Masoud Ali Mohammad |
Quando o físico Ahmad Shirzad, 49, fala sobre seu colega Masoud Ali Mohammadi, só tem "boas coisas" a dizer. Shirzad, professor na cidade iraniana central de Isfahan fica profundamente comovido quando descreve os "24 anos de amizade" entre os dois, que estudaram física juntos, incluindo um semestre na Itália.
O amigo de Shirzad morreu na última terça-feira (19/1). Ele estava indo dar uma palestra na Universidade Sharif, em Teerã, quando uma motocicleta explodiu ao lado do seu carro.
O assassinato foi um dos mais intrigantes na história da República Islâmica do Irã, onde não faltam homicídios. Seria o professor um importante especialista nuclear? Estaria trabalhando no programa de armas nucleares secretas do Irã? É possível que agentes estrangeiros tenham detonado a bomba para deter o programa nuclear do país?
"Triângulo da Maldade"
Teerã, de qualquer forma, fez tudo o que pôde para dar a impressão que potências estrangeiras estavam por trás do ataque. Ali Larijani, presidente do parlamento iraniano, declarou que Mohammadi era um "especialista nuclear altamente respeitado", enquanto a mídia o chamava de "cientista revolucionário". O Ministério das Relações Exteriores falou de um "triângulo da maldade do regime sionista, EUA e seus agentes contratados". Assim, o martírio de Mohammadi como servidor leal do regime foi assegurado.
Mas porque os agentes queriam matar Mohammadi? Seu amigo Shirzad não se lembrava dele ter feito pesquisa em questões nucleares. A Agência de Energia Atômica Internacional também declarou que Mohammadi não era "funcionário" da agência.
Uma advertência à oposição?
Isso sugere que o assassinato poderia ter sido uma advertência para outras pessoas que poderiam ser tentadas a andar fora da linha. Mohammadi, como muitos cientistas iranianos, estaria tentando deixar o país. Antes das eleições presidenciais de junho, ele fez campanha aberta por Mir Hossein Mousavi, o mais forte opositor do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Seu nome, junto com os de mais de 400 outros cientistas, aparece em um site em defesa do líder da oposição.
Acredita-se inclusive que Mohammadi teria se encontrado com Mousavi. Há relatos dele ter sido preso após o encontro e interrogado por várias horas pela inteligência iraniana. Poucos dias antes de morrer, membros da milícia atacaram-no durante uma discussão do conselho. Os homens do regime são conhecidos por sua abordagem direta: eliminam seus inimigos em falsos acidentes, ou simplesmente atiram contra eles, sequestram-nos ou os espancam até a morte.
Um grupo militante libanês, por outro lado, que tem laços próximos com seus amigos xiitas no Irã, tem experiência no uso de explosivos para liquidar seus inimigos: a Hezbollah, que, com a ajuda de Teerã, tem combatido o arqui-inimigo Israel por anos, a partir de sua base no sul do Líbano. Os membros da Hezbollah também estariam apoiando fanáticos no Irã em seus esforços para calar a "rebelião" verde nas cidades iranianas. No último verão, manifestantes tiveram que enfrentar "árabes" repetidamente em confrontos nas ruas.
Funeral bizarro
O ataque ao professor poderia ter a assinatura do envolvimento da Hezbollah, como especulam membros da oposição? Por outro lado, as agências de inteligência de Teerã poderiam facilmente ter executado uma explosão elas mesmas.
A morte de Mohammadi foi misteriosa, mas seu funeral foi igualmente bizarro. Metade dos quase 1.000 visitantes pareciam pertencer à oposição. Ainda assim, o corpo foi carregado por membros da Guarda Revolucionária, fortemente leal ao sistema.
Independentemente de quem o promotor-chefe de Teerã, Abbas Jafari Dolatabi, apresentar como o assassino, dificilmente pertencerá à Hezbollah ou ao aparato de segurança do governo. No Irã, os membros dessas organizações são considerados acima da lei.
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