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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Na Tailândia, o poder vem com a ajuda do Skype

Milhões de pessoas em torno do planeta cortaram as amarras de seus escritórios e passaram a trabalhar remotamente de casa, de salas de espera de aeroportos ou simplesmente de qualquer lugar que tenha uma conexão de Internet. Mas o partido político que governa a Tailândia levou as facilidades das telecomunicações para outro nível totalmente diferente.

No último ano e meio, pela própria admissão do partido, as decisões políticas mais importantes neste país de 65 milhões de habitantes foram feitas no exterior, por um ex-primeiro-ministro que se exilou desde 2008 para fugir de acusações de corrupção.

O mais famoso fugitivo do país, Thaksin Shinawatra, circula pelo globo em seu jato privado, conversa com os ministros por uma dúzia de telefones celulares, envia mensagens por várias plataformas e lê documentos do governo enviados por email pelos funcionários públicos, segundo membros do partido.

A situação pode ser descrita como um governo via Skype. Ou governança por mensagem instantânea, uma forma de Thaksin ajudar a dirigir o país sem ter que enfrentar um mandado de prisão, resultante de um processo que muitos acreditam ter motivações políticas.

Sua volta ao poder (via controle remoto), mesmo que limitada pela distância, é uma reviravolta notável para o bilionário de telecomunicações ousado que foi deposto em um golpe militar em 2006, o que levou a vários anos de pé de guerra entre críticos e defensores, quatro mudanças de governo e protestos violentos nas ruas que deixaram quase 100 mortos.

Oficialmente, a irmã dele, Yingluck Shinawatra, é a primeira-ministra (ele a nomeou para o cargo em 2011). Mas Thaksin, 63, explora a tecnologia de Internet e telefonia celular de forma a criar uma das formas mais incomuns de governar um país, a partir de suas casas em Dubai e Londres, das minas de ouro que detém na África e em visitas regulares a países asiáticos próximos.

"Podemos entrar em contato com ele a qualquer hora", disse Charupong Ruangsuwan, ministro do interior e secretário-geral do partido de Thaksin, Pheu Thai. "O mundo mudou. É um mundo sem fronteiras. Não é como há cem anos, quando você tinha que usar o telégrafo".

Para ilustrar este ponto durante a entrevista, Charupong pegou seu iPhone e mostrou uma lista de números de telefones de Thaksin. (Thaksin dá diferentes números para diferentes pessoas, muitas vezes dependendo do escalão, segundo membros do partido.)

"Qualquer problema, ligamos para ele", disse Charupong.

O próprio Thaksin recusou-se a falar pelo telefone, ou pelo Skype, para este artigo.

O dia a dia do país é regido por Yingluck, que é simpática, fotogênica e 18 anos mais moça do que Thaksin. Ela corta as fitas de inauguração e faz os discursos.

Yingluck, 45, ocasionalmente tenta minimizar o papel do irmão. Pouco depois de assumir o cargo, quando Thaksin participou via Skype da reunião de gabinete semanal, os repórteres perguntaram quem de fato era o chefe de governo. Yingluck insistiu que ela estava no comando e disse que Thaksin entrou na discussão para oferecer um "apoio moral". Desde então, consistentemente, ela diz que está no comando.

Mas se tem uma coisa que tanto os aliados quanto os inimigos de Thaksin concordam é que ele é quem faz as grandes decisões.

"Ele é quem formula as políticas do Pheu Thai", disse Noppadon Pattama, um alto integrante do partido de Thaksin, que também é seu advogado pessoal. "Quase todas as políticas apresentadas nas últimas eleições vieram dele".

Sondhi Limthongkul, líder do movimento da "camisa amarela" que muitas vezes tomou as ruas em manifestações contra Thaksin, concordou, sorrindo, "ele dirige o espetáculo".

"Se você quiser fazer um enorme projeto na Tailândia, de bilhões de bahts, você tem quer falar com Thaksin", disse Sondhi, que parecia resignado com a situação.

Além do Skype, Thaksin usa vários aplicativos de mídias sociais, inclusive o WhatsApp e Line, para se manter em contato com os líderes do partido, segundo altos membros do partido.

Várias vezes, as sessões de Skype vão parar na mídia tailandesa. Neste mês, Thaksin teve uma conversa de vídeo para discutir as próximas eleições para governador de Bangkok. A conversa de vídeo, que durou uma hora, chegou aos noticiários porque membros do partido informaram que Thaksin disse aos colegas que não importava quem nomeassem, pois até um poste derrotaria a oposição.

Thaksin continua sendo uma figura controversa. Ele tem um grupo de seguidores grande e apaixonado, especialmente entre as pessoas do interior, as quais ele defendeu como primeiro-ministro. As críticas da elite urbana são igualmente apaixonadas. Ela teme que ele e seu partido alterem o status quo que a beneficia, mas também se irrita com o que chama de sua tendência a misturar os assuntos de Estado com a expansão de seu império pessoal e com sua personalidade dominante.

Entretanto, a economia da Tailândia vai bem, apesar da crise mundial, e sua louvada indústria de turismo está ainda melhor do que antes do conflito. Desta forma, os críticos têm maior dificuldade de levar o povo às ruas –mesmo admitindo que o homem que tentaram tirar do poder está governando de longe.

A renascença política de Thaksin também se encaixa, de alguma forma, com a política da Tailândia, que pode ser difícil de explicar para estrangeiros porque algumas vezes parece implausível demais para ser verdade. O general que liderou o golpe de 2006 que depôs Thaksin atualmente é membro do Parlamento e presidente do comitê de reconciliação. E o antigo "rei da sauna", que fez fortuna operando casas de massagem ilegais, hoje é um cruzado contra a corrupção que regularmente expõe casas de jogo ilegais.

O paradoxo para a Tailândia hoje é que, apesar de seu estranho arranjo de governo atual, o país está passando pelo que Thitinan Pongsudhirak, professor de ciências políticas da Universidade de Chulalongkorn e um dos principais pensadores políticos do país, chama de "uma espécie de acomodação inconfortável".

"Há duas formas de ver isso: você pode entender como uma farsa, uma situação ridícula e assunto de muitas piadas: o irmão dá as cartas; a irmã é uma marionete", disse Thitinan em entrevista. "Mas estou começando a ver de forma ligeiramente diferente. Talvez seja a melhor forma de governar a Tailândia".

Muitos tailandeses acreditam que a permanência dele no exterior pode ser melhor tanto para Thaksin quanto para o país, para que as paixões não sejam despertadas.

Charupong, ministro do interior, diz que a distância de Thaksin dá a ele uma perspectiva útil e o iguala ao técnico de um time de futebol (neste caso, dos ministros).

Elaborando sobre as vantagens de ter uma equipe de irmão e irmã no governo, ele disse: "É como ter um primeiro-ministro no país e outro no exterior. E trabalham juntos. Esta é nossa força".

Para algumas decisões, Thaksin insiste em fazer reuniões presenciais. Ele convoca os políticos regularmente para reuniões em sua casa em Dubai e em hotéis em Hong Kong, que ele visita com frequência. Hoje, é um dado da política tailandesa que qualquer um que queira um cargo importante no governo deve viajar para ver Thaksin.

Apesar de ser incomum o papel de Thaksin nas nomeações e decisões políticas para os padrões de outras democracias, os eleitores sabiam o que teriam. Seu partido, Pheu Thai, usou a seguinte como lema na campanha eleitoral de 2011: "Thaksin pensa; Pheu Thai faz".

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