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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

China receia o nacionalismo japonês

Shinzo Abe
Quando o primeiro ministro do Japão, Shinzo Abe, teve de abandonar sua agenda política nacionalista depois da derrota sofrida nas eleições da Câmara alta em 2007, que levou à demissão, os governantes chineses provavelmente respiraram aliviados. As coisas mudaram desde então.

Em dezembro passado, Abe voltou ao poder em consequência da vitória do PDL (Partido Democrata Liberal) nas eleições gerais, um triunfo que foi reforçado pelo obtido no mês passado nas eleições para a Câmara alta. Agora, tem o controle das duas Câmaras do Parlamento e poderá fazer o que não foi possível em seu mandato anterior: promover a reforma do exército e pôr fim ao pacifismo que o Japão adotou depois de sua derrota na Segunda Guerra Mundial - o que exige modificar a Constituição de 1947 -, com o consequente efeito sobre as sempre difíceis relações com a China.

O dirigente japonês, de 58 anos, decidiu empregar uma dupla estratégia. Por um lado, endureceu a posição sobre os conflitos territoriais marítimos com o país vizinho e defendeu a necessidade de transformar as chamadas Forças de Autodefesa em Exército de grau pleno, diante do que considera um entorno mais ameaçador, devido ao crescente poderio da China e de uma Coreia do Norte imprevisível.

Nesta política se enquadra a apresentação do maior navio de guerra construído pelo Japão desde o conflito mundial, um porta-helicópteros de 248 metros, capaz de transportar nove aparelhos, cuja entrada em serviço está prevista para 2015. Por outro lado, Abe ofereceu um ramo de oliveira a Pequim, que por enquanto parece não tê-lo aceitado.

Abe propôs aos líderes chineses a realização de uma cúpula de chefes de estado e de ministros das relações exteriores "assim que seja possível (...) sem condições prévias", com o objetivo de acalmar estes tempos turbulentos.

Os laços entre os dois países são tradicionalmente frágeis devido à brutal ocupação da China por parte das tropas imperiais japonesas, que concluiu com a derrota do Japão no final da Segunda Guerra Mundial; mas se acentuaram em setembro do ano passado, quando eclodiu a disputa sobre a soberania de um grupo de ilhotas inabitadas no mar da China Oriental, cujas águas podem conter importantes reservas de gás.

O arquipélago, conhecido como Diaoyu na China e Senkaku no Japão, é controlado pelos nipônicos há mais de um século, mas foi fonte de atrito entre os dois países durante décadas.

O Ministério das Relações Exteriores chinês respondeu a Tóquio que suas portas estão sempre abertas para o diálogo, mas insistiu que a questão está na atitude de Tóquio e sua "falta de vontade para enfrentar os graves problemas" que existem entre ambos.

O presidente chinês, Xi Jinping, afirmou na semana passada em uma reunião do birô político que Pequim quer resolver de forma pacífica seus confrontos territoriais marítimos, mas que não fará concessões sobre sua soberania e precisa incrementar suas capacidades defensivas.

Desde que chegou ao poder, Abe adotou uma posição dura na disputa sobre as ilhas. Os dois países mergulharam em um jogo de gato e rato. Enviaram aviões de combate à zona em diferentes ocasiões e ordenaram que barcos de vigilância supervisionem as atividades do outro, com o consequente risco de que um choque acidental produza uma escalada do conflito. Os EUA deixaram bem claro que as ilhas estão incluídas em seu tratado de segurança com Tóquio.

O Japão se desculpou de forma rotineira por seus atos de guerra, mas seus políticos provocam com frequência a ira de Pequim com suas visitas ao santuário de Yasukuni, em Tóquio, onde se homenageiam os mortos na disputa, entre eles criminosos de guerra.

A afirmação de Abe de que quer rever a desculpa oferecida pelo Japão em 1995 sobre suas agressões militares e seu questionamento de até que ponto as mulheres coreanas e chinesas foram obrigadas a fornecer serviços sexuais aos soldados japoneses durante a guerra colocaram mais lenha na fogueira.

Por enquanto, Abe deu sinais de que não irá a Yasukuni este mês, uma data tradicional de recordação, 15 de agosto, aniversário da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial. China e Coreia do Sul são especialmente sensíveis às visitas dos líderes japoneses ao santuário, e mantendo-se à margem Abe espera facilitar a celebração de uma futura cúpula com Xi Jinping e reproduzir um dos poucos êxitos de seu curto mandato de 2006-2007, quando descongelou as relações entre os dois países depois de cinco anos de tensão durante o governo de seu antecessor, Junichiro Koizumi.

Não está claro se Xi assumirá o risco e como responderá à iniciativa do dirigente japonês. A imprensa chinesa atacou Abe nas últimas semanas e o Ministério das Relações Exteriores o acusou de estar "entoando slogans vazios". Alguns acadêmicos chineses afirmam que Abe não é sincero em sua oferta. Segundo dizem, por um lado pretende conter a China e por outro busca criar a ilusão diante do público doméstico e internacional de que quer negociar e que são os chineses quem resiste.

Pequim negou que haja contatos para realizar uma cúpula, e o jornal em inglês "China Daily" afirma que o governo a descartou. Os mandatários chineses podem querer antes garantias de que Abe não visitará Yasukuni quando terminar a cúpula, se esta vier a ocorrer, já que se o fizesse deixaria Xi em uma posição muito delicada diante da opinião pública chinesa.

Videogame para matar 'diabos'
Se a temática de um videogame pode ser um indício do estado das relações entre China e Japão, estas atravessam um mau momento. A companhia chinesa Giant Interactive desenvolveu um jogo em rede em colaboração com o EPL (Exército Popular de Libertação) chinês, cujos participantes têm como objetivo arrasar os "guizi" (diabos), termo pejorativo usado na China contra os invasores japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.

Missão Gloriosa, lançado em 1º de agosto e coincidindo com o aniversário de fundação do Exército Popular de Libertação, não deixa lugar a dúvidas sobre sua intenção e seu tom nacionalista. Permite defender de forma virtual as ilhas do mar da China Oriental que são disputadas pelos dois países. "Os jogadores lutarão ao lado do EPL, de armas na mão, e pedirão aos japoneses: 'Não violarão nosso território soberano'", indica o site do jogo na web.

Segundo a Giant Interactive, o exército chinês estava interessado em ter um jogo em 3D interativo para realizar simulações mediante réplicas virtuais de seu armamento, com o objetivo de que os aficionados não tenham que recorrer ao célebre jogo Call of Duty e fazer o papel de fuzileiros navais americanos que disparam contra russos e outros.

Em seu lugar, são soldados chineses que batalham, por exemplo, do convés do Liaoning, o primeiro porta-aviões chinês, em uma luta "de vida ou morte", ou na defesa de Xangai, que terminará com a frase: "Os diabos foram destruídos".

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