A apenas dois meses das eleições federais da Alemanha, o Partido Social Democrata de oposição está lutando para reverter sua má posição nas pesquisas de opinião.
Pelo menos 15 pontos percentuais atrás dos conservadores da chanceler Angela Merkel, a liderança do partido está tentando tocar em qualquer assunto que acredita poder render votos. Uma dessas questões é a oposição do público contra os aviões teleguiados armados.
No mês passado, o comitê executivo dos social-democratas decidiu "se opor à aquisição e ao uso de aviões teleguiados armados e proibir sistemas de armas que sejam totalmente automáticos". Ele esperava que este fosse um assunto muito popular.
"Dá para perceber o motivo", disse Elizabeth Quintana, chefe de tecnologia militar e estudos de informação no Royal United Services Institute, em Londres. "Há uma reação instintiva aos aviões teleguiados armados na Alemanha. Os alemães são contra o uso da força."
Há outro motivo pelo qual os social-democratas estão se agarrando a questão dos teleguiados. O partido quer constranger o governo, especialmente Thomas de Maizière, o ministro da Defesa e um dos aliados mais leais de Merkel.
Maizière havia se envolvido recentemente num escândalo sobre o desenvolvimento do sistema teleguiado armado Euro Hawk, uma versão do teleguiado norte-americano Global Hawk.
Depois que as forças armadas da Alemanha havia gastado mais de US$ 790 milhões no projeto, descobriu-se que o Euro Hawk não tinha certas capacidades técnicas que os americanos não estavam dispostos a compartilhar. Além disso, os teleguiados não tinha sido aprovados para voar no espaço aŕeao civil ou militar europeu. Depois que essa história foi divulgada, ficou claro que o exército alemão empreendido o seu programa de teleguiados com quase nenhuma transparência quanto aos custos e viabilidade.
Maizière até agora resistiu aos pedidos para sua renúncia. O escândalo, entretanto, tem inflamado a oposição pública contra o uso de teleguiados. Mas a controvérsia disfarça várias questões que terão de ser tratadas, independentemente do partido que vencer em setembro.
"Uma é o aspecto tecnológico", disse Markus Kaim, chefe de pesquisa e analista de segurança do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança, em Berlim. "A Alemanha está ficando para trás. Além dos Estados Unidos e de Israel, muitos países têm ou estão desenvolvendo teleguiados armados, como a Inglaterra, China e Índia."
Na prática, isso significa que a distância tecnológica entre a maioria dos países da Otan que não têm teleguiados e os Estados Unidos vai aumentar ainda mais, aumentando as tenões na aliança, dizem especialistas. Outra questão é a falta de discussão na Alemanha sobre as diferenças aviões teleguiados de combate e de vigilância, e a utilização de cada um.
"Sobre a questão dos teleguiados, nenhum governo alemão tem qualquer intenção de usar teleguiados da forma como os EUA fazem", disse Kaim acrescentou, referindo-se à forma como a administração Obama tinha usado os teleguiados de combate para atacar e matar suspeitos de terrorismo no Paquistão e no Iêmen.
Embora os especialistas em defesa do Parlamento alemão aceitem que os teleguiados armados poderiam ser usados para proteger as tropas alemãs, por exemplo, no Afeganistão, o público está desesperado com medo de que o uso de teleguiados reduziria uma relutância profunda ao uso da força.
Oliver Meier, pesquisador do Instituto de Pesquisa para a Paz e Política de Segurança da Universidade de Hamburgo, argumenta que os soldados que operam os teleguiados à distância podem ter menos inibições ao usá-los se estivessem expostas ao perigo.
Implicitamente, ele questiona se os teleguiados podem fazer com que os alemães aceitem o uso da força mais facilmente. "Esta é uma nova forma de fazer a guerra que poderia ter amplas consequências", disse Meier disse recentemente.
Mas, à medida que os teleguiados se tornam parte do arsenal de guerra moderno, os social-democratas podem pedir uma estrutura jurídica europeia para regular seu uso. Até agora eles não conseguiram fazer isso – assim como o governo de centro-direita de Merkel e outros governos europeus.
Países europeus "estão essencialmente alheios enquanto nasce a era do arsenal de teleguiados", disse Anthony Dworkin, autor de um novo relatório sobre os teleguiados para grupo de pesquisa do Conselho Europeu de Relações Exteriores. Um dos motivos é que os europeus estão divididos sobre o uso dos teleguiados. Outro é que, se a União Europeia fizesse um debate sobre o uso de teleguiados armados, isso significaria criticar o governo Obama.
"Os europeus estão divididos entre uma relutância em acusar Obama de violar a lei internacional e uma falta de vontade de aprovar suas políticas, divididos entre si e em alguns casos ligados aos EUA por meio de relações estreitas de inteligência", disse Dworkin.
Analistas de segurança dizem que essa relutância para forjar uma posição comum é míope. Se a União Europeia baseia sua política externa nos direitos humanos e no Estado de Direito, os Estados membros deveriam concordar que uma estrutura jurídica é necessária, em vez de sistema em que vale tudo.
Além disso, este pode ser o momento de envolver os Estados Unidos. O presidente Barack Obama anunciou recentemente regras mais rígidas para o uso de teleguiados num grande discurso sobre a guerra contra o terrorismo.
Os europeus – e os alemães em particular – poderiam ter usado esse discurso para começar um debate transatlântico sobre o uso de teleguiados armados, disseram especialistas. Mas não o fizeram. Em vez disso, os analistas acreditam que a Alemanha está jogando para ganhar tempo antes de abordar o assunto. "A questão dos teleguiados é uma questão eleitoral", disse Kaim.
E quando a eleição terminar? Se a coalizão de Merkel for reeleita, Maizière já anunciou um novo programa de teleguiados armados. Mas nenhum dos problemas que surgiram por conta do Euro Hawk foram resolvidos – muito menos a hostilidade do público em relação a esta nova classe de armas.
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