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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Reconquista de território em Mali é desafio para africanos e aliados

Militantes do National Movement for the Liberation of Azawad

A conquista do norte do Mali em março foi fácil para os quatro grupos armados que a levaram a cabo. Em compensação, a reconquista desse enorme território está sendo um caminho tortuoso para os países africanos e seus protetores europeus antes mesmo de ter começado.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, acaba de jogar um balde de água fria sobre o ardor bélico da CEDEAO (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental e da França), que a pressiona para expulsar desse território de 830 mil quilômetros quadrados os movimentos armados que há oito meses dominaram o Exército malinês.

No final de março a Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI), o Movimento pela Unicidade e o Jihad na África Ocidental (MUJAO) e dois grupos tuaregues, Ansar Dine, de caráter islâmico, e o Movimento Nacional de Libertação do Azawad (MNLA), laico e nacionalista, se apoderaram dessa enorme região semidesértica cuja superfície equivale à da Espanha e a da Itália juntas. Posteriormente o MUJAO expulsou militarmente os tuaregues moderados da região.

“Questões fundamentais permanecem em aberto”, escreve Ban Ki-moon, em um informe dirigido ao Conselho de Segurança. Não está claro “como essa força será dirigida, mantida, treinada, equipada e financiada”, diz. Ele se refere ao contingente (AFISMA) de pelo menos 3.300 soldados que a CEDEAO concordou em enviar três semanas atrás ao Mali, em apoio a seu Exército na reconquista do norte.

O plano é secreto, mas sabe-se que serão sobretudo o Níger, a Nigéria e Burkina Fasso os países que proporcionarão a maior parte das tropas. Começará em janeiro, com o treinamento intensivo dado por 200 a 400 instrutores europeus a algumas unidades recuperáveis do derrotado Exército malinês (7.000 homens).  

Depois chegarão ao Mali os soldados da AFISMA, que deverão aprender a se coordenar e tirar partido da ajuda logística oferecida pelos europeus. No entanto, serão os soldados malineses recém-treinados que formarão as tropas de reconhecimento militar do ataque à fortaleza islamita.

O apoio consistirá, entre outras coisas, de inteligência. Essa provavelmente será a principal contribuição dos Estados Unidos, cujos aviões não tripulados já sobrevoam o norte do Mali a partir de suas bases de Uagadugu e Nuakchott, como revelou em junho uma reportagem do jornal “The Washington Post”. A França também se dispõe a inaugurar na região outra base de aviões não tripulados, segundo a agência de notícias Associated Press.

“A superioridade nos será proporcionada pela aviação” que atacará por cima, revelou recentemente em Paris Guillaume Soro, presidente do Parlamento da Costa do Marfim. No entanto, a França negou que esteja disposta a usar sua força aérea para bombardear tuaregues e terroristas.

Estes tampouco perderam tempo diante da ameaça que se assoma. “Não estamos levando armas agora para entregá-las amanhã”, diz pelo telefone, em Timbuctu, o tuaregue Sand Ould Boumama, porta-voz do Ansar Dine. “Resistiremos porque é nosso direito”, ressalta. E há um número cada vez maior deles para isso.

“Centenas de homens estão chegando ao norte vindos de todos os rincões”, explica pelo telefone o deputado malinês Baba Haidara. “Em Timbuctu agora se fala urdu, árabe iemenita, árabe chadiano...” Entre os voluntários está Mohammed Said Zakaria, espanhol de 27 anos, segundo a polícia marroquina.

Dos cerca de 6.000 homens que, atraídos pelo jihad, se alistaram nos grupos armados, menos de 2.500 estão em condições de empunhar uma arma com eficácia, segundo o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian. Entre todos esses combatentes “a organização dominante é a AQMI”, como declarou em Dacar o general Carter Ham, que dirige a missão do Pentágono para a África (Africom). “É o braço da Al-Qaeda mais rico”, graças aos sequestros de ocidentais.

Mas apenas os terroristas mais ferrenhos são visíveis. Em setembro, seus sócios do MUJAO atravessaram a fronteira do norte do Mali para se apoderarem da cidade de Douentza e em novembro da de Menaka, enquanto o Ansar Dine acaba de se apossar, sem atirar, de Léré, perto da fronteira mauritana. A AQMI não é vista na linha de frente.

Na preparação para a guerra os islamitas já estão tomando precauções. Camuflam seus veículos e abandonaram os edifícios administrativos onde se instalaram em um primeiro momento. “Já não estão vivendo na cidade”, explica o ex-prefeito de Gao, Sadou Diallo, ao jornal “La Dépêche de Bamako”. “Eles vêm durante o dia (...) e vão ao cair da noite” para o deserto.

“Esse provavelmente será o principal problema da guerra”, assinala um diplomata em Bamaco. “Terão de persegui-los no deserto, que eles conhecem como a palma da mão, e até nas duras montanhas de Ifoghas”.

Apesar de todos os obstáculos que enumera, Ban reconhece no seu informe que em última instância uma intervenção militar “certamente será necessária (...) contra os mais extremistas”. Pede ao Conselho de Segurança que a aprove, mas não que a financie – a guerra pode custar entre 231 e 385 milhões de euros.

Portanto, a reconquista deverá ficar a cargo da União Europeia, liderada pela França. Não por acaso é a ex-metrópole colonial. Ban não fala de prazos em seu informe, mas seu enviado especial para o Sahel, o ex-premiê italiano Romano Prodi, afirma que a ofensiva não começará “antes de setembro”.

O informe de Ban não agradou os africanos. “(...) o conteúdo do informe parece estar abaixo das expectativas do continente como um todo”, escreveu para Ban Ki-moon na quinta-feira o presidente da União Africana, o beninense Thomas Boni Yayi. Também aborreceu a França. Paris pediu, na sexta-feira, que o Conselho de Segurança desse o sinal verde ao continente africano antes do dia 20 de dezembro para intervir provavelmente em março, antes que o calor fique insuportável.

“Qualquer retrocesso no que diz respeito ao envio urgente de uma força internacional para combater o terrorismo no norte de Mali será interpretado como um sintoma de fraqueza” perante os terroristas, se queixa Boni Yayi em sua missiva a Ban Ki-moon.

No entanto, este propõe separar um tempo para “dialogar” com os tuaregues, cuja fé integrista é recente. A Argélia, a Mauritânia e Burkina Fasso estão na mesma linha. Se fosse possível dissociar o Ansar Dine da Al-Qaeda seria mais fácil vencer a guerra.  

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