François Hollande |
O importante é não demorar. Encerrar a história para abrir outros horizontes políticos. François Hollande não tem intenção nenhuma de se eternizar na questão da aprovação do tratado orçamentário europeu. “Não estamos em 2005. Esse tratado não merece que a esquerda se divida. Ele merece ser votado e que passemos rapidamente para outra coisa”, diz Aquilino Morelle, conselheiro político do presidente e ele mesmo ex-opositor ao tratado constitucional europeu em 2005.
Prova de que a questão continua sendo delicada. O chefe do Estado está numa boa posição para saber, pois viu sua legitimidade à frente do Partido Socialista ser prejudicada pelo não ao referendo de 2005 e, ao mesmo tempo, o caminho para a presidencial de 2007 escapar.
Hoje, “o debate europeu no Partido Socialista perdeu grande parte de seu caráter telúrico”, garante em o chefe do Estado. Uma razão a mais para não criar tensões no debate comprando briga. Para conseguir a adesão dos socialistas recalcitrantes, o presidente prefere apostar em Bernard Cazeneuve, seu ministro das Relações Exteriores, que foi um dos defensores do não em 2005.
Quanto aos deputados ecologistas tentados a se opor, Hollande se recusa a considerar qualquer “medida disciplinar” contra eles. Para ele, a obtenção de uma maioria mais ampla que vá além dos socialistas continua sendo primordial. O chefe do Estado, como bom profissional do sufrágio universal, já sonha com as municipais de 2014 e com futuras coalizões...
Portanto, François Hollande não fará da ratificação do tratado um motivo para guerra com seus aliados. Ainda que ele vá monitorar de perto a aprovação da lei orgânica e do projeto de lei de finanças, que em sua opinião envolve toda sua maioria.
“Se houvesse alguma transgressão, se os dois grupos não votassem esses dois textos, haveria um problema”, ele disse a seus conselheiros. No entanto, ele não sujará suas próprias mãos com a aprovação do tratado. “É uma semana de persuasão parlamentar que pertence ao primeiro-ministro. Não cabe ao presidente fazer esse trabalho”, afirmam no Eliseu.
Deixando Jean-Marc Ayrault na linha de frente, o chefe do Estado se permite pronunciar um “grande discurso” sobre a Europa. Mas para isso ele espera pela ratificação do tratado na França e a realização do conselho europeu nos dias 18 e 19 de outubro, do qual ele espera “decisões claras” sobre a Grécia e a Espanha. Uma vez passadas essas datas, ele poderá falar diante do Parlamento europeu até o final do ano.
Antes disso, o presidente pretende estar presente em duas frentes. A primeira é a da “recuperação” que, segundo o Palácio do Eliseu, consiste em uma “dupla batalha, contra a dívida e a favor do emprego”. No canal TF1, no dia 9 de setembro, o chefe do Estado falou muito sobre a dívida: três semanas antes da apresentação em conselho dos ministros do projeto de lei de finanças para 2013, o tema foi destaque. Agora, ele quer falar mais daquilo que pode favorecer o emprego.
“Uma vez votado o orçamento e ratificado o tratado, entraremos em uma subsequência muito focada nas questões de competitividade”, afirma sua comitiva. No Eliseu, reconhecem que existe uma “forte expectativa” entre a opinião pública sobre esse tema. O presidente poderá fazer dele um dos principais assuntos da primeira das coletivas de imprensa que ele prometeu realizar a cada semestre. Esta poderá ocorrer em novembro.
A segunda frente na qual François Hollande pretende intervir é a do “agrupamento”. A palavra, repetida milhares de vezes na época em que era candidato, quase desapareceu de seu vocabulário desde que foi eleito. Ele deverá ressuscitá-la.
Em off, o chefe do Estado se diz, na verdade, “muito preocupado” com aquilo que ele chama de “fracionamento da sociedade francesa”. Segundo ele, a esquerda da esquerda está mudando de natureza: de incitadora da socialdemocracia, ela está passando a se considerar como uma verdadeira alternativa a esta.
Quanto à direita, ele a vê muito mais à direita do que era antes, e principalmente em 1981, quando parte dos gaullistas havia votado em Mitterrand em reação contra Giscard. Ele ficou surpreso, entre outras coisas, com a violência das declarações feitas pela oposição contra sua ministra da Justiça, Christiane Taubira.
Quase seis meses após uma campanha presidencial que ele considerou muito “divisora”, François Hollande não pretende intervir em debates que ele considera “manobras” vulgares: eis por que ele decidiu não responder à presidente da Frente Nacional, Marine Le Pen, quando ela propôs a proibição do véu e do quipá em espaço público, nem a Jean-François Copé, candidato à presidência da UMP, quando este levantou a questão do “racismo anti-branco”.
Preocupado em “unir” onde, segundo ele, Nicolas Sarkozy “dividiu”, o presidente da República pretende estar mais presente nesse terreno dos valores, sobre o qual ele quase não falou desde a eleição, exceto pelo discurso de natureza histórico-memorial que pronunciou no dia 22 de julho no local do antigo Velódromo de Inverno e no dia 21 de setembro em Drancy (Seine-Saint-Denis).
Sua viagem-surpresa a Echirolles (Isère), na segunda-feira (1º) à noite, faz parte dessa iniciativa. Três dias após o assassinato de dois jovens por arma branca, o presidente da República, pela primeira vez desde sua eleição, compareceu ao local de um incidente que acabara de ocorrer.
Essa viagem, ao lado de Manuel Valls, pode ser interpretada de duas maneiras. A primeira é justamente retomar a iniciativa no domínio do “viver juntos”, uma expressão que Hollande emprega com frequência.
A segunda é não deixar que seu ministro do Interior obtenha o monopólio da autoridade à frente do Estado. Isso porque o presidente também está convencido disso: embora ele mesmo continue a pensar que não pode estar na lida o tempo todo, os franceses precisam saber que é no Eliseu mesmo que está a autoridade.
Essa afirmação de uma liderança no cenário europeu e interno também faz parte da agenda do chefe do Estado. De qualquer forma, é um dos raros mecanismos que ele pode acionar para conter sua contínua queda nas pesquisas de popularidade.
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