O presidente da Geórgia, Mikheil Saakashvili, discursa em Tibilisi. Imagem de 28/09/2012 |
Contrariando os temores, depois de uma tensa campanha eleitoral, a Geórgia passou sem maiores incidentes pelo teste democrático mais delicado desde a “Revolução Rosa”, no final de 2003. Mas a figura tutelar dessa era, o presidente Mikheil Saakashvili, foi duramente castigado nas urnas, na segunda-feira (1º), durante as eleições parlamentares.
Até o último instante, seus partidários queriam acreditar em uma reviravolta dos resultados e em uma pequena maioria a favor do MNU (Movimento Nacional Unido), graças às sutilezas do sistema eleitoral misto. Diante deles, os simpatizantes do Sonho Georgiano, do bilionário Bidzina Ivanishvili, já celebravam sua vitória nas ruas.
Após a apuração de 24,22% dos votos para as cadeiras por representação proporcional, o Sonho Georgiano contava com 53,02% dos votos contra 41,75% para o MNU do presidente Saakashvili. O Sonho Georgiano espera obter dois terços das 150 cadeiras no Parlamento. Na terça-feira (2), uma pessoa próxima do chefe do Estado afirmou ao “Le Monde” que o MNU apostava em 60 a 65 cadeiras, preparando-se, portanto, para ser a nova oposição. Algumas circunscrições ainda eram disputadas demais para se ter uma ideia exata dos resultados, além de a Comissão ter sido vítima de um ataque de hackers que atrasou seu trabalho.
A Geórgia tem um sistema misto de uma complexidade assustadora, que levou os parlamentares de todo o país a revisarem seus conhecimentos em matemática durante a noite. Eles encheram lousas e dezenas de folhas de papel, cada um fazendo suas projeções: 73 em 150 deputados são eleitos em 73 circunscrições, segundo uma votação majoritária, ao passo que as outras 77 cadeiras são atribuídas por representação proporcional, segundo as listas dos partidos, com um limiar mínimo de 5% a atingir.
O presidente Saakashvili, ao mesmo tempo em que anunciava uma “vantagem significativa” para seu lado na eleição majoritária, cuja certeza se desfez ao longo da noite, logo reconheceu a derrota do MNU na eleição proporcional. A elevada porcentagem do Sonho Georgiano “se deve principalmente aos votos que a coalizão obteve na capital”, declarou o chefe do Estado. De fato, Tbilisi se mobilizou como nunca e confirmou sua reputação de praça-forte da oposição. Ela manifestou uma rejeição maciça ao presidente, que tanto ama o porto de Batumi, polo turístico, mas degradou a capital, centro histórico das elites, ao transferir o Parlamento para Kutaisi, pensando em uma descentralização.
O último mandato de Mikheil Saakashvili termina em um ano. Ele deverá então coabitar com um primeiro-ministro, Bidzina Ivanishvili, que o acusou de conduzir um “regime criminoso”. A posição de Mikheil Saakashvili será ainda mais frágil pelo fato de que a Geórgia passará para um regime parlamentar em 2013. O que acontecerá quando, como anunciado, Ivanishvili quiser restabelecer os canais de comunicação com a Rússia?
Mikheil Saakashvili é o porta-bandeira das “revoluções coloridas” que tanto espantaram o Kremlin e da Freedom Agenda lançada pela administração Bush, que esperava por um contágio democrático no antigo espaço soviético. Após a derrota dos arquitetos da “Revolução Laranja” na Ucrânia e a volta de Vladimir Putin à frente do Estado russo, o refluxo continua. Bidzina Ivanishvili reforçou na segunda-feira à noite seu compromisso a favor da integração europeia e de uma entrada na Otan, mas os observadores continuam céticos.
O monopólio político do MNU – que dispunha até então de 119 cadeiras das 150 no Parlamento – chegou ao fim. Na terça-feira (2) a comitiva do presidente estava atordoada, incrédula. Antes da eleição, convencidos de uma vitória, os parlamentares concordavam que o monólogo deveria se transformar em diálogo, para que a política georgiana não fosse mais feita nas ruas. Mas, atualmente, o risco é de que surja uma nova dominação única, a do Sonho Georgiano, inspirada pela revanche. “O vencedor leva tudo”, sorri avidamente um aliado do bilionário.
Mikheil Saakashvili pronunciou um discurso de pacificação na segunda-feira (1°) à noite, pedindo que se deixasse para trás uma campanha “tensa, emocional e, infelizmente, muitas vezes suja”. Mas essa preocupação com um diálogo tem poucas chances de ser ouvida, de tão forte que é a polarização. A estratégia de guerrilha verbal da oposição não é a única causa. Assim como Yulia Timochenko na Ucrânia, derrotada na eleição presidencial do início de 2010, Saakashvili negligenciou o cansaço popular, retomando um discurso revolucionário – o futuro contra o passado, a reforma contra os criminosos – que se tornou inaudível para muitos cidadãos.
Crescimento do turismo, facilidades de empreendimento, remanejamento administrativo, combate à corrupção: para o chefe do Estado, o progresso é uma estrada de mão única, a que ele desenha. Opor-se a esse movimento de avanço, ou discutir seus métodos, significa, para ele, pertencer aos perdedores do antigo regime, aos nostálgicos. O que é só parcialmente verdade.
Entre as milhares de pessoas que celebravam a vitória em Tbilisi, havia muitos jovens, chocados com os vídeos das torturas em presídios, reveladas oportunamente dez dias antes da eleição. Movimentos muito diversos nasceram dentro da universidade, em defesa dos direitos humanos. Na capital, chegou a virar tendência apoiar o Sonho Georgiano. “Esse caso teve um papel determinante”, reconhece Maia Panjikidze, porta-voz de Bidzina Ivanishvili. “Antes, nossa vantagem era pequena. As pessoas entenderam que isso não era um caso individual, mas um problema sistêmico. Muitos eleitores mudaram de ideia na última hora”.
Além disso, existe um adversário que não é nada manipulado por Moscou, um adversário de uma banalidade absoluta em democracia: o desgaste do governo. Após nove anos sob a ameaça permanente de uma crise interna ou externa, inclusive a polêmica guerra de agosto de 2008, uma parte da Geórgia se cansou de Mikheil Saakashvili. Ela sente que uma alternância está sendo tentada, que ela pode até mesmo ganhar com isso, com um novo chefe tão rico, que afirma ter gasto US$ 1,6 bilhão por seu país em dez anos.
Durante a campanha, o chefe do Estado se recusou a exprimir empatia ou uma forma de autocrítica. A partir de que momento um dirigente movido por seu compromisso liberal e pró-ocidental se torna surdo para parte de seu povo?
Ese ai foi o maior bundao limpa botas dos Americanos
ResponderExcluirque ja houve na Hestoria