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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O Cairo revela os "soldados da praça Tahrir", uma geração de jovens educados na guerrilha


Hoje poderá ser um dia muito violento no Cairo. A praça Tahrir está cheia, e duas manifestações antagônicas querem confluir nela: uma contra a Junta Militar que governa o país e a outra, organizada nos subúrbios e com provável apoio policial, a favor do exército. O ambiente é muito tenso, as eleições continuam convocadas para segunda-feira e milhares de jovens se acostumaram às batalhas que já deixaram 39 mortos.

O processo revolucionário e os constantes choques com a polícia criaram uma geração de jovens educados na guerrilha urbana. "Em janeiro e fevereiro foi preciso defender a praça Tahrir e outras do país onde se concentravam o protesto, e surgiram grupos especializados em proteger as manifestações. A violência criou soldados", explica Gazel Abdel Ruzek, um dos diretores da Iniciativa Egípcia para os Direitos Pessoais, um grupo que promove os direitos humanos.

Essas são as pessoas que nos últimos dias enfrentaram a polícia perto do Ministério do Interior. São jovens como Ali, torcedor do Al Ahly Sporting Club, um dos times de futebol do Cairo, que pode ser definido como um "hooligan". Ou como Kamel, que torce para o Zamalek (embora use uma jaqueta do Milan) e sente simpatia pela Fraternidade Muçulmana. Um terceiro jovem, que prefere não dizer seu nome e parece tremendamente excitado, afirma que não abandonará a praça Tahrir "enquanto a polícia não desaparecer". Os três têm menos de 20 anos e procedem de bairros pobres. Kamel afirma que os policiais egípcios são assassinos. Os outros dois concordam.

Os três afirmam que não são eles que atacam as forças antidistúrbios, mas o contrário.

Gazel Abdel Ruzek lhes dá razão: "Não é verdade que esses grupos tentem tomar de assalto o Ministério do Interior, seu objetivo é manter a polícia fora da praça". Os choques entre a polícia antidistúrbios e os jovens se concentraram na rua Mohamed Mahmud, onde ontem o exército instalou uma barricada com blocos de cimento e arame farpado para separar os dois lados. Existem, porém, outros acessos à sede do Ministério do Interior, o símbolo mais poderoso da repressão. As outras ruas permanecem relativamente tranquilas e se pode caminhar por elas, até topar com barreiras de veículos militares que fecham a passagem. Isso parece confirmar que não houve tentativas organizadas de atacar o edifício.

"Os soldados da praça Tahrir são um grupo muito unido desde janeiro e fevereiro, mas entre eles não há ligações políticas: simplesmente desempenham a mesma função e desenvolveram uma camaradagem muito intensa em situações muito difíceis. No grupo há torcedores de futebol radicais, islâmicos, rapazes muito pobres e marginais, mas também alguns jovens de classe média alta com estudos e com emprego", explica Ruzek. "Estão habituados às balas de borracha, ao gás lacrimogêneo e às surras, não têm medo", acrescenta.

Ali, Kamel e o terceiro jovem vivem em bairros diferentes e dizem que não se conheciam. Eles se conhecem desde dezembro passado, quando participaram de manifestações em bairros periféricos que a imprensa internacional não chegou a detectar. Ali teve o primeiro contato com os dois no início de janeiro, na barricada junto ao Museu Egípcio. Costumam comunicar-se por SMS. Os soldados têm comandos? Os três se mostram evasivos. "Não há chefes", afirma finalmente Kamel. "Alguns jovens pensam que os chefes somos nós", explica Ali. Entre a "força de choque" dos manifestantes há adolescentes, quase meninos.

Nos momentos de trégua brincam, sobem uns nos ombros dos outros, se perseguem e cantam slogans. O que querem? "Que Tantaui saia." "Não, que o enforquem." "Não, eu mesmo quero matá-lo."

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