Muhammad Abu Hashem, 17, estava dormindo de regata quando soldados israelenses invadiram sua casa às 4h da manhã em uma segunda-feira de julho.
Enquanto o garoto era levado, a mãe de Muhammad corria atrás dele com uma camisa de mangas compridas: ambos sabiam que a sala de interrogatório estaria gelada.
Essa foi a quarta detenção de Muhammad em três anos por atirar pedras contra soldados e colonos israelenses. Seus cinco irmãos já enfrentaram acusações parecidas. No ano passado, três filhos e o pai da família Abu Hashem estavam na prisão no mesmo período.
"As crianças têm hobbies e o meu é atirar pedras", explicou Muhammad semanas antes de sua prisão mais recente.
Depois que negociadores palestinos e israelenses retomaram o diálogo recentemente em Washington, os atiradores de pedras se tornaram um lembrete das tensões que animam as relações entre os dois povos que habitariam os dois Estados que convivem lado a lado.
Jovens atirando pedras são, há muito tempo, um símbolo constante da reação palestina contra Israel: recente relatório das Nações Unidas afirmou que 7.000 menores com idades a partir de nove anos foram detidos entre 2002 e 2012.
Aqui em Beit Ommar - vilarejo de 17 mil habitantes entre Belém e Hebron, cercado por assentamentos sionistas-, atirar pedras é como um rito de passagem.
O que conta não é a futilidade das pedras que batem nos veículos blindados: o importante é a confrontação.
O comandante do Exército israelense na região contabiliza entre 5 a 15 incidentes envolvendo pedras atiradas todas as semanas. A detenção de Muhammad e de seu pai, Ahmad, no dia 8 de julho, elevou a 45 o número de habitantes de Beit Ommar que foram detidos desde o início de 2013.
Menuha Shvat, que vive em um assentamento da região desde 1984, já perdeu a conta de quantas pedras atingiram as janelas reforçadas de seu carro. "É uma loucura: vou buscar uma pizza e entro em uma zona de guerra", afirmou Shvat, que conhecia um homem e o filho de um ano que perderam a vida depois que o carro capotou ao ser alvejado por pedras em 2011.
"É uma brincadeira que pode matar", disse.
Em uma sexta-feira de julho, dois soldados montavam guarda no alto de um morro, centenas de metros vilarejo adentro. Cinco guardas de fronteira estavam embaixo de uma oliveira, próximo ao mercado de frutas. Mais soldados se aglomeravam sobre telhados, em jipes do Exército e no meio da estrada.
Três jovens com estilingues se escondiam entre as árvores e o irmão mais novo vigiava. Eles giravam suas lançadeiras improvisadas uma, duas, três, quatro vezes por sobre os ombros, e as pedras desapareciam no horizonte. Duas pedras, depois cinco e sete. O menino avisou que os soldados estavam se aproximando, e os jovens bateram em retirada.
Três pessoas foram presas no domingo seguinte. Naquela noite, Muhammad Abu Hashem dormia, enquanto o pai e os irmãos mais novos vigiavam o telhado.
O patriarca, Ahmad Abu Hashem, grava as prisões e os confrontos em vídeo e envia o material para um grupo de defesa dos direitos humanos.
Seu celular tocou às 3h45: 13 jipes estavam entrando no vilarejo. Ele se preparava para seguir o comboio quando a viela se encheu de gritos: "Soldados, soldados!". O grupo vinha em busca dele e do filho.
Os soldados se reuniram na entrada da casa e dez homens invadiram a sala. Muhammad se juntou aos dois irmãos e ao primo no sofá, enquanto os soldados examinavam os documentos do pai. Em seguida, pediram os documentos do filho.
A operação toda durou oito minutos. Os jipes ainda não tinham saído do beco quando as pedras começaram a cair novamente.
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