Acima um rebelde dotado de um rifle de precisão de origem russa, em uma escola na cidade de Deir Baalbeh |
Três atentados abalaram Damasco e Aleppo em um fim de semana. O mais mortífero (27 mortos e 140 feridos) ocorreu na manhã de sábado (17), diante de um prédio dos serviços de inteligência em um bairro cristão de Damasco. Um pouco mais tarde, uma explosão matava dois homens em seu carro-bomba, em um campo de refugiados palestinos da capital. No dia seguinte, em Alpe, foi o bairro de Suleimaniyeh, que também abriga cristãos, que foi atingido (três mortos e cerca de 30 feridos).
Entrega de armas
Foram registrados conflitos no bairro residencial de Mazzé, em Damasco, na noite de domingo para segunda-feira, e o regime atribuiu esses ataques --não reivindicados-- a “terroristas”, uma denominação que vem usando para os manifestantes desde o início dos levantes. Já a oposição joga a responsabilidade sobre o governo, que estaria buscando assim manchar a revolução e atrair para sua causa a minoria cristã (10% da população). “O regime sírio tem tentado aterrorizar Damasco e Aleppo, onde grandes manifestações ocorreram nas últimas semanas”, observa Samir Nachar, membro do braço executivo do Conselho Nacional Sírio (CNS), a principal plataforma de oposição síria.
Outro desdobramento preocupante: a confirmação por uma fonte diplomática árabe, para a agência France Presse, de que a Arábia Saudita estaria encaminhando armas --cuja intenção ela havia afirmado-- por meio da Jordânia para equipar os desertores do Exército Sírio Livre (ESL). Uma informação “categoricamente desmentida” por Amã. Joseph Bahout, professor do Instituto de Ciências Políticas de Paris, vê nessa crescente militarização a principal armadilha que espreita a revolução síria: “O regime fez de tudo para atrair a oposição para seu território, o da violência, cujas regras ele domina perfeitamente”. Um militante sírio confirma: “O tráfico de armas leves na fronteira sírio-libanesa é feito com consentimento do governo. Chegaram a ver o exército se retirando de certas cidades como Deraa, deixando kalashnikovs para trás. Tudo isso foi feito para levar o povo a aderir à violência”. A ascensão do ESL veio acompanhada de um agravamento dos balanços diários, que passaram de 30 mortos por dia para mais de cem.
“Situação como a da Bósnia”
Nesse contexto, é fácil para o governo ganhar a adesão “daqueles que têm medo do caos”, ressalta Bahout. “É normal que os habitantes de Homs e de Deraa, desesperados após um ano de repressão, apelem para uma intervenção armada. Mas o mais grave é que países como a França e a Turquia os encorajaram a isso, mencionando corredores humanitários e zonas de segurança que nunca virão.”
Durante esse tempo, ficaram estagnadas as discussões sobre uma resolução no Conselho de Segurança da ONU sobre o envio de ajuda humanitária e de observadores destinados a monitorar um improvável cessar-fogo. Mas a situação está se degradando tão rapidamente no local que o dispositivo no qual tem trabalhado o enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, pode se revelar caduco tão logo surja. Enquanto o exército sírio faz um pente fino no norte, perto da fronteira turca, depois de tomar Idlib, conflitos armados foram registrados no subúrbio de Damasco --em Tal, Doumeir e Qatana--, bem como em Deir ez-Zor, no leste do país.
Outro dano colateral da militarização é a crescente divisão da oposição. Ao contrário do Comitê Nacional pela Mudança Democrática, que teve um de seus diretores, Mohammed Sayyed Rassas, preso no domingo, o CNS decidiu pedir por armas e uma intervenção internacional. “Ele não tinha escolha, de tão forte que era a pressão do povo”, diz o militante sírio. “O CNS está apostando em uma situação como a da Bósnia”, explica Bahout, “na qual ele poderia lançar uma guerra de conquista a partir de uma zona libertada”. É uma aposta arriscada que pressupõe a inversão da relação de forças e uma proteção internacional.
Apesar do rugir das armas, os manifestantes continuam saindo às ruas. Cerca de 2.000 estudantes fizeram uma passeata na Universidade de Aleppo antes que o exército entrasse no campus. Manifestantes viraram alvo em Raqqa, uma cidade do vale do Eufrates tida como garantida pelo regime. E em Deraa, onde tudo começou, eram cerca de 7.000 deles neste fim de semana, pedindo pela saída de Bashar al-Assad durante os funerais.
"Situação como a da Bósnia” ou seja, manipulação extrema.
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