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quarta-feira, 14 de março de 2012

Após reeleição, Putin está cercado de restrições na nova Rússia


O presidente-eleito Vladimir Putin enfrenta um dilema espinhoso: ele é avesso a mudanças, mas agora enfrenta um cenário político que as exige. Apesar do protesto de sábado passado em Moscou ter sido relativamente pequeno, a insatisfação é profunda e Putin não pode voltar aos negócios de costume. Ele precisa se adaptar, mas provavelmente não vai – o que significa que a Rússia provavelmente caminha para um período de política tumultuada e imprevisível.

A situação difícil de Putin deriva de seus próprios erros, assim como das mudanças sísmicas na paisagem política russa. Nos últimos dois anos, as elites de Moscou passaram a reclamar de sua liderança – expressando preocupação com as taxas de crescimento modestas e com a corrupção desenfreada. A fadiga também se estabeleceu – muitas pessoas no setor privado e no governo simplesmente se cansaram do comando de Putin. Tendo isso como fundo, Putin coreografou seu retorno à presidência de um modo que foi visto como arrogante e ofensivo pelas elites e muitos cidadãos.

Já na defensiva, Putin então recebeu um duro golpe. Na eleição parlamentar de dezembro passado, seu partido se saiu consideravelmente menos bem do que o esperado. Ainda pior, acusações disseminadas de fraude eleitoral provocaram uma série sem precedente de protestos em Moscou. A política tinha retornado à Rússia, à medida que muitos cidadãos passaram a exigir respeito básico por parte do governo; simultaneamente, a legitimidade do governo está lentamente ruindo.

Sob a superfície, a classe média da Rússia cresceu em tamanho e se tornou suficientemente rica para afirmar seu anseio por maior prestação de contas e menos corrupção. Segundo muitas estimativas, a classe média abrange cerca de 35% dos moscovitas e aproximadamente 25% de todos os russos; apesar de quase metade ser de funcionários públicos, os empreendedores e profissionais liberais se tornaram uma força política. A crescente penetração da Internet na Rússia também exerceu um papel central; aproximadamente metade da população atualmente usa a Internet e as redes sociais foram um elemento chave para mobilização dos protestos populares.

Apesar dos crescentes problemas da Rússia, o país não está à beira de uma instabilidade dramática, e a mudança virá lentamente. As reservas de moeda estrangeira permanecem em US$ 511 bilhões, e a economia continua crescendo em uma taxa respeitável de 4%. Putin continua sendo de forma disparada o político mais popular do país, mantendo um forte apoio entre os eleitores da classe trabalhadora e nas regiões.

Então, para onde está seguindo a Rússia? A resposta depende em grande parte de Putin, um homem cujo intelecto e instintos o levaram em direções muito diferentes. Sua mente é de primeira qualidade; eu participei de várias discussões com ele, e seu conhecimento e poder analítico são formidáveis.

Mas os instintos de Putin refletem naturalmente sua formação como oficial de inteligência soviético: ele não parece confiar naquilo que não pode controlar, e a democracia e os mercados se baseiam em espontaneidade e entropia. Durante sua presidência, Putin se concentrou na centralização do poder político e econômico na Rússia –e ele merece crédito por restaurar o Estado russo. Mas após tomar posse em 7 de maio, Putin não mudará nem desmontará o sistema que construiu.

Além disso, Putin enfrenta três novas restrições que prenunciam estagnação e aumento da turbulência: sua relativa fraqueza, o surgimento de uma oposição e uma pequena margem de erro. Extrapolando as recentes eleições, Putin conta com o apoio de talvez 50% da população com direito de voto – muito distante dos 80% de índice de aprovação que manteve durante grande parte de sua carreira. O apoio do presidente-eleito em Moscou é ainda menor, um fato importante já que a capital exerce um papel dominante na política nacional e grande parte da riqueza de Putin está concentrada ali.

O status enfraquecido de Putin – e a erosão da legitimidade proporcionada por ele – tornará a governança ainda mais difícil. Os burocratas adotarão uma abordagem mais experimental na implantação das iniciativas do Kremlin, especialmente aquelas que possam provocar ira popular. Os governadores não olharão apenas para Moscou em busca de direção, mas também por sobre seus ombros à procura de inquietação regional potencial– complicando sua capacidade de governar.

O novo movimento de oposição também limitará Putin. Ele é diverso, abrangendo os liberais, esquerdistas e nacionalistas de classe média. O baixo comparecimento no protesto de sábado sugere que os protestos diminuirão nos próximos meses, enquanto os líderes da oposição planejam uma estratégia de longo prazo.

Mas a classe média permanecerá comprometida, especialmente porque sua renda real está estagnada, ao mesmo tempo em que crescem suas expectativas. E a queixa principal –a corrupção– manterá o movimento vibrante. Putin provavelmente evitará tratar da corrupção de modo abrangente; fazê-lo provavelmente resultaria na queda de pessoas em cargos importantes, dos quais depende o sistema.

Finalmente, Putin será desafiado pela pequena margem de erro enfrentada por seu governo. Uma tragédia resultante, digamos, do estado dilapidado da infraestrutura russa provavelmente provocaria forte condenação popular. Os planos do governo para aumentar as tarifas do gás nos próximos meses poderiam, a menos que sejam habilmente implantados, provocar facilmente protestos entre a base de Putin, os eleitores de classe operária nas regiões. Além disso, a situação fiscal da Rússia é extremamente dependente dos preços altos do petróleo; o orçamento deste ano se baseia em um recorde de US$ 110 o barril.

Em seu retorno à presidência, Putin provavelmente buscará uma política altamente pró-status quo, com algumas reformas apenas cosméticas. Ele manterá os padrões de gastos populistas, apesar dos gastos não terem enfraquecido os protestos. Além disso, ele estará cercado por esse grande número de restrições.

Fora uma improvável confluência de crises, Putin completará seu novo mandato. Mas até mesmo a tênue dúvida sobre sua capacidade de durar mais seis anos mostra quão profundamente a Rússia mudou.

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