quer ser reconhecida como uma peça central, e os Estados Unidos, que estão obcecados por não repetir os erros de 2003 no Iraque, ou seja, evitar a destruição do Estado com a queda do regime. É por isso que eles estão indo para lá muito lentamente. É cínico, mas não adianta se apressar demais: todo mundo sabe que é o fim de Bashar, mesmo seus aliados”.

Essa evolução preocupa os opositores sírios que aspiram a um envolvimento maior da comunidade internacional, ou até a uma intervenção militar ocidental, que por enquanto não está programada. “Não podemos abrir mão da saída de Assad porque milhares de sírios morreram por isso”, diz Bassma Kodmani, porta-voz do Conselho Nacional Sírio (CNS),  principal interlocutor dos ocidentais, paralelamente a uma reunião em Istambul, onde as diferentes correntes da oposição tentam se unificar. “Assad está tentando ganhar tempo”, se revolta Adib Chichakli, um outro participante. “Isso quer dizer que haverá muito mais mortes. A cada hora que passa, temos cinco mortos”.

O diplomata árabe, que parece não ter simpatia pelo sistema de Assad, acredita que o plano de Annan é mais realista que o de seus antecessores: “Por instigação de Doha e de Riad, a Liga Árabe foi muito rapidamente, sem ter como manter suas posições”, ele diz. “Se a negociação dissesse respeito somente à saída de Bashar al-Assad, por que ele negociaria? Ainda mais que pediram à Síria que fosse feita uma negociação ao mesmo tempo em que a suspendiam das instâncias da Liga. É contraditório.” E diz ainda: “Discutimos para a Síria um processo à maneira iemenita sem perceber que no Iêmen o afastamento de Ali Abdallah Saleh [o ex-presidente do país] foi o final de um processo, e não o seu ponto de partida”.

Estaria a caução de Moscou e de Pequim incentivando Bashar al-Assad a se prestar a um jogo semelhante? Em dezembro, ele não tinha nenhuma dificuldade em se livrar de um primeiro plano da Liga Árabe, que previa um cessar-fogo e a libertação de prisioneiros. Os observadores enviados à Síria tiveram de partir ao final de um mês, vítimas das provocações dos serviços de segurança sírios e dos planos da Arábia Saudita, ansiosa para endurecer a posição da organização pan-árabe.

Na terça-feira, apesar do sinal verde de Damasco para o plano de Annan, os atos de violência continuaram, resultando em 31 mortos, dentre os quais 18 civis. O dirigente sírio chegou a andar pelas ruínas de Baba Amro, ex-bastião do Exército Sírio Livre em Homs, reconquistado no início de março pelas tropas regulares. A secretária de Estado americana Hillary Clinton o convidou a “provar imediatamente” sua boa fé “ao ordenar a suas forças que baixem as armas e se retirem das zonas habitadas”.

Um primeiro balanço será feito na sexta-feira, durante a  segunda reunião do grupo dos Amigos da Síria, em Istambul, um grande agrupamento diplomático de apoio ao CNS. Para não reduzir sua já estreita margem de manobra, Kofi Annan poderá se manter à parte dessa reunião.

Um comentário:

  1. Tudo isso que está acontecendo na Síria, nada mais é do que retaliação a um erro estratégico cometido pelo Assad, se unir ao Irã, da mesma forma que inimigos de inimigos passam a ser visto como ´´amigos´´, também amigos de inimigos passam a ser vistos como inimigos, não existe isso de supostamente o povo se rebelar, se fosse isso teria rebelião na Arábia Saudita que vive um inferno do ultra-fundamentalismo, a Síria relativamente laica seria um sonho para muitos sauditas. Mais ás grandes forças mundiais não dormem no ponto, sabem que vai ser difícil derrubarem o Assad, mais vão transformar a Síria no inferno para intimidar qualquer um a se aliar a inimigos das principais forças da política mundial, a política do medo, sempre foi, é e sempre será usada, não importa o sistema ou regime que exista.

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