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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Editora-chefe da Russia Today: "O Ocidente nunca superou o estereótipo da Guerra Fria"

Margarita Simonyan
Margarita Simonyan, 33, é editora-chefe da rede de notícias via satélite financiada pelo estado Russia Today. Em uma entrevista à Spiegel, ela afirma que os jornalistas ocidentais preferem pintar a Rússia como um agressor malévolo e que sua emissora não é um veículo para a propaganda do governo.
O presidente russo, Vladimir Putin criou uma anti-CNN para o público ocidental com a rede de notícias internacional via satélite Russia Today. Ele encarregou a rede de "quebrar o monopólio dos meios de comunicação de massa anglo-saxões". O governo parece estar tendo sucesso em sua tarefa, e a rede está conquistando mais espectadores em grandes cidades dos Estados Unidos do que qualquer outra emissora estrangeira.

Em Washington, 13 vezes mais telespectadores estão sintonizados com a Russia Today do que com a equivalente alemã Deutsche Welle. Um total de 2 milhões de ingleses assistem a programação. No Youtube, a emissora com sede em Moscou superou recentemente o marco de um bilhão de hits, tornando-se a primeira emissora do mundo a fazer isso. A editora-chefe Margarita Simonyan, 33, vê a emissora como uma espécie de ministério da defesa da mídia para a Rússia.

Spiegel Online: Sua rede se vê como um contrapeso às principais emissoras dos Estados Unidos. Como você conseguiu caçar logo o ícone da CNN Larry King, de 79 anos?
Simonyan: Você teria que fazer essa pergunta a ele, mas eu sei que ele está feliz de voltar ao trabalho.

Spiegel Online: O que a Russia Today pode oferecer a King que outros não podem?
Simonyan: Posso citar uma entrevista que ele deu recentemente: "Eu achei que poderia me aposentar, mas amo meu trabalho. Achei que não sentiria falta, mas sinto."

Spiegel Online: Sua rede é financiada pelo governo russo. Qual é a sua missão?
Simonyan: Se você sintonizar a CNN ou a BBC num dia normal, 80% ou 90% das matérias são idênticas. Queremos mostrar que há mais histórias por aí do que as dez por dia que você costuma ver. Eu não estou dizendo que você deve assistir apenas à nossa programação; mas que você também deve assisti-la.

Spiegel Online: A mídia russa tem uma abordagem um pouco mais dramática sobre seus objetivos. Muitos estão comparando a rede ao Ministério da Defesa. Você mesma disse, quando a Rússia vai para a guerra...
Simonyan: ...então vamos nos juntar ao país na batalha, sim. Isso vale para os conflitos armados reais do país. Você se lembra da guerra de agosto de 2008? Na época, a maioria dos meios de comunicação ocidentais agiu como se fossem Ministério da Defesa da Geórgia.

Spiegel Online: Em 2008, tropas russas invadiram o território da Geórgia depois de o presidente Mikheil Saakashvili deu ordem para atacar a Ossétia do Sul, uma república separatista com laços estreitos com a Rússia.
Simonyan: Todas as emissoras ocidentais deram apenas o lado georgiano da história. Saakashvili foi destaque em todas as redes; suas declarações foram transmitidas em todos os programas. Foi dito que a Rússia começou a guerra.* Foi dito que as tropas do país bombardearam um mercado movimentado na cidade de Gori. Nós imediatamente enviamos nossos correspondentes para lá, e eles não encontraram nenhum vestígio tiroteio ou bombardeio. Emissoras ocidentais concentraram toda a sua cobertura sobre o sofrimento dos civis da Geórgia. Não houve menção aos habitantes da Ossétia do Sul, que enquanto isso sofriam ataques de artilharia noturnos nas mãos de Saakashvili. Era propaganda pró-georgiana, pura e simples.

Spiegel Online: Não foi tão unilateral. A Spiegel, por exemplo, informou no início que tinha sido Saakashvili que havia disparado o primeiro tiro. Um comitê da União Europeia chegou à mesma conclusão.
Simonyan: Claro, mas só depois! Mas quantas de fato leram o relatório da UE (União Europeia)? A maioria das pessoas até hoje acredita que a Rússia começou a guerra totalmente sem ter sido provocada. A malévola Rússia se lança sobre a pobre Geórgia.

Spiegel Online: Não é raro ver a Rússia no papel do agressor.
Simonyan: Objeção! A Rússia não havia iniciado uma guerra com outro país em 20 anos. Em quantos conflitos armados os Estados Unidos se envolveram no mesmo período? De quantas guerras a Europa participou?

Spiegel Online: Como você explica imagem negativa da Rússia?
Simonyan: O Ocidente nunca superou o estereótipo da Guerra Fria. Uma coisa que poucos jornalistas entendem é que a Rússia começou a dissolução da União Soviética por conta própria. Fomos nós que percebemos que o comunismo foi um fracasso. Entendemos que era errado impor nossa vontade sobre outras nações. Libertamos o bloco oriental. Somos um país diferente hoje, com uma mentalidade diferente – o que é algo que os jornalistas ocidentais às vezes acham difícil de compreender. Você, por exemplo, disse antes que a Rússia estava agindo agressivamente, sem sustentar isso com fatos.

Spiegel Online: O objetivo da Russia Today é fornecer reportagens objetivas? Ou é em primeiro lugar simplesmente oferecer uma prespectiva diferente daquela da mídia ocidental?
Simonyan: Você já viu muitos exemplos de informação objectiva em geral?

Spiegel Online: Há esforços para ser objetivo. Mas sua rede cobre apenas um lado, oferecendo ao ditador sírio Bashar Assad uma plataforma para sua mensagem política.
Simonyan: Há pessoas que se referem aos oponentes políticos de Assad como a "oposição democrática". Até os rebeldes, entretanto, estupraram mulheres e assassinaram crianças. Veja Saakashvili, por exemplo. Ele é tido como um herói pela BBC. Para outros, ele representa um opressor da liberdade. Não há objetividade – apenas aproximações da verdade por tantas vozes diferentes quanto possível.

Spiegel Online: A oposição russa raramente é destaque em sua rede, a não ser como alvo de campanhas de difamação. Você até acusou o blogueiro e dissidente russo Rustem Adagamov de pedofilia sem prova alguma.
Simonyan: Por que nós noticiamos sobre Adagamov? Porque ele estava se posicionando publicamente como um ativista pela justiça.

Spiegel Online: As acusações contra ele são baseadas unicamente em declarações de sua ex-mulher, que diz que ele abusou sexualmente de uma menor de idade na Noruega há muitos anos. As autoridades se recusaram a fazer acusações contra ele devido à falta de provas.
Simonyan: Nós não o julgamos, nós simplesmente transmitimos uma matéria. Também tentamos obter uma declaração da esposa e do próprio Adagamov. Será que a mídia alemã vai se abster de cobrir um ativista político acusado de abusar sexualmente de uma menina de 12 anos? Eu mesma conversei com a esposa, e certamente não tive a impressão de que ela era louca.

Spiegel Online: Como é que se explica que sua rede foi a primeira a transmitir imagens da prisão de um espião da CIA em Moscou, em maio? Com que proximidade das autoridades você trabalha?
Simonyan: Recebemos essas imagens de uma agência da mesma forma que qualquer outra rede de televisão russa. Não era material exclusivo. Nós simplesmente fomos mais rápidos em publicá-las do que os outros.

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