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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A difícil desmobilização dos combatentes na Líbia


Rebeldes líbios durante a Batalha de Sirte
Terminados os combates na Líbia, os combatentes da katiba [brigada] Al-Badr continuam a ir todos os dias para a sede de sua brigada, instalada em uma bela mansão da periferia de Misrata, desapropriada pelo Ministério da Agricultura.
“Não há muitas outras coisas para se fazer”, admite Ahmed Issa. “As aulas na universidade ainda não voltaram, e muitas empresas continuam fechadas.” Para esses jovens “ex-combatentes”, após oito meses de vida em comum, de combates, de alegrias e tristezas, é difícil se desligar.
Os homens da katiba Al-Badr se esparramam no primeiro andar, em um grande salão rococó cor de pistache. Enquanto a grande TV de tela plana, permanentemente ligada no canal de Qatar, a Al-Jazeera, solta sua cota de informações, correm conversas sobre o futuro.
Os thuwar, apelido pelo qual se chamam os combatentes da revolução, acabam de tomar conhecimento do formulário distribuído por seu comandante. Eles respondem às perguntas, escrevendo demorada e cuidadosamente: duas páginas frente e verso de informações (estado civil, qualificação, situação pessoal, profissão, salário, etc.) e desejos que por fim se resumem a uma pergunta: “Você deseja fazer parte do futuro exército nacional líbio?”
Embora a katiba Al-Badr fosse uma das primeiríssimas a terem sido criadas em Misrata, ela continua tendo um tamanho relativamente modesto com seus 360 homens, muitos bastante jovens, estudantes em sua maioria. Mais de 300 deles querem voltar à vida civil.
“Em Misrata, todos têm a esperança de fazer bons estudos, encontrar um trabalho qualificado”, diz Ahmed, que acaba de concluir seu curso de professor. “O exército é para aqueles que não têm nada melhor”. “Acima de tudo”, diz um colega, “não fomos feitos para a vida militar. Isso exige muita disciplina. Amamos a liberdade.”
Os métodos do desmantelamento das miríades de katibas que surgiram por causa da guerra civil ainda não são conhecidos, mas Ahmed Issa não está preocupado. “As coisas vão se dar aos poucos. A universidade vai voltar depois do Aid Al-Kebir, os estudantes vão embora. Depois as administrações retomarão o trabalho e, por fim, as empresas públicas e privadas. As coisas serão feitas aos poucos”.
E as armas? Todos garantem que respeitarão a lei e devolverão suas Kalashnikovs – “cada arma é registrada”, explica o comandante – assim que lhes forem pedidas. “Nós nos tornamos combatentes pela força das coisas, não por vocação”, eles juram. Alguns gostariam de mantê-las, a título de “lembrança”: “O comandante nos disse que isso seria possível, depois de neutralizá-la tirando o percussor”, acredita Ali Harbouch. Ele volta a mergulhar no questionário: “Em caso de retorno à vida civil, o que você gostaria de mudar em sua situação? Você deseja uma nova formação? Em que área?” Ao contrário de seu antecessor, o novo primeiro-ministro Abdel Rahim Al-Kib tomou o cuidado de lidar com o lobby dos ex-combatentes logo em seu primeiro pronunciamento público, anunciando que o processo de desarmamento seria feito com “todo o respeito” necessário.
Mahmud Jibril, chefe do poder Executivo do Conselho Nacional de Transição (CNT) atual, desde que se instalou em Trípoli havia alienado os combatentes, ao exigir que eles passassem a se submeter à sua autoridade e não mais à de seu chefe de katiba ou do conselho militar de sua cidade.
Em uma Líbia fragmentada pelo conflito e por anos do “dividir para reinar” de Muammar Gaddafi, somente as instâncias locais são legítimas. Misrata não é exceção. Mais que o chefe do conselho militar da cidade, Ramadan Zarmouh, é o comandante local, Salem Joha, que recebe o apoio da tropa. Um ex-militar de carreira, louvado pela coragem e pela franqueza.
O comandante Mohammed Haddad também é um militar de carreira. Ele recebe seus convidados no caminhão de transmissão tomado do exército do coronel Gaddafi. O veículo fica no meio do pátio da fábrica de móveis que serve de caserna para sua brigada, a katiba Halbous, uma das mais numerosas e mais bem armadas de Misrata.
Mas o caminhão, climatizado e equipado com uma série de antenas e transmissores, não é o único troféu da katiba Halbous. Quatro lança-mísseis Scud estão estacionados em frente ao portão de entrada, um deles equipado até com um míssil. “Os outros, esse desgraçado do Gaddafi atirou sobre Misrata”, comenta o comandante. Visada uma meia dúzia de vezes, a cidade escapou dos temíveis mísseis, que caíram no mar ou foram destruídos pela frota da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no Mediterrâneo.
O comandante Haddad explica com orgulho que, no início dos combates, sua katiba só dispunha de algumas Kalashnikovs. Sete meses mais tarde, ele controlava um Scud, alguns mísseis solo-ar Volga, tanques e veículos de transporte de tropas.
Esse arsenal, que foi reagrupado na base aérea militar da cidade, foi tomado em combates e, sobretudo, em depósitos de armas das cidades conquistadas. As 320 katibas de Misrata, reunindo cerca de 15 mil combatentes, segundo o conselho militar da cidade, tiveram um papel preponderante na ofensiva contra Trípoli, mas também Zliten, Tarhouna, Bani Walid, Sirte e o oásis de Jouffra.
A cidade, se considerada com um conjunto coerente, provavelmente constitui a principal força militar da Líbia. Ramadan Zarmouh, que controla todos os comandantes de katibas, não quer detalhar o arsenal da cidade, “por razões de segurança”.
“Parem de nos apresentar como se fôssemos um país independente”, diz Zarmouh. “Misrata faz parte da Líbia, nós nos submetemos às ordens do CNT. Essas armas pesadas serão todas devolvidas ao futuro exército líbio”. Sim, mas quando? “Quando a Líbia dispuser de um Estado de direito e de instituições sólidas”, ele diz. Portanto, não antes de um ou dois anos.

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