terça-feira, 6 de março de 2012
Após a vitória de Putin, como estará o cenário político no país?
Após a fragorosa vitória presidencial de Vladimir Putin na Rússia, todos os olhares estão voltados para a oposição a fim de determinar o que será feito a seguir. Mas só restam a ela duas opções. Uma delas é se conformar com a derrota. A outra seria os vários grupos fragmentados adotarem umas estratégia de longo prazo baseada em acordos a fim de possibilitar que eles conquistassem legitimidade política.
“Moscovitas, nós os parabenizamos pela grande vitória!”, disseram os oradores várias vezes para as cerca de 100 mil pessoas reunidas junto à Muralha do Kremlin para comemorar a vitória de Vladimir Putin na noite do último domingo (4).
Mas, praticamente não havia moscovitas em meio à massa presente. Durante todo o dia, comboios de ônibus com placas de todas as províncias russas chegaram à cidade. As faces sonolentas dos jovens passageiros podiam ser vistas através das janelas. Mas tarde, portando mapas e latas de cerveja, eles reuniram-se no Kremlin. Esses indivíduos vieram de lugares tão distantes quanto Saratov, uma cidade às margens do Rio Volga, situada quase 1.000 km ao sul de Moscou.
Foi uma noite assustadora. A capital praticamente não estava representada nas suas próprias ruas. Milhares de pessoas gritaram “Putin, Putin”, até que o novo presidente chorou. Os jovens de Saratov, que são praticamente adolescentes, não faziam a menor ideia do papel que estavam desempenhando – criando para o resto do país e o mundo uma imagem de Moscou que não existe. Afinal, em Moscou, conforme o próprio comitê eleitoral admitiu, Putin não obteve a maioria dos votos.
Putin carece de visão política
O clima na noite de domingo fazia lembrar o verão de 1996, quando Boris Yeltsin foi proclamado presidente pela segunda vez. Todos na época sabiam que ele só conseguiu tal façanha recorrendo a truques sujos em uma época na qual a população há muito tempo já se voltara contra o presidente.
É claro que tal comparação é um pouco equivocada. Cerca de 35% dos russos votaram em Yeltsin, enquanto que quase 64% apoiaram Putin, o que se constitui em uma maioria totalmente diferente. Mesmo se subtrairmos os supostos oito, nove ou até mesmo dez porcento de votos resultantes de fraude eleitoral, Putin ainda conta com uma vitória significativa – contanto que não se leve em conta as grandes cidades. O eleitorado russo é simplesmente “o melhor do mundo”, afirmou o diretor da comissão eleitoral após a publicação dos resultados.
No entanto, o clima ainda é similar àquele de 1996. Aqueles que têm sensibilidade nessa área sabem que Putin carece de visão política. Até mesmo ele admitiu isso no domingo, ao descrever-se como sendo um político pragmático. Com tal declaração, ele mantém todas as opções em aberto. Ele poderia libertar um prisioneiro como o magnata do petróleo Mikhail Khodorkovsky, quando isso fosse politicamente conveniente, e ao mesmo tempo agir de forma mais dura no que diz respeito a outras questões.
Mas isso não será suficiente para a Rússia nos próximos anos. Yeltsin também não contava com um senso de direção nítido para o seu país, tendo deixado de instituir reformas urgentes. Como resultado disso, a Rússia foi incapaz de reerguer-se economicamente, e uma crise levou o país à beira da bancarrota. Yeltsin teve que deixar o poder antes do final do seu segundo mandato.
Para conquistar votos mais uma vez, apesar da deterioração da sua popularidade, Yeltsin jogou com o medo de que os comunistas retornassem ao poder. Já Putin obteve a maioria dos votos argumentando que “provocadores políticos” apoiados por forças estrangeiras desejavam assumir o controle sobre a Rússia. Na verdade, essa argumentação foi uma referência à rebelada classe média de Moscou.
Ele repetiu esse argumento no comício de vitória, alegando que aqueles indivíduos tinham apenas um objetivo: “destruir o Estado russo”. Isso não passa de bobagem e demagogia.
Mas esse discurso significa também que Putin ainda não está pronto para conversar com os seu oponentes. Em um país ocidental, um candidato que comemorasse o seu triunfo teria feito também pelo menos algum esforço formal no sentido de dialogar com a oposição.
E o que a oposição fará agora? Ela não pode, é claro, modificar o sentimento popular. Não haverá revolução ou insurreição contra o novo chefe do Kremlin. Só restam então outras possibilidades, como a resignação. Quatro milhões de russos deixaram o país nas duas últimas décadas, e a maioria era altamente qualificada, segundo Vladimir Ryzhkov, um dos líderes oposicionistas. Isso equivale mais ou menos à população inteira da Finlândia.
Ryzhkov sugeriu que o retorno de Putin ao Kremlin provocaria uma nova onda de emigração. Conforme sabem agora aqueles que se reuniram na Praça Bolotnaya e na Avenida Acadêmico Sakharov, em Moscou, em dezembro último, para exigir politicas reformas, a liderança russa é surda. Por que eles continuariam a protestar? Em vez disso, eles provavelmente mudar-se-ão para o Ocidente, juntamente com outros grupos da capital russa. Até o verão europeu, o clima de protesto poderá ter acabado há muito tempo.
Unificação da oposição fragmentada: a oposição poderia tentar chegar a um acordo quanto a um programa próprio e, em uma espécie de pacto de protesto, criar o seu próprio partido com o qual a maioria da classe média pudesse se identificar. Isso daria início a uma rota através das instituições políticas e, na próxima eleição geral, eles poderiam conquistar a Duma. Isso não seria fácil, sobremaneira na Rússia, onde os indivíduos que se encontram no poder preferem esmagar a oposição nos seus primeiros estágios. Seria necessário ter paciência. Mas simplesmente não há outras opções.
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