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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Depois de 75 anos, Itália deve julgar esquadrilha de Mussolini que bombardeou Barcelona

Foto mostra Barcelona sendo bombardeada durante à Guerra Civil Espanhola por um bombardeiro italiano

Buonamico, Cassiani, Rossagnigo, Di Tullio, Corti, Montanari, Ruspoli, Zucconi... Parece uma lista de convocados da seleção italiana, a "squadra azzurra", mas trata-se de membros de outro tipo de seleção, muito sinistra.

São alguns dos nomes dos 21 aviadores fascistas contra os quais se dirige, principalmente, a denúncia por crimes de guerra apresentada por duas vítimas dos bombardeios aéreos italianos à cidade de Barcelona durante a Guerra Civil espanhola e a associação de italianos residentes na capital catalã, Altraitalia.

A denúncia criminal, que se concentra nos bombardeios de saturação de 1937 e 1938, especialmente nos 12 ataques selvagens da aviação de Mussolini à cidade em 41 horas, de 16 a 18 de março de 1938, fez história esta semana ao ser finalmente admitida pela Audiência Provincial de Barcelona, que em sua ata determina instruir e julgar a chefia das esquadrilhas responsáveis.

A coisa poderia parecer de uma inutilidade incrível, se levarmos em conta que se passaram 75 anos desde os fatos explosivos e que os aviadores envolvidos já não praticam muitos voos. Isso se algum deles estiver vivo. O que trará o assunto à baila é sem dúvida um deles, o capitão Aldo Quarantotti, ao qual, segundo descobri, em 12 de julho de 1942, sendo na época tenente-coronel da Regia Aeronautica na Segunda Guerra Mundial, no comando de um caça Reggiane Re 2001s, lhe arrancou a cabeça com um tiro de canhão de seu Spitfire o ás canadense George Buzz Beurling, "o Falcão de Malta", nos céus da ilha. Pelo menos Quarantotti já se pode riscar da lista.

"Sabemos que vamos encontrar casos assim", diz com voz entristecida, menos pela sorte do piloto, me parece, do que por não poder levá-lo à justiça, o advogado e membro da Altraitalia Newton Bozzi, que, junto com Jaume Asens, da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos do Colégio de Advogados de Barcelona, apresentou a denúncia. "Mas, como estabelece a ata da audiência, que menciona casos notáveis de longevidade, como certamente os das duas vítimas queixosas, não podemos descartar que reste alguém vivo da lista."

A lista negra desses 21 aviadores sem piedade, explica, foi confeccionada de maneira aproximativa, "com os dados de que dispúnhamos, com o apoio de historiadores". São todos "oficiais da Aviazione Legionaria, o corpo expedicionário na Espanha, líderes, comandantes notórios", salienta Bozzi.

A denúncia se concentra no fato de que os aviadores italianos bombardearam de maneira premeditada e impiedosa a população civil e - isto é fundamental - sem uma declaração de guerra entre Itália e Espanha. Os denunciantes afirmam que, por mais idosos que sejam os pilotos, não se trata de um ato meramente simbólico. "Levá-los à justiça? E por que não?", exclama Marcello Belloti, do grupo Memória Histórica da associação Altraitalia, que levantou a bandeira do caso e ainda guarda rancor de Mussolini, "ao qual conseguimos pendurar pelos pés no Piazzale Loreto".

Belotti salienta que no caso dos aviadores estamos falando de "militares muito especializados, muito conscientes e orgulhosos do que faziam, gente muito ideologizada, que, do céu, decidia sobre a vida e a morte e nunca expressou remorsos". Fascistas da gema, digamos.

Salienta que os aviadores eram muito diferentes de outros combatentes italianos enviados pelo Duce, "a pobre gente tirada do campo e das minas sicilianas que Sciascia descreve em 'L'antimonio' e aos quais se prometeu um paraíso na Espanha". Quanto aos aviadores, "é preciso averiguar se estão vivos e citá-los, como estabelece a ata". A audiência pedirá ao Ministério da Justiça italiano sua cooperação para conhecer o estado e paradeiro dos imputados.

Entre os denunciados, há personagens notáveis como o capitão Orlandini, ao qual encontramos em 1940 pilotando Stukas, os famosos bombardeiros que os nazistas forneciam aos italianos a contagotas, ou o major Quattrociocchi, incorrigível, que depois do armistício entre Itália e os aliados em 1943, à diferença de outros pilotos, continuou fiel ao fascismo e comandou até o final a Aeronáutica Nacional Republicana (ANR), a aviação da República de Saló.

O historiador e autor de documentários catalão Xavier Juncosa teve o privilégio de conhecer em 1998 na Casa degli Aviatori de Roma os dois pilotos de bombardeiros que encabeçam a lista, os tenentes na Espanha e depois generais Paolo Moci e Alberto Lauchard. "Na época me disseram que eram os dois últimos da Aviazione Legionaria, e ambos já morreram", relembra. Sob os veneráveis avós, encontrou dois férreos militares. Moci inclusive justificava o bombardeio de Guernica, do qual participou à frente de uma patrulha de três Savoia S.79. Juncosa aplaude a decisão do tribunal de Barcelona.

A má reputação militar dos italianos, um falso clichê, relegou o papel de sua aviação na Guerra Civil. A fama ficou para a Legião Condor. Na realidade, os italianos sempre foram grandes aviadores, de Francesco Baracca, o ás do cavalinho empinado, símbolo que a Ferrari herdaria, a Mario Visintini, imortalizado por Hugo Pratt.

E a Aviação Legionária (6.000 combatentes com cerca de 800 aparelhos), em concreto seus bombardeiros, como os excelentes Savoia-Marchetti SM.79, foi uma arma muito eficaz, terrível e brutal na Espanha.

Os fascistas se encantavam pela aviação, que invocava o homem moderno, indômito e virilmente forte e violento. Esse amor aéreo foi representado por Ítalo Balbo e suas proezas, e pelo próprio terceiro filho do Duce, Bruno Mussolini, que foi piloto de bombardeiros e se integrou à Aviação Legionária em Maiorca (mas Franco o fez voltar à Itália).

Embora não se costume acreditar, os italianos foram alguns dos inventores do bombardeio à população civil com o objetivo de desmoralizar o inimigo. Concretamente, o general Giulio Douhet, no início do século 20, foi um precursor do bombardeio estratégico, que definia em sua animada língua como um "ato de guerra longe dos campos de batalha para atingir, entre outras coisas, as cidades".

A disputa na Espanha serviu para os italianos, assim como os alemães, fazerem experimentos de guerra aérea (os meridionais também levaram anotações detalhadas dos efeitos das bombas). De fato, vários de seus pilotos que lutaram na Espanha participaram depois inclusive das pouco conhecidas operações de bombardeio italiano contra cidades durante a Batalha da Inglaterra (os "Chianti raiders", que decolavam da Bélgica - um dos ataques foi denominado Operazione Cinzano).

Alguns autores atribuem os tremendos bombardeios contra Barcelona em março de 1938 a um cínico exercício de empirismo. No entanto, o historiador Edoardo Grassia opina que Mussolini quis impressionar Hitler na época do Anschluss e lhe ocorreu essa maneira infernal.

A ordem, segundo anotou em seu diário o ministro das Relações Exteriores e genro do Duce, Galeazzo Ciano, foi dada pessoalmente por Mussolini ao chefe do Estado-Maior da Aviação, general Valle (que passou a tarefa a Velardi, no famoso telegrama infame: "Iniciar a partir desta noite ações violentas sobre Barcelona com bombardeios espaçados de tempo"), embora depois, diante do horror internacional provocado pelos ataques, tentassem atribuir a decisão a Franco. Os ataques foram realizados em ondas sucessivas a partir de Maiorca pelos aparelhos do 8º Stormo Bombardamento Veloce ("os Falcões das Baleares") de dia e o 25º Gruppo Autonomo Bombardamento Notturno (Pipistrelli delle Baleari) de noite - ao todo cerca de 50 toneladas de bombas e no mínimo 670 mortos e 1.200 feridos.

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