Hu Jintao, presidente da China |
Na frente da pompa e circunstância, o governo Obama parece estar empregando grande parte do considerável arsenal de protocolo da Casa Branca.
O presidente chinês receberá dois jantares com Obama: primeiro, uma refeição íntima na Casa Branca na noite de terça-feira, e então um grande jantar de Estado na quarta-feira. Também haverá um almoço no Departamento de Estado, tendo como anfitrião o vice-presidente Joe Biden; uma coletiva de imprensa conjunta com Obama; uma aparição conjunta com o presidente perante líderes empresariais americanos e chineses; e conversas no Capitólio com líderes democratas e republicanos.
Mas a Casa Branca tem se preparado para a visita de outras formas nas últimas duas semanas, enviando vários membros do Gabinete para expor publicamente os desafios para Hu.
O secretário de Defesa, Robert M. Gates, realizou uma série de reuniões mal-humoradas em Pequim na semana passada, dizendo as repórteres de antemão que os Estados Unidos responderiam ao crescimento militar da China no Pacífico aumentando os investimentos em armas, caças e tecnologia.
Na quarta-feira, o secretário do Tesouro, Timothy F. Geithner, disse que os Estados Unidos só concederiam mais acesso à China a produtos americanos de alta tecnologia e expandiriam o comércio e as oportunidades de investimento nos Estados Unidos se a China abrir seu mercado doméstico para produtos americanos. Geithner disse que a China também precisa adotar medidas adicionais para permitir a valorização de sua moeda, o yuan –uma questão que um grupo bipartidário de senadores prometeu na segunda-feira trataria com um projeto de lei neste ano.
Então na sexta-feira, a secretária de Estado, Hillary Rodham Clinton criticou o retrospecto de direitos humanos da China, citando os processos contra o grupo pró-democracia Carta 08, e a prisão de Liu Xiaobo, o ativista político que recebeu o Prêmio Nobel da Paz, mas cuja família foi impedida de atender à cerimônia de entrega do prêmio em Oslo no mês passado.
“Quanto mais a China reprimir as liberdades”, ela disse, “mais as cadeiras vazias dos vencedores do Prêmio Nobel permanecerão como um símbolo do potencial não realizado de um grande país e de sua promessa não cumprida”.
David Rothkopf, um especialista em segurança nacional que trabalhou no governo do presidente Bill Clinton, disse: “Há esta campanha bem orquestrada e claramente bem pensada, ao longo das últimas duas semanas, envolvendo os secretários de Estado, Tesouro, Defesa e Comércio fazendo declarações fortes sobre moeda, desequilíbrio no comércio, direitos humanos e a posição militar da China”. Ele acrescentou: “Então ao receber o líder da potência rival mais importante do mundo na capital, a forma como foi prepara sua entrada na cidade é com esses quatro assuntos importantes e espinhosos”.
A estratégia mais assertiva ocorre após Obama ter sido criticado por parecer ceder à China em sua visita ao país em 2009, e novamente ao permitir que Pequim ficasse com a vantagem contra os Estados Unidos na cúpula do Grupo dos 20, em Seul, Coreia do Sul, no final do ano passado.
Em Seul, em vez de ser pressionada em relação à sua moeda, a China conseguiu persuadir a Europa a se juntar a ele na rejeição de elementos centrais da estratégia de Obama, de estímulo ao crescimento antes dos países se concentrarem na redução do déficit. Além disso, vários países importantes acusaram o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de desvalorizar deliberadamente o dólar em um esforço para transferir os custos dos problemas competitivos dos Estados Unidos aos seus parceiros comerciais, em vez de adotar medidas politicamente difíceis para conter os gastos em casa.
O resultado foi que Obama apareceu no palco mundial como o líder de um país que está perdendo terreno para uma China em ascensão.
Os funcionários do governo estão determinados a não permitir que isso aconteça durante a visita a Washington nesta semana. As pequenas melhorias na economia americana, somadas a um punhado de sucessos políticos de Obama em casa, colocarão o presidente em uma posição mais forte, disseram funcionários do governo e alguns analistas da Ásia.
Mais significativo, eles disseram, é o fato dos funcionários do governo terem concluído que podem desafiar publicamente a China em questões econômicas e de segurança, e ainda assim desenvolver um relacionamento maduro.
Eswar Shanker Prasad, um ex-economista do Fundo Monetário Internacional que agora leciona políticas de comércio na Universidade de Cornell, disse que a China pode ter ajudado a fortalecer a mão do governo. As recentes medidas chinesas para restringir o acesso à sua economia doméstica frustraram tanto as empresas americanas que líderes corporativos estão pressionando o governo Obama a adotar uma posição mais dura.
“Esse é o motivo para Geithner ser tão duro ao dizer que a China precisa fornecer maior acesso ao mercado”, disse Prasad. “Eu acho que o discurso de Geithner estabeleceu o tom muito claramente sobre o que estão tentando fazer. A linguagem é muito clara e estão deixando o ‘toma lá, dá cá’ explícito.”
Hu está trazendo vários líderes empresariais chineses consigo. A “Xinhua”, a agência de notícias chinesa, noticiou que líderes empresariais americanos e chineses assinaram na segunda-feira, no Texas, acordos no valor de US$ 600 milhões, os primeiros daqueles que deverão ser bilhões em acordos comerciais ligados à visita de Hu, incluindo um entre a General Electric e uma empresa estatal chinesa de equipamentos de aviação.
E a Casa Branca destinou 45 minutos na quarta-feira para os dois líderes se encontrarem com líderes corporativos americanos e chineses.
“Estarão presentes presidentes-executivos americanos que têm grandes interesses e investimentos na China”, disse Tom Donilon, o conselheiro de segurança nacional, em uma coletiva na Casa Branca para os repórteres na sexta-feira. “Eu estou certo que haverá discussão sobre como as empresas americanas podem realizar melhores negócios na China, e conversa sobre questões de acesso, que são muito importantes e sobre as quais o secretário Geithner falou em seu discurso.”
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