Peter Novick |
Novick --“um judeu não praticante”, segundo Joan-- foi o autor de “The Holocaust in American Life”, no qual perguntava por que o genocídio nazista passou a “pairar de modo tão grande” e “se o papel proeminente que o Holocausto passou a exercer tanto no discurso dos judeus americanos quanto no discurso americano geral é um desenvolvimento tão desejável quanto a maioria das pessoas acredita”. Ele era cético de que era desejável, e dez anos de pesquisa, ele acrescentou, “confirmaram o ceticismo”.
Novick não negava a enormidade do Holocausto nem sugeria que fosse esquecido. Mas ele argumentava que, em uma época de crescente assimilação, casamentos inter-religiosos e secularização, ele se tornou “virtualmente o único denominador comum da identidade judaica americana no final do século 20”.
O Holocausto, como ele o via, também estava sendo usado para fins políticos. Isso foi particularmente verdadeiro, segundo ele, depois que a Guerra dos Seis Dias, em 1967, e a Guerra do Yom Kippur, em 1973, acentuaram os temores a respeito da vulnerabilidade de Israel.
“Depois de 1967 e particularmente depois de 1973, grande parte do mundo passou a ver o conflito do Oriente Médio fundamentado na luta palestina para, tardiamente, cumprir a intenção original da ONU” de criação de dois Estados, ele escreveu. "Mas havia fortes motivos para as organizações judaicas ignorarem tudo isso, em vez de apontarem as dificuldades de Israel como derivadas do mundo ter esquecido o Holocausto. O argumento do Holocausto permitia desprezar como irrelevante qualquer base legítima para críticas a Israel.”
O livro de Novick provocou muitas e diversas reações por parte de críticos e acadêmicos. Em sua crítica do livro no “The New York Times”, Lawrence L. Langer, um acadêmico de literatura do Holocausto do Simmons College em Boston, disse não ter sido convencido pelos argumentos de Novick. “Novick desconsidera com acerto as respostas formulaicas ao Holocausto, do ubíquo, porém vazio, ‘Nunca mais de novo!’, às manipulações periódicas da compaixão popular por parte de algumas organizações judaicas, quando elas temem um aumento do antissemitismo ou um declínio do apoio a Israel. Mas o abuso do Holocausto para fins políticos ou sentimentalistas não coloca em descrédito a contínua importância da atrocidade em si, como uma catástrofe humana e um exemplo do vasto mal em nosso tempo.”
Eva Hoffman, a escritora e estudiosa de literatura, ao escrever no “The New York Review of Books”, deu mais apoio. Ela notou que o livro foi “criticado pela severidade e suposto ‘cinismo’ de seu tom” e reconheceu que era “de fato um trabalho duro, agudo, brusco e às vezes quase swiftiano em seu rigor”. Mas, ela acrescentou, “a irritação é uma medida do envolvimento de Novick; sua franqueza faz parte do argumento. Novick tem claramente a intenção de cortar os circunlóquios do discurso habitual do Holocausto, desafiando aquilo que vê como sendo seus ofuscamentos com uma lógica inflexível e dizendo em voz alta aquilo que frequentemente é insinuado de modo privado”.
Jan Goldstein, uma amiga e colega de Novick na Universidade de Chicago, lembrou que “com muita frequência os historiadores da experiência judaica consideravam a tese como um ataque contra os judeus americanos”. “Ele foi considerado por alguns como sendo um judeu com ódio de si mesmo”, disse Goldstein a respeito de Novick, “o que certamente ele não era”.
Em 2000, “The Economist” citou o livro de Novick como “ponto de partida” para um bem mais controverso, “A Indústria do Holocausto: Reflexões Sobre a Exploração do Sofrimento dos Judeus”, no qual o autor, Norman G. Finkelstein, argumentava que o Holocausto estava sendo explorado para fins pessoais, políticos e econômicos.
Joan Novick lembrou do alarido em torno do livro de seu marido. “Algumas pessoas odiaram o livro”, disse. “As pessoas diziam: ‘Isto é uma coisa ruim. Você está dizendo que o Holocausto não foi a coisa mais horrível do mundo’.” Ainda assim, ela acrescentou que “apesar de descrente, Peter encontrou forte apoio entre muitos rabinos, de liberais a ortodoxos, que compartilhavam sua preocupação de que o Holocausto poderia substituir a religião como símbolo central do judaísmo”.
Peter Novick nasceu em Jersey City, Nova Jersey, em 26 de julho de 1934, filho de Michael e Esther Novick. Seus avós imigraram do Leste Europeu para os Estados Unidos nos anos 1890. Após servir no Exército, Novick recebeu seu diploma de bacharel em 1957 e seu doutorado em 1965, ambos pela Universidade de Columbia. Além da mulher, ele deixa um filho, Michael.
Novick ingressou no corpo docente da Universidade de Chicago em 1966 e se aposentou em 1999. Sua especialidade era historiografia, o estudo das técnicas de pesquisa histórica, e mesmo aí ele desafiou as ortodoxias. Em seu livro de 1988, “That Noble Dream: The ‘Objectivity Question’ and the American Historical Profession”, ele questionou a ideia da objetividade na pesquisa histórica. Traçando seu desenvolvimento, ele escreveu que a história foi considerada uma espécie de gênero literário até o final do século 19, infundida do ponto de vista do autor. Isso mudou quando o ideal predominante se tornou a documentação baseada em fato, sem preconceitos. Novick novamente se mostrou cético, acreditando que o “mito da objetividade se desfaz”, como colocou Goldstein, “que não há essa coisa de fato isolado de uma teoria ou narrativa preconcebida”.
Sobre as críticas ao seu livro sobre o Holocausto, o dr. Novick disse ao “Chicago Tribune” em 1999: “Eu sabia que ele causaria controvérsia”, acrescentando que a reação foi “dividida entre aqueles que disseram ‘exatamente!’ e aqueles que ficaram escandalizados e ultrajados”. “Eles não me pagam aqui apenas para lecionar”, ele disse. “Eu produzo conhecimento.”
Belíssimo artigo!
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