Se você deseja examinar tanques israelenses destroçados, brincar com um lançador de foguetes ou explorar um autêntico bunker cravado na rocha, o parque temático multimídia do Hezbollah no sul do Líbano é o lugar ideal.
O grupo islâmico xiita -- que combateu Israel quatro anos atrás, num conflito sem vencedores, e depois disso vem se preparando para uma próxima guerra -- incorporou um toque criativo a seu "marco turístico da resistência" em Mleeta, que reflete suas habilidades militares inovadoras.
O Hezbollah costuma ser um grupo muito reservado. Sua decisão de abrir à visitação um estratégico bastião nas montanhas, que já foi linha de frente numa "zona de segurança" ocupada por Israel, indica que o grupo não pretende voltar a lutar antigas batalhas quando o próximo confronto explodir.
Por ora, o Hezbollah está levando a guerra de propaganda até seu inimigo, bem como procurando inspirar seu povo com as narrativas de sua força, como o inimigo mais letal de Israel nos últimos 25 anos.
Aqui, nesta região montanhosa, é exibida a dura realidade da vida de um guerrilheiro do Hezbollah, repleta de referências a patriotismo e martírio, e uma dose de pretensão.
Apesar do verão escaldante, mais de meio milhão de pessoas já afluiu para Mleeta, localizada cerca de 50 quilômetros a sudeste de Beirute, desde a inauguração do local em maio, dizem os guias do Hezbollah que conduzem os grupos em árabe, inglês, francês, alemão e italiano.
"Se os israelenses não nos atacarem, nós não os atacaremos", afirmou um guia que trabalha meio período e disse chamar-se Ali. "Não somos terroristas. Somos pessoas muito pacíficas e temos o direito de viver como qualquer outra nação."
Ali, de 40 anos, trabalha num banco islâmico na vizinha cidade de Nabatiyeh. Ele disse que o amplo parque custou 4 milhões de dólares até agora. Há planos de construção de um hotel cinco-estrelas, local de acampamento, piscinas para o verão, clubes esportivos e, por fim, um bondinho tipo teleférico.
Os guias geralmente fazem pregações aos visitantes, que na maioria são xiitas libaneses e um pequeno grupo de estrangeiros. "Vocês acreditam no Hezbollah, vocês acreditam em seu país, vocês acreditam em sua força", diz num tom estridente Sara Nasser, do vilarejo sulista de Haris, acrescentando que a exposição encheu-a de orgulho.
O roteiro em Mleeta começa em um cinema que mostra um vídeo de sete minutos com a história do Hezbollah, ao som de uma música marcial tão alta que incomoda os ouvidos. Em seguida, os visitantes vão a um museu que exibe armas e outros aparatos capturados de Israel.
Painéis apresentam uma detalhada descrição do arsenal israelense e mostram imagens de satélite -- e as coordenadas nos mapas -- de alvos potenciais do Hezbollah no Estado judeu, incluindo seu reator nuclear de Dimona, no distante deserto israelense do Neguev.
Do lado de fora, há uma arena onde estão em exposição tanques e equipamento da artilharia israelense.
O passeio em Mleeta termina na "Praça da Libertação", um jardim circundado por armas e mísseis do Hezbollah. Escadas levam a uma esplanada dedicada aos "mártires" da organização.
O Hezbollah, grupo apoiado pelo Irã e Síria, emergiu como uma força de resistência depois que Israel invadiu o Líbano em 1982 para expulsar combatentes da Organização de Libertação da Palestina (OLP) de perto de sua fronteira norte.
Única facção a permanecer armada depois do fim da guerra civil no Líbano (1975-1990), o Hezbollah diz que precisa manter seu amplo arsenal de foguetes para conter Israel.
Israel e os Estados Unidos, mas não a União Europeia, consideram o Hezbollah uma organização terrorista.
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