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quarta-feira, 14 de março de 2012

Laço entre Estados Unidos e Reino Unido se vê ameaçado por questões relativas a guerra


David Cameron (esq.) e Barack Obama
Enquanto se prepara para jantar na Casa Branca e assistir a uma partida de basquete com o presidente Barack Obama nesta semana, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, pode se lembrar, ou mesmo lamentar, um discurso feito por ele como líder da oposição britânica em 11 de setembro de 2006, cinco anos após os ataques em Nova York e Washington.

“Nós não serviremos aos interesses da América, do mundo e nem aos nossos próprios se isso nos fizer sermos vistos como associados incondicionais da América em cada esforço”, disse ele. “Nosso dever é para com nossos próprios cidadãos e para com nosso próprio conceito do que é certo para o mundo. Nós devemos ser sólidos, mas não servis, em nossa amizade com a América.”

Os políticos, é claro, tendem a ser menos rígidos com sua linguagem antes dos rigores de um cargo eletivo exigirem um uso mais cauteloso. E, ao evocar o que sucessivos líderes britânicos desde Churchill gostam de chamar de “relacionamento especial” com Washington, Cameron estava atacando Tony Blair, cujo apoio ao governo de George W. Bush encorajou seus críticos a lhe rotularem de “poodle” dos Estados Unidos.

Mas, atualmente, o líder britânico pode estar se perguntando se é tão fácil quanto ele sugeriu sair de um vácuo americano que repentinamente parece um local confortável onde estar, particularmente em um momento em que a Europa, emaranhada na crise do euro, parece menos convidativa.

No início de sua presidência, Obama ganhou a reputação de ser o menos pró-Reino Unido dos recentes líderes americanos. Mas, à medida que as eleições se aproximam, ele parece mais amistoso, levando Cameron para um jogo de basquete universitário em Dayton, Ohio, depois para um jantar de Estado em Washington --frequentemente reservado para os chefes de Estado. Ao anunciar a visita de 13 e 14 de março, a Casa Branca falou sobre o “relacionamento especial” e sobre “um forte laço pessoal”.

No entanto, com os Estados Unidos envolvidos em eventos desastrosos no Afeganistão --o assassinato de civis por um soldado americano no domingo (11), a queima de edições do Alcorão--, o clima estará repleto de perguntas dolorosas para ambos os líderes.

Na semana passada, seis soldados britânicos --a maioria deles mal saída da adolescência-- morreram no incidente individual mais sangrento em seis anos, elevando o número de mortos entre o contingente britânico de 9.500 soldados para 404 e imediatamente levantando a questão sobre se a retirada gradual americana planejada, que começará no ano que vem, poderia deixar os britânicos expostos caso mantenham seu cronograma previsto de retirada um ano depois.

“Historicamente, se trata de um caso em que, quando as operações começam a diminuir, elas se tornam mais vis no final”, disse Michael Clarke, chefe do Instituto Real de Serviços Unidos, o grupo de pesquisa de defesa e segurança. Com o cronograma americano dominando o curso dos eventos e com os agentes regionais realizando manobras por posições, disse Clarke para a “BBC”, a “guerra está desandando por razões além de nosso controle”.

De qualquer forma, a campanha no Afeganistão nunca foi popular e nem facilmente entendida no Reino Unido, cuja memória histórica remonta aos desastres sangrentos ocorridos ali no século 19. Com o derramamento de sangue dos últimos dias em uma luta que oferece apenas as definições mais vagas de vitória ou derrota, as pressões para uma retirada antecipada estão crescendo.

“Chega de homens e mulheres jovens morrendo neste conflito”, disse Carla Cuthbertson, cujo filho Nathan, 19 anos, foi morto há quatro anos por uma bomba de estrada no Afeganistão, a 100ª baixa britânica. Naquela época, ela acreditava que ele tinha “morrido por uma causa nobre”. “Mas quando outras cem vidas foram perdidas, eu comecei a questionar o motivo para estarmos enviando soldados ao Afeganistão”, ela escreveu em uma carta aberta para Cameron, publicada no jornal “Daily Mirror” de esquerda. “Esta não é uma guerra que venceremos.”

Desde que o Reino Unido se juntou à guerra no Afeganistão depois dos ataques de 2001, sucessivos políticos argumentaram que, ao lutarem nos campos de morte distantes da província de Helmand, seus soldados estavam prevenindo o terrorismo nas ruas de Londres. Mas quando homens-bomba suicidas atacaram Londres em 7 de julho de 2005, eles vieram do próprio Reino Unido, apesar de terem elos com o Paquistão. O envio de tropas, na condição de principal aliado europeu dos Estados Unidos, para o Iraque e o Afeganistão, apenas ofereceu um para-raios para a jihad doméstica.

Agora, entretanto, outros horizontes problemáticos estão surgindo na Síria e no Irã e, encorajado pela proeminência do Reino Unido na campanha aérea da Otan que ajudou a derrubar o coronel Muammar Gaddafi na Líbia, Cameron se voltou para eles em sintonia com a Casa Branca, falando em particular sobre a ameaça de Teerã.

O líder britânico disse recentemente aos legisladores que o Irã está buscando capacidade de lançar mísseis intercontinentais --um termo que significa armas capazes de alcançar o Reino Unido--, um eco ominoso da afirmação de Blair, em 2003, de que o Iraque possuía poder de fogo para um ataque não convencional contra as forças britânicas no Mediterrâneo, 45 minutos após uma ordem de Saddam Hussein. Nunca corroborado, o alerta de Blair contribuiu para a perda de sua credibilidade, que acabou levando à sua queda.

Ninguém sugeriu até o momento que Cameron esteja cortejando um destino comparável. Mas os paralelos são claros. Aos olhos britânicos, Blair se tornou inseparável do imperativo estratégico americano, por mais que buscasse descrevê-lo como sendo seu próprio e ignorasse os imensos protestos políticos contra o apoio à invasão no Iraque.

Nove anos depois, Cameron corre o risco de pisar em uma corda bamba semelhante, provocando uma comparação com seu argumento a respeito da aliança com os Estados Unidos em um momento em que não há sugestão de um apetite popular doméstico para aventuras perigosas adicionais no mundo muçulmano.

Além disso, pouco antes do líder britânico partir para os Estados Unidos, um painel parlamentar concluiu que, apesar da estratégia de segurança nacional do Reino Unido “ser fortemente baseada no relacionamento do Reino Unido com os Estados Unidos, parece que o foco americano está se afastando da Europa” e passando para a região da Ásia-Pacífico --dificilmente uma avaliação para cimentar a celebração do relacionamento especial em um jantar na Casa Branca, mesmo entre aqueles que nutrem um laço pessoal poderoso.

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